27 de junho de 2012

Outra vez Utopia



E estas lágrimas que embaçam meus olhos? Expressam a dor, gritam o quanto estou saturado de viver. Parece que o mundo decidiu me foder em uma semana apenas, dando todos os xeques num curto período de 7 dias. Eu estou enfurecido, ao mesmo tempo que choro, eu soco a parede. Eu quebro as coisas, perco o controle. Minha mãe pergunta se estou ficando doido. To sem controle, de volta um ano atrás. Não vejo solução, não vejo sentido. As coisas vivem dando errado, e não é modo de falar ou jeito de dramatizar. Nada anda dando certo, de jeito nenhum. Perdi a paz, perdi felicidade. Vivo nessa tristeza profunda. E cada vez mais aquele sentimento de suicídio preenche minha cabeça. Não é por causa de uma garota, não é desilusão amorosa. É a união de várias coisas, as grandes merdas que me aconteceram nos últimos 4 anos. Na boa, vocês vivem me dizendo que devo sair e viver a vida, que sou jovem. Mas vocês não sabem de nada, porque eu nunca falei o que realmente se passa comigo. Nem para o meu melhor amigo. Então prefiro manter assim. Foda-se o que vocês pensam. Vão tudo tomar no cu de vocês. Que se foda. Se eu quiser desistir da vida, se eu quiser me matar. Não é problema de vocês. Nunca foi.

Pragmático



Acho que não vou deixar uma carta. Talvez um bilhete, uma coisa simples do que quero que façam por mim. A senha do meu computador e das redes sociais, pra dizerem “sentiremos saudades”. Não tenho muito o que falar, porque até no fim, quando minha carne estiver se transformando em adubo, as pessoas irão me julgar. Ninguém nunca entende. Talvez eu até deixe um recadinho dizendo “vão tomar no cu”. É. Bem pensando, escolha eficiente. Só tenho medo do que vai rolar depois. Será que tem continuação? Karma ruim? Talvez eu esteja pagando pelos erros da vida anterior e, consequentemente, irei pagar na próxima vida pelas erros que estou cometendo nessa. Ciclo vicioso. É minha sina sofrer e ser assim, eternamente melancólico. Eu só queria paz de espírito. Quero mais isso do que dinheiro, um amor de conto de fadas ou ser um escritor conhecido. É. Paz de espírito. Está aí uma coisa que nunca terei. Nem quando eu puxar o gatilho, amarrar o nó ou engolir as pílulas na levada do Johnnie Walker. Lamentável, tsc. Não tem saída. Nunca terei.

25 de junho de 2012

Últimas Palvras



Eu sempre estive sozinho, mesmo. As coisas da minha cabeça surgiram em momentos de solidão, todas essas historinhas que algumas pessoas curtem e lêem com frequência. Todos os meus textos, meus pensamentos, meus ideais e minhas piadas irônicas e bobas. Nas inspirações, nas pesquisas, nos vários filmes que assisti sozinho no cinema. E não é algo triste ou trágico, também não significa que eu seja anti-social e que dispense companhia. Mas eu gosto. Estar sozinho abre a mente, me joga num mundo particular e eu observo as coisas um tanto quanto... Mais aprofundadas, porque em grupo, as vozes de outras pessoas de vez em quando atrapalham, junto com todas suas análises superficiais.  Solidão é bom, embora às vezes doa pra caralho. Mas passa. Solidão, do meu ponto de vista, te faz amadurecer e enxergar as coisas de forma mais objetiva e imparcial, o que te garante sabedoria e discernimento. A solidão da alma, do coração, do corpo e da paz. Estar sozinho nunca me foi um empecilho, se eu for encarar dessa maneira. E não vai me ser, durante o bom tempo que está por vir. Porque se as coisas não andaram dando muito certo nos últimos anos, então isso só significa uma coisa: talvez seja a minha concepção de “errado” que anda meio embaçada e equivocada. Isso me faz lembrar uma canção e o porque dela nunca ter perdido o sentido – mesmo nos meus breves momentos de felicidade. I’m not afraid to walk this world alone”. Salve MCR. Salve solidão. Um viva a mim.

