Ele a levou para cama naquela noite.
Não havia ninguém na casa a não ser ele e ela, e durante o dia inteiro ambos partilharam do verdadeiro significado da palavra “felicidade”. Sentaram no sofá, assistiram filme, mudaram de canais na televisão por tantas vezes que já estavam rindo da ação. Observaram os desenhos, e comentaram todos os detalhes – como o gato arranjou uma arma de alta tecnologia em pleno velho oeste? Mudaram de canais por mais três vezes antes de apertar o botão “mute” e contemplarem o rosto um do outro.
Sob a tarde chuvosa daquela Quinta-Feira, os dois se beijaram tão calma e despreocupadamente. Não houve pressa, não houve precipitações, não havia o que mudar naquele beijo, porque era aquele o ato mais perfeito e ideal de suas vidas. O beijo. É fato que a intensidade da garota exigia mais, no entanto ele a acalmava e deixava claro que estava tudo perfeito demais, e portanto não havia necessidade de intensificar o toque dos lábios. Entendem? Tudo o que mais importava era, essencialmente, o beijo, e se aquele era o toque mais importante, o porquê de avançar logo? A garota então entendeu a essência dos pensamentos dele, e o acompanhou no ritmo calmo e supremo de satisfação.
Descolaram então as bocas e sorriram. Ele acariciou a aveludada face dela e repetiu o movimento por tanto tempo, que a garota sequer percebeu os minutos transcorrerem. Ela sentia-se bem com aquilo, mas não fazia ideia do quão maior era o bem-estar dele. O garoto a amava, com todas as suas forças e com cada fibra existente de seu corpo e cada partícula de sua alma. Ele a amava, e dane-se as explicações metalinguísticas que tal amor implicava. Amor era amor – sem mais explicações.
Então a noite logo desceu envolvendo as horas finais do dia claro. Ele a segurou entre os braços, envolvendo com extrema delicadeza e devoção – ela mais parecia uma deusa ou divindade celestial. Carregou-a até o quarto, e com as luzes apagadas e a leve brisa rompendo a janela lateral, o garoto deitou-a na cama com uma tranquilidade ainda mais acentuada da qual a havia tomado pelos braços.
Juntos, lado a lado, os dois trocaram olhares. E sem uma palavra sequer, disseram tudo o que havia de ser dito através das expressões e dos leves selinhos que trocavam a cada quinze segundos. Naquelas atitudes permeneceram pelas horas iniciais e serenas da noite de quinta-feira, nada fizeram, nada disseram – não teve necessidade, não era preciso, já que o simples fato de estarem juntos já superava qualquer atitude física e carnal. E durante este envolvimento espiritual e emotivo o garoto imaginou o que seus amigos o incentivariam, bem como toda a comunidade masculina-científica, ou até mesmo seus hormônios mais primitivos. Era a oportunidade perfeita para a concretização de um fato sexual. Sim, o garoto imaginou isso – ele não era de todo perfeito. Mas, ele apenas imaginou, e não cogitou fortemente a possibilidade. Qual a razão disto? Ele a amava, e justamente por isso sabia que o maldito sexo e o envolvimento carnal não era o que ele desejava ou planejava. Estar com ela, tê-la diante de seus olhos e sob o toque superficial de seus dedos era bem mais importante e enfático.
Sim. Naquela noite de Quinta-Feira, ele levou a garota que mais amava para cama, mas não precisou agir sob atitudes medíocres para provar sua masculinidade. Era ridículo. O amor que sentia por ela superava qualquer coisa, e tudo – aquele garoto, ou em outra perspectiva: eu – necessitou apenas da simples ideia de tê-la diante de si, causando nele a sensação mais substancial do mundo: seu coração batia, e seus olhos tinham a vontade de transbordar de tanta emoção.
Naquela noite, os dois adormeceram lado a lado.
Naquela noite, o garoto a amou do seu jeito.
Era tudo o que importava.