24 de junho de 2012

Helena



Eu espero que você não tenha as mesmas dores que eu tive, embora isto seja impossível. Espero que você aproveite essa fase, porque você jamais saberá o quanto é boa até não fazer mais parte dela. Assim como foi comigo. Espero que brinque, espero que corra e se machuque. Rale os joelhos, suba uma árvore. Brinque. Com garotos e garotas, seja lá quem você for. Espero que você grite, chore e se faça de mimos; risque as paredes com lápis coloridos, coma doces, salgados e um pouco de terra por pura curiosidade. Espero que você viva. Assista desenhos, não queira ir à escola. Brigue, comece confusões, seja líder do seu exército de mentirinha. Espero que dê seu primeiro beijo aos nove anos e não aos quinze, como eu. Não espere, faça, aconteça. Seja. Espero que você seja estudiosa, inteligente e preguiçosa. Tire notas ruins, odeie matemática como eu odeio ou ame matemática e deteste a leitura, porque a vida é sua e ninguém tem mais direito de vivê-la do que você. Espero que conheça um garoto legal, que não pense apenas em masturbação e futebol – embora invariavelmente vá conhecer. Também espero, se assim for, que conheça uma garota que seja sua fiel amiga, para todo o sempre e que compartilhem segredos dos quais eu jamais saberei. Um garoto, quem sabe? Quero enxugar suas lágrimas quando algum idiota quebrar seu coração. Quero estar ao seu lado quando o som tocar alto e a letra fizer todo o sentido. Quero que me conte e assim espero. Porque vou estar lá quando você chorar, mesmo que nada eu possa fazer para te tirar da decepção, lá eu estarei. Para ouvir, para consolar, desejar a morte daquela pessoa que te feriu e, claro, chorar junto. Farei de suas lágrimas as minhas, e tomarei todas aquelas que desabarem de seus lindos olhos. Eu vou te amar e te amo desde já, mesmo você sendo apenas uma longínqua idealização. Espero que me dê orgulho por simplesmente existir. Vou me embriagar quando entrar para uma universidade, vou chorar como o meu pai chorou comigo, porque agora você vai ser uma mulher. Espero que você seja forte e tenha toda a determinação da qual nunca tive. Não seja pessimista como eu. Espero que viva em um mundo do qual não faça feridas, mas, se viver, esteja preparada desde já. Eu vou te ensinar a sobreviver. Faça história, seja importante na vida de alguém... Quem sabe do mundo. Vá. Corra. Viva. Respire. Caia e levante. Porque eu estarei lá, ao seu lado. Seremos, eternamente, crianças aprendendo com a vida. Por ontem, por hoje e para sempre.

23 de junho de 2012

Uma Vez Mais



A gente decide largar o véu, despir o vestido e as roupas que trajamos até o dia de hoje e ser livres, fazer aquilo o que der na telha – sejam atitudes inconsequentes, infantis ou perigosas. Por diversos motivos, explosões sentimentais ou meras posições banais. Uma vez mais, que se foda tudo. Beber uma garrafa inteira de vodka ou cachaça, daquelas bem fortes e podres que corroem todo seu fígado em uma noite apenas. Pegar um porre, ficar chapado. Só pra variar. Não ligar para o estereótipo “certinho” que você vem sendo há anos e que todos te elogiam. Porque às vezes, tudo o que se precisa é sair fodendo por aí, pouco se importar e realmente se embebedar. Não é por revolta – tá, que seja. É para estar livre mesmo. Dispersar dos seus problemas, das suas preocupações e dos seus amores; planos, sonhos medíocres e aspirações decadentes. Ser um simples nada, de vez em quando. Uma vez mais, com certa frequência. Todos os finais de semana. Todos os dias. Toda hora. Para aliviar. Para esquecer.

22 de junho de 2012

Sangue do meu sangue



Todos argumentavam e gritavam ao meu redor.
O revólver estava em minhas mãos, assim como a liderança daquele bando de renegados sobreviventes, uma aglomeração de velhas chorosas e machos que pensavam serem alfas. Já ela estava entre meus braços. Ela se agarrava a mim num aperto de dúvida e medo, pois o fervor da discussão de tantos adultos enfurecidos a assustava. Além disso, havia o fato de sua boca despejar um suave filete de sangue. Havia nela a dor, havia nela o terror e o medo. Apertei-a em um abraço mais caloroso e protetor. Ela chorava, as lágrimas caindo de seus pequeninos olhos azuis. Eu era o único a quem ela depositava confiança, o único porto seguro restante, o último laço de afeto, família e conforto.
Ex-moradores do mesmo útero.
A discussão continuava, os gritos, as mãos eloquentes e os olhares perversos, exigiam todos de mim a decisão que eu não poderia tomar, a decisão que eu não deveria sequer cogitar.
- Veja o que aconteceu com aquele homem! – Aldair bravejou com a voz contida, para não fazer barulho. Apontou o corpo do morto a cinco metros de nós. – Tu precisas fazer alguma coisa ou então nós teremos de fazer, porra!
- É! Decide alguma coisa! – Ao fundo alguém gritou.
- Isso! – E ao fundo alguém concordou.
As vozes não faziam sentido na minha cabeça. Eu nem sabia a quem pertenciam, embora dez dias enclausurado em um depósito de esquina, cheirando um ao rabo do outro, o fizesse se aproximar dos outros, decorar nomes e remoer antipatias.
Foi o comentário de alguém ao lado que me trouxe de volta à realidade:
- Ela é só uma criança. É a irmã dele. Vocês precisam ter calma! Precisam entender – Era Joyce. Seios fartos e olhos incrivelmente castanhos, as únicas coisas que eu distinguia e prestava atenção nela, além de toda a compreensão e ajuda que sempre me prestava. – Vocês estão loucos gritando desse jeit...
- Que se foda! Ela tá contaminada com aquela coisa! – Aldair contestou. Havia uma pitada de culpa e arrependimento na voz dele, mas eu entendia. No fundo, eu entendia.
O que precisava ser feito, teria de ser feito.
Ela se agarrou ao meu corpo. Não entendia o que se passava, mas o corpinho de sete anos exigia proteção. Tremia de medo, como se pressentisse o que estava por vir. Guardei o revólver na cintura e retribui ao abraço, envolvendo-a firmemente entre os braços. Olhei para o corpo do homem ali, estirado e morto. Um pegajoso e profundo orifício aberto no topo de sua cabeça, a massa encefálica, a massa cinzenta e todas as outras expostas, o lugar de onde saíra a coisa, a verminose, a criatura que consumira O cérebro após amadurecer naquele estranho período de incubação. A boca do homem também eliminara um pequeno fluxo de sangue constante nos dias anteriores, assim como ela eliminava em meio às lágrimas.
Era o sinal que precedia o grand finale. 
Em um ou dois dias, talvez as convulsões começassem e talvez entrasse num estado aparente de catalepsia, e algumas horas depois a verminose consumiria o cérebro e romperia o crânio.
Então viria o silêncio.
E ela já não mais estaria aqui, a não ser aquela coisa arrastando-se pelo chão e urrando um som esquisito, rouco, desesperado, em busca de ar, de outro corpo, de sobrevivência e de proliferação.
- Calem a boca, caralho! – Gritei, finalmente. – Calem a porra da boca!
- Não tem o que pensar ou esperar, cara. – Aldair acalmou o tom de voz e aproximou-se. – É só uma criança, eu sei, mas ela foi contaminada. À essa altura nós dois sabemos onde aquele merda já deve estar. – Ele cutucou a própria cabeça, na vã e indiscreta tentativa não apontar para ela. – Tu sabes o que precisa fazer agora. Não tem opções, você tens que...
Matá-la? – Fiz a derradeira pergunta retórica, sarcástico.
- Tu não tens que fazer isso. – Joyce interveio, tentando me acalmar. – E vocês? – Olhou em volta para todos os tantos heróis covardes e cheios de opiniões. – Perderam a cabeça?
Só então eles finalmente se calaram. Só então finalmente houve silêncio.
- Joyce? – Chamei.
- Sim?
- Aldair? – Sussurrei.
- O quê?
Encarei-os brevemente, depois ergui o rosto para olhar cada um dos outros em volta. Agarrei a menina no colo, segurando-a como um bebê recém-nascido – eu ainda lembrava do primeiro choro e a primeira vez que abriu os olhos. Ela passou os bracinhos em volta do meu pescoço e escondeu o rosto em meu ombro. Eu a apertei, involuntariamente. Senti algo enrolar na minha garganta, aquele nó apertado, aquela corda a sustentar seu corpo no ar, balançando, balançando, balançando.
Levantei-me, ainda encarando todos os outros.
Sobre pesos balançando, eu também sentia outro peso em mim: o do revólver preso à cintura, o do ferro frio e silencioso, o do ferro que berrava a solução.
- Tá tudo bem, não precisam se preocupar. – Sorri, meio catatônico. – Tá tudo bem.
Saí dali.
Joyce tentou protestar, ela tentou mover os lábios, porém tudo o que conseguiu foi colocar as mãos no meu braço e me conduzir um olhar de companheirismo, daqueles que te dizem “não faz isso”.
Mas precisava ser feito.
Deixei aquela parte do depósito em silêncio, recebendo igual silêncio de todos aqueles malditos covardes. Agora eles sentiam remorso e arrependimento, na manhã seguinte, entretanto, tudo estaria bem, porque estariam vivos. E não teriam de fazer nada, não teriam de carregar carga alguma. Eles queriam apenas sobreviver, às custas de qualquer dilema, concepção ética ou moral. 
Sobrevivência.
Caminhei até os fundos do depósito, cruzando a porta que levava à dispensa. A menina agarrou-se a mim, sequer imaginando o que aconteceria dali em diante. Engoli em seco. Ajoelhei-me no chão e levei as mãos à cintura. Senti seu perfume suave de lavanda e contemplei seus olhinhos azuis.
Forcei um sorriso.
Eu deveria encerrar e ao lado dela estar no último instante de suspiro e de última consciência.
Eu, somente eu.
Pois era ela sangue do meu sangue. 


18 de junho de 2012

Chuvisco de orgulho



Quando eu a beijei, naquela tarde de Sexta-Feira, seu hálito exalava um sutil aroma de café. Estava frio, as nuvens tomavam o céu da cidade e algumas gostas de chuva ainda despencavam das enormes mangueiras. Os carros se abarrotavam na José Malcher, buzinas gritavam o fervor da impaciência e os pássaros se espantavam. Era 17:15, eu ainda lembro. E ela estava lá, na frente de sua casa, ainda indecisa sobre minha visita e o beijo que eu acabara de roubar. A pele alva e perfumada evidenciava um recente banho, mas os cabelos vermelhos não estavam molhados. Era linda, como um sonho distante. Eu me aproximei novamente, ela deu um passo para trás. Hesitava em cruzar o portão de metal preto, aberto entre o conforto de sua casa e minhas – nada orgulhosas – intenções.
- Fala logo, o que tu queres? – Ela perguntou. Um tom vermelho já queimava suas bochechas, sob as poucas e antigas marcas de espinha.
Eu sorri ao vê-la daquele jeito. Principalmente por lembrar que ela tinha alergia a amendoim e que cantarolava Lyla, do Oasis, sempre que estava ligeiramente nervosa. Era um tique, mania irreversível.
- Eu quero voltar e ser aquele panaca de antigamente. Lembra? – Arrisquei. Não fosse o frio, eu estaria suando bicas de ansiedade. – Só pra variar.
- Tarde demais. – Ela suspirou, tentando fugir do assunto. – Eu tenho que ir, eu tava... fazendo... Tenho que ir.
- Ei. – Chamei. Senti a força de mil homens arrependidos naquele tom de voz. Era um súplica quase vergonhosa.
- Esquece. Já deu.
- Por favor.
Então segurei o pulso dela, um tanto forte no início. Ela congelou, ou talvez fosse o clima – 24ºc no mês de Janeiro em Belém era sempre desses invernos congelantes. Juro que tentei dizer mais alguma coisa, mas eu sempre fui assim: ótimo com as palavras em uma folha em branco, mas péssimo no cara à cara. Por sorte ela sempre soube disso, aí eu não precisaria me retratar.
Ela entendeu meu silêncio, desistindo da ameaça e da desculpa de assistir à novela das 6. Então esperou alguma atitude minha.
- Eu errei, admito. – Comecei, gaguejando e enrolando a língua duas vezes. Até pude ouvir uma risadinha vindo dela. Ignorei e prossegui. – Errei pra caralho, mas sempre faço isso.
- Sempre. – Ela frisou, irônica.
- Mas tu fizeste pior. – Joguei baixo, espetando a ferida.
- Joga na cara. Típico!
Trinquei os dentes. Deslizei a mão do pulso dela até os dedos, entrelaçando-os.
- Não joguei na cara. – Olhei para a casa dela. Podia ver da janela a sala, a televisão desligada e a luz apagada. Estava sozinha, mas eu já sabia. – Eu não preciso disso. Só queria dizer que... Merda, eu vacilei, nós dois vacilamos! Dane-se se você vacilou mais. Eu ainda tive forças pra vir aqui, agora, pra pedir desculpas e melhorar as coisas. Né? Eu não ligo pra nada que aconteceu, eu até perdoei. Por isso só vim aqui pra te pedir que deixe de ser orgulhosa. Não te leva à nada. E me deixa muito, muito, muito triste. Saca?
Ela tinha olhos escuros, contrastando com a brancura da pele. E naquele momento, aquele olhar magnífico e ligeiramente desdenhoso despencou em direção ao chão, relutando profundamente. Ela pensou, pensou e pensou de novo, num intervalo de quinze segundos. Aí apertou minha mão brevemente, acariciando com a pontinha dos dedos. Era um sinal. Pude então relaxar.
- Tenho que entrar. – Soltou minha mão. Havia um sorriso escondido no canto da boca, singelo e vulnerável. Também havia um desse em mim. – Me liga hoje à noite?
- Ligo.
- Jura que liga?
Ou eu era idiota de acreditar em mentiras ou ela realmente se preocupou.
Assenti devagar, dando um sorriso mais relaxado. Ela respondeu com a mesma tonalidade e entrou, mas não fechou totalmente o portão. Pôs o rosto para o lado de fora e me olhou, tentando dizer alguma coisa que eu realmente ansiava ouvir.
- Orgulho não é uma coisa boa? – Perguntou, com a expressão impenetrável.
- Não pra mim.
- Tu nunca foi desses. Idiota, precisa ser mais esperto.
- É, eu... Acho que... Sei lá. Aham.
Ela deixou uma risada boba escapar.
- Me acostumo mal, perco o orgulho de tanto me misturar contigo. – Falou, outra vez desdenhosa.
- Azar o teu.
- Sorte a tua. – Ela ficou séria de novo. – Não esquece de me ligar.
- Não vou.
E aí ela se foi, acenando rápido antes de fechar o portão. Fiquei parado ali por um tempo indeterminado, senti um leve chuvisco e o sinal da chuva voltando. Mas não ouvi os passos dela. Não escutei seus pés cruzando o jardim e entrando na casa. Juro que ela ficou ali, parada. Talvez estivesse arrependida, quem sabe estivesse pensando na conversa rápida com menos de 10 minutos? Sei lá, nunca fui capaz de decifrar sua mente. Mas juro que permaneceu lá, assim como eu.
Ela, ignorando o orgulho.
Eu, esperando a chuva cair. 

17 de junho de 2012

Derradeira Verdade



Não foi por mim, não é a minha situação, mas é o mesmo sentimento. Não há culpados, não existe total percentagem de culpa ou má fé. São coisas que acontecem, são asas que voam livres e causam ventanias destruidoras no outro lado do rio, devastando a margem e esmagando sentimentos. Teoria do caos. Propositalmente ou não, sempre haverá danos e eles derrubam cachoeiras, secam a alma e molham os olhos. Verdades ocultas, palavras que deixaram de ser ditas ou melhor explicadas; atitudes que faltaram, ações que não se fizeram reais. Um erro conjunto, um erro propagado.  E aí, lá no – derradeiro – final, alguém vai sair machucado e/ou frustrado. Quebrado em mil pedaços, por um desejo que não se efetivou nem consolidou, uma dor amarga e solitária. Lágrimas que não poderão ser vistas por ninguém. Sentimento fechado, encoberto pela armadura de um falso sorriso ou dissimulada tranquilidade. Não falo por mim, embora esta realmente seja a verdade. Não é a minha situação... Ou seria? Nesse caso, não. Mas o sentimento é o mesmo. Por um amigo, eu sinto a dor. A dor que sofro, a dor que compartilho. E no fim, só duas palavras definem um texto bem bolado e sentido. Uma frase, duas palavras: é foda

16 de junho de 2012

O Lobo e a Flor



Quem poderá dizer por quanto tempo ele esteve correndo? Por quanto tempo esteve procurando? E ela? Por quantos anos esperou um uivo, forte e distante? Ecoou pela neve, pelos vales frios de Inverno e pela cidade decadente. Nunca se viram, nunca se tocaram, mas esperaram. Ela dormindo de olhos abertos; ele correndo, sem matilha, solitário e sonhador. À procura do paraíso. Te faz pensar no amor, nas ilusões, nas verdades e nos contos de fadas; nas comédias românticas e nos ideais machistas. Te faz abandonar referências, te filtrando apenas no aqui e agora, pois cada um vive a própria vida. Nenhuma verdade é absoluta, nem sobre homens nem sobre mulheres, tampouco sobre razão e emoção, fogo e gelo, vida e morte. Porque esses dois brotarão um dia, sob a lua da qual seu leve focinho será afagado pelas mãos dela. Os dois se amarão ou, simplesmente, dormirão sob a Lua Cheia mais brilhante. Juntos, comprimidos num sentimento de destino. Nunca se viram - nunca se tocaram até aquele dia. Mas esperaram. Por 30 dias, por 30 histórias. Te faz parar, pensar e refletir. Lado a lado, juntos. O Lobo e a Flor.

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Fumou pela última vez e abandonou o cigarro. Não faria mais aquilo, nem valia a pena, pois que morresse de loucura e não pelo próprio corpo. A sensação era boa, relaxa e aliviava. Mas estava decidido a largar, era inevitável. Também fechou o caderno, deixando a caneta na página que acabara de escrever. Estava pronto. O esboço do sucesso, a fórmula para sua fama. Um sonho esperado, mas já pouco admirado.
Foi quando ela chegou. Sentou ao lado dele. Ficou em silêncio. Bufou. Jogou os cabelos para trás e olhou para o horizonte com aquele olhar desdenhoso. Coisa ridícula. Ele odiava e amava. Dois lados de uma moeda, paradoxo sentimental.
- Eu odeio o que você faz. – Ela disse, distraída.
- Sei que odeia.
- Você tem milhares de fãs por aí, por que logo eu?
- Você enxerga o que elas não enxergam, seja lá o que for isso. Não te basta?
- Não.
- Foda-se.
Silêncio. Ela sentiu o cheiro de cigarro. Sentiu vontade, mas era algo tão distante e fraco que logo se dispersou. Uma ideia frágil, desejo instantâneo.
- Você escreve mal. É ridículo e meloso. Odeio suas histórias. Odeio esse ofício de escritor. Não vai te levar à nada. Merda nenhuma – Ela voltou a falar.
Ele sorriu. Olhou para o mesmo horizonte que a garota.
- Por isso eu gosto de ti. Odeias em mim tudo o que as outras amam.
- Pois é, fazer o quê?
Silêncio. Ela levantou, olhou para ele com o tom de desdém e perguntou, impaciente:
- Você vem jantar?
- Claro. – Respondeu, atencioso. Olhou para ela e sorriu. – Já estou indo.
- Vou te esperar. Não demora. – Finalizou mais maleável, dócil e preocupada.
- Beleza.
Ela foi embora pelo mesmo caminho que veio.
Já ele sorriu, satisfeito e livre. Olhou para o livro entre as mãos. Ela realmente tinha razão por achá-lo meloso e sem talento, mas fazer o quê? Cada um tinha seus defeitos, e o dele era estar aficionado pela garota.
E vice versa.

14 de junho de 2012

Texto sem título



Deus dos textos para o mundo, câmbio? 
Ih, não preciso de mais palavras. Nem para desafiar, para prometer ou reclamar. Merda, isso agora fez sentido depois de, o quê, seis anos? Ou desde quando eu era criança, ao lado do melhor amigo e eu escrevia historinhas no caderno fingindo que seriam grandes produções cinematográficas? É, eu lembro disso. Que panacão, talvez sempre estivesse destinado a isso. “Fingir ser um escritor, mas não passar de um garoto bem aventurado”. O trabalho acabou, preocupações e o escambau. Caralho! Por que eu fechei os olhos todo esse tempo, colocando uma máscara de diferente, sensível e peculiar? Qualquer um pode escrever e eu não fui um deus glorificado por isso. Eu sou normal, totalmente normalzinho e, pasmem vocês, não há nada de errado nisso. Gosto de ser assim, venho gostando na última semana. Sem lágrimas, lamentações e desabafos via-blog-autônomo-literário. Onde estive com a cabeça? Que se foda. É fácil ser assim, igual a todos, mas com uma mínima tendência à irregularidade. Todos temos isso, dentro de nós. É só pensar assim e... Puff, tudo fica leve. Eu me sinto livre. Me desprendi de um peso – valeu a pena, valeu toda a pena, afinal, se não fosse ele, onde eu estaria hoje? Isso aqui é muito bom para se preocupar. Maneiraço, em cada emoção de nervosismo, ansiedade e palpitação. E aqui, nesse exato ponto do texto, não estou lembrando o porquê de te começado a escrevê-lo, e não faço ideia de onde meus dedos sobre esse teclado irão me levar. É bom pausar, dar um parada e respirar. Fiz minha parte e, agora, que venham as consequências – inteiramente boas, assim eu espero. Porque felicidade não é o sentimento certo para definir o agora, mas eu diria... “um pedaço de paz”. Talvez um ensaio do enredo que vem por aí. Veremos. Estou cansado de pensar demais, corrói os neurônios. Te impede de existir. Basicamente, existir.
Deus dos textos para mundo, câmbio desligo.

11 de junho de 2012

Noite de Nascimento



Vindos do ferro, do fogo escarlate. Das cinzas do inferno, sobre o diabo em ideais, sob Deus em regras. Nascidos no dom, no fervor do alvorecer, proclamados para a sentença. Crianças de ontem, cheias de sonhos, repletas de metas, ambições e maldições. Detentoras da força, ofuscadas pelas vãs batalhas do dia, para alcançar o arrependimento da noite. Nascidos quebrados, destinados ao fracasso esperado, em dia de ascensão da vitória por um grito de guerra, um sinal de paz. Para amar um feto, feto desprovido de herança congênita, sem razão, sem raça ou piedade. Um clone do clichê, cópia exata da prisão de pensamentos. Nascidos da queda do muro, corrompido pela nova ordem. Fanáticos. Loucos. Rebeldes e famintos. Sem paz, sem liberdade, caídos à lama do julgamento, na espera do juiz que devora almas. O grande poderoso; nas cidades, no campo, nos mares, nos rios, nas estrelas e no coração. Nascidos do turbilhão, da inconsequente dúvida, baralho de opções, xeque de opinião. Nascidos do sangue, através da árvore dos pecadores. Mentirosos, destruidores e estupradores de idéias. Geração zero, geração liberta – nas correntes que se abrem, para o mundo que hoje nasce. 

Marco Zero



Pensei sobre o que vou escrever. As palavras de tristeza sempre vão estar aqui, como um dicionário bem disposto ou um mundo novo e cheio de descobertas. Estado de espírito triste vai sempre existir e influenciar nos meus textos, mas nem sempre estou os escrevendo ou postando. Aí me vem a dúvida: e agora? Contos pequenos? Arco de histórias fantasiosas? Textos sobre sonhos e esperança? Obviamente que ainda tenho ambições, ainda possuo certa chama pra viver, porque não sou todo depressão. Mas... Me dê um propósito de animação, eu preciso. Porque é disso que a vida é movida – ou pelo menos é assim que eu decidi pensar e tomei como concepção. Eu não vou parar de escrever, é um hábito que não perde a graça nem a inspiração. Eu sempre estive inspirado, por isso meus sentimentos nunca se tornaram clichês. Mas agora, essa mesma inspiração e sentimentos precisam ir embora. Exatamente aí volta a minha dúvida, minha eterna agonia interior.
E agora, sobre o quê escrever? Para onde continuar?

8 de junho de 2012

Sina



É algo pragmático, por um bom tempo não vai sumir. Ignore as merdas que digo, são apenas besteiras de alguém revoltado. Coisas banais, triviais que eu nem sequer sigo, eu ao menos tomo aquelas baboseiras como estilo de vida. Meu jeito é esse, meu foco de vida são essas palavras, é o que eu escrevo aqui. Estive pensando: não vou mudar tão cedo. Eu tenho a extrema e hipócrita mania de sempre perdoar e relevar todas as promessas de amor feitas para o outro, toda a parte linda de um romance (sei lá se estou certo, só me resta adivinhar, né?) com “1 anos e três meses". Lindo. Só sinto raiva de mim, por ser panacão e sempre voltar, oferecer uma atenção... Relevar. É claro, ninguém é inabalável e ficar “estranho” é uma reação minha. Frio. Gelado. Distante. Mas depois eu volto à normalidade e começo a sonhar. Que delírio. Não posso ignorar essa merda que sinto, mas fazer o quê? Eu gosto, me sinto bem, é bom – apesar de todos os pesares. Sinto informar, também, aos outros corações que infelizmente o meu sempre esteve tomado e preenchido. Sinto muito se magôo ou magoei alguém, mas essa é a minha sina.
 Me tem sido desde agosto de 2010.

7 de junho de 2012

zZzZz



Espero a noite para fechar os olhos, espero o dia para acordar o mais tarde possível. Deixo passar a vida, porque sinceramente cansei de viver. Permito que o mundo prossiga, porque ninguém vai esperar por mim e eu sei disso. Não ando me importando com muita coisa, afetou tudo: meus estudos, meus sonhos. Aliás, sonhos nem tenho mais, abandonei-os ali na esquina. Eram impossíveis demais, pensavam coisas erradas sobre mim e me faziam de panaca. Deixei pra lá. E é essa a razão pela qual eu durmo. Por um bom tempo eu dormia pra sonhar, mas agora é diferente. Já torço para que isso não aconteça, torço para dormir e ficar lá, mofando na cama como um lixo humano. Dormir a qualquer hora, em qualquer lugar. De olhos fechados, de olhos abertos. Esperar o tempo passar enquanto o grande e esperado fim não chega, até porque eu já pensei tanto em apressá-lo, mas é passado. Prefiro “viver” sendo um inútil do que correr o risco de me arriscar a uma existência de agonia no vale dos covardes –condenados. Sei lá, não sei de mais nada ultimamente. Desculpem-me se magôo alguém ou dou nos nervos com minha depressão. Não pedi a ajuda de ninguém, em nenhum momento eu pedi. Vou lá dormir, vou ali tomar uma dose de Rivotril. Talvez eu volte depois. Quem sabe?   

Imaginar




Todos sonhamos com liberdade, paz e amor – alguns até ignoram este último. Imaginamos um dia estarmos livres de todos esses problemas, libertos do mundo que nos é oferecido hoje. Cheio de rótulos, preconceitos e pré-julgamentos. Queremos estar livres, distantes de preocupações e soltos das correntes para fazer aquilo que amamos. Imagine escrever por escrever, sem ambições grandiosas; imagine ter um computador sem internet diante da praia, ou um livro em branco sobre uma rede; imagine viver por amor ao que se faz, sem obrigações e preocupações. Estar longe e evoluído, mental e sentimentalmente amadurecido. Seja sozinho, seja acompanhado; viver em comunhão com a paz interior e os ventos tropicais balançando a janela. A chuva à tarde e a fogueira à noite. A ausência de status sociais e intelectuais, pois já se é imenso na alma. Imagine um dia de semana qualquer, o Sol surgindo no horizonte, emergindo do mar. Imagine a sua concepção de paz e tente ser feliz com ela, para um dia alcançá-la. Se ver livre de tudo e fazer do “eu” que há hoje apenas um mero passado – longínquo e esquecido. Ter paz e liberdade - livre como um pássaro, pacífico como o verão.  

5 de junho de 2012

Todo dia



Todo dia tem um novo, quentinho, saído da fornalha. Todo dia é uma reclamação, é uma tristeza por não ter feito diferente. Todo dia é uma coisa nova sobre o assunto de sempre. Mais do mesmo. Todo dia uma forma diferente de falar, a única e inútil forma de expressar. Mixuruca, vagabunda, sem valor. Todo dia uma coisa diferente de ontem, mas nascida da mesma essência. Todo dia fazendo uma coisa que compense o problema do início. Todo dia tentando fazer algo, agir diferente, dispor de uma atitude que esteja valendo. Todo dia um mísero texto novo, destrinchando palavras cada vez mais elaboradas, mas com um objetivo que não vai surtir efeito - já perdeu a graça, já não convence mais. Todo dia, todo dia, todo santo fucking dia. Sinceridade maldita que já mais parece falsidade desmedida. Isso cansa, mesmo para aquele que está agindo assim. Todo dia uma atualização. Todo dia uma satisfação literária.
Pois é, mas só literária mesmo.

3 de junho de 2012

Exemplo



É meio que um ideal glorificado, uma imagem montada, confeccionada por milhares de virtudes e defeitos irritantes - mas toleráveis. Ninguém vai vestir essa roupa, porque é tecida de um material único e não copiável, talhada por milhões e milhões de combinações ímpares, inspirada por incontáveis de bilhões de caminhos distintos e possibilidades adversas. Uma conta complicada, impossível de ser recriada. Um exemplo a ser não seguido, mas admirado e venerado. Eu não vou encontrar outro molde parecido, muito menos igual. Eu amo essa imagem e por mais que - vez ou outra, num acesso depressivo de solidão e pessimismo -  tente procurá-la em outras esquinas, sei que é impossível. Só existe uma (entendam: ela é real, de carne e osso, tem nome, tem idade, tem opiniões e eu a conheço; ela me conhece). Vou modificar e tomar a frase para mim, exemplificando a tal imagem dessa maneira: "concebendo uma forma específica desse caos de improbabilidades". Não vai existir outra. É amando esta que aprendi a ignorar e não ver virtude alguma nas outras. Como um animal num cabresto. É foda, mas totalmente reconfortante. Porque não preciso de outras distrações. Estou feliz com o objetivo que tenho, imensamente. Há uma reciprocidade. É o meu acalento. É a minha paz.

Pela Vida Eterna



"Você esteve segurando a minha cabeça, em seu peito. Me amando. Entendo. Quantas vezes isto aconteceu? E exatamente quando eu sou decapitado, que eu me lembro de tudo".

(Kurozuka #12)

1 de junho de 2012

Entrelinhas




Abra a porta, entre.
Vou te contar o que há por trás desta mente; vou te dizer, através de palavras, o que uma galáxia de linhas pode esconder. Um livro não é somente um acúmulo de páginas contendo certo número de palavras. Um livro é um acúmulo de palavras, contendo uma infinidade de significados. Um país a ser descoberto, uma ilha, um universo. Dentro de cada qual, cada pessoa. Um texto de uma linha, um texto de duas. Uma frase com mil parágrafos, um postulado de um olhar. Esconde percepções, esconde viagens cinematográficas, psicodélicas, alucinantes, excitantes, sensuais e inocentes. Um livro, uma pessoa, um leitor. Um vírgula dizendo “olá”, uma interpretação dizendo, erroneamente, “adeus”. Um assobio profundo, cavando tratados, contratos de retornos, lágrimas de voltas. Amor. Ódio. Paz. Tormenta. Dúvida. Agonia. Insensatez. Loucura. Chamado. Sonho. Esperança. Tudo enterrado em textos. Para o entendimento particular de cada um, levado por infinitas, divergentes ou convergentes experiências. Um hábito. Um prazer. Sexo e orgasmo, na essência do significado mais primordial: deleite. Um livro. Uma aptidão. Um destino e um propósito.
Ler. Interpretar e sentir. Escrever - nem mais, nem menos.