28 de agosto de 2012

Terceira Aspiração



Eu sonhei um dia escrever pra ser feliz. Queria ter feito isso pra fazer bem, mas o resultado foi totalmente o oposto. Construí perspectivas erradas e equivocadas. Distorci sentidos. Queria dizer uma coisa e os fiz entender outras. Escrever deveria ter sido algo bom, e não uma coisa que destruiu as melhores coisas que eu tinha. Qual o preço desse "dom"? De que adiantou?
Já chega.

25 de agosto de 2012

Harém #02 - A Árvore no Vórtice (Canção)



Vou contar uma história. Um tipo bem antigo de história, nascida na paráfrase do tempo, concebida no alvorecer do reino da paz. Esquecida por livros, recontada por uma canção. Forte, tão forte quanto a brisa cósmica. Leve, tão leve quanto um falso sentimento. Uma história antiga, datada dos tempos de calmaria e plenitude. Quando o homem era Deus. Quando Deus era inocência. Quando a verdade era dita, vivida e tocada. Quando tudo se acalmou. História antiga.
Vou contar uma história. Sobre duas jovens e maduras crianças. A segunda e a terceira.
Vou contar uma história. De uma menina loira de olhos verdes, saltitando em uma montanha. Com vestido azul pintado de listras brancas. Era uma bela criança. Seios avantajados, não tão excessivamente fartos, mas avantajados na sua pequena e delicada protuberância. Pernas alvas e claras como nuvens. Cabelos ondulados, loiros, esbeltos. Olhos verdes, verdes como uma lagoa sob os mantos da primavera. Olhos verdes, outra vez - a terceira – a menção aos olhos da menina. Verdes.
É tudo o que o garoto consegue lembrar de mais forte: aquele par de olhos.
Há também uma história sobre o garoto. Ele ama a menina. Um sentimento desconhecido por ele, no entanto. Mas é sentido. Vivido e aproveitado. Aqui começa a verdadeira história: duas jovens crianças, brincando e pulando pelas vastidões das montanhas. Rodopiando de mãos dadas, caindo e rolando sobre a grama. Sorrindo. Brincando. Duas crianças nascidas do ápice da guerra, através da geração do acordo de paz. A segunda e a terceira. Concebidas pelo ventre do verbo, do início da era das partículas. Duas crianças. Inocentes, doces e amáveis. Amando-se, acariciando-se. Fornicando a carne sem maldades, sob um Sol poente de um planeta ainda existente. Seguras de si, felizes, satisfeitas.
É disso que o garoto lembra. Dessa história distante, dessa época de brilho, tempo excitante. Onde o menino que é menina, coexistia entre seus filhos. Onde a menina que é menino, cumprira seu celestial destino.
Vou contar uma história. História de uma menina linda e doce, loira e astuta. Olhos verdes, coração negro. Negro por carregar a promessa do final derradeiro, por manter um ventre traiçoeiro. Menina linda, doce, astuta, meiga e loira. Que pelo amor de um garoto, sacrificou suas asas. Cortou a liberdade, despedaçou a própria paz. Levada pela ânsia dos novos homens. Tirada do garoto às forças e à morte.
Vou contar uma história sobre uma garota loira, magra e singela, trajando um vestido azul de listras brancas. Ela sacrificou a própria visão para não revelar a verdade; renegou sua calma por seu amor de ingênua idade.
Pelo garoto ela deu um espelho; pelo garoto ela repartiu um olho.
Pelo garoto cujo verdadeiro nome jamais vos será revelado, ela deu a própria liberdade.
Vou contar uma história. Sobre um casal de crianças ingênuas; sobre duas crianças – a segunda e a terceira – que prometeram fidelidade e honra; sobre a menina que na montanha do farol avermelhado, foi arrancada, possuída e acorrentada da alma que a completava. Ah, sim, vou contar uma história. A partir de uma canção, com partituras sagradas e secretas, contarei uma história. Sobre a ganância do homem novo para alcançar a magnitude das crianças velhas.
Sobre um garoto que busca uma menina.
Menina linda, doce e meiga.
Uma loira menina.

22 de agosto de 2012

Missão



Quem sou eu para falar sobre “legado”? Dezoito anos e refletindo como se tivesse vivido tudo e já tivesse setenta. O pouco que posso dizer é que me sinto completando uma missão, uma bem particular. Sabem aquele papo de “destino de um se interligando com o de outras milhões de pessoas”? Pois é. Acredito que – se me permitirem falar sobre – um legado de verdade é isso. Não é mudar o mundo, tampouco os conceitos e aplicações sobre a morte, e sim sobre ter deixado um valor ou uma mensagem na vida daqueles com quem cruzamos. Uma única frase, um longo relacionamento ou seja lá o que for. É disso que legados tratam. E hoje, depois de infinitos textos – e tentativas – nesse blog, sinto que fiz algo importante, abri inspirações e injetei vontades. Fiz coragens, motivei o sonho de determinadas pessoas, embora poucas, mas importantes pra mim e que jamais sairão da minha memória. É meio que um mestre deixando que seu aprendiz comece a voar sozinho e cumpra seu próprio destino, para deixar seu legado com as diversas pessoas com quem irá se interligar. É um ciclo belo e interminável. E sinto que fiz o que devia, ao menos fiz o que hoje me deixa mais tranquilo do que quando comecei aqui. Com a minha paixão pela escrita, fiz e abri caminhos para as obras de terceiros, que serão magníficas – eu enxergo isso, e fico feliz. Eu aprendi com as minhas oscilações sentimentais, aprendi muito e fiquei mais calmo e ao mesmo tempo mais eufórico, dentro de mim. O que vale, é que manobrei e controlei a arte de domar os dois lados da minha moeda, sabendo quando usá-los. E sobre o que falo aqui, apenas eu tenho o conhecimento, vocês não entenderão ao certo (“um poeta nunca explica suas poesias”). É isso. Sinto que fiz minha parte, para que outros façam a sua própria e sigam em paz – procurando, persistindo na procura, procurando, persistindo e procurando. A vontade que tenho é de excluir este blog, porque o que eu deveria aprender, já aprendi. Não faço por tristeza, nem por revolta. Faço mais por um tipo de conclusão. Penso que já absorvi a lição, e que talvez seja a hora de “partir” desse universo da blogosfera-literário. Mas parar de escrever, isso nunca irei de fazer. E aí fico pensando: até final desse ano concluo essa vontade, finalizo só mais um projeto e... concluo. Aí eu vou voltar, mas talvez com outro nome e outras intenções, em outro tempo, em um outro Felipe.
É, é isso. E assim, era uma vez uma noite... Era uma vez, a minha noite na taverna.

21 de agosto de 2012

De novo outra vez




Era pra eu estar preparado depois de tanto tempo, né? Mas não. É como se fosse naquela época, naquele longínquo e conturbado ano de... Não importa. É claro, há um nível de amadurecimento maior regando a situação, a visão se amplia e coisas não são feitas com tanta espontaneidade e palavras são bem melhor medidas, mas... Ainda existe um sentimento quase infantil, que abre sorrisos em momentos inoportunos. Fica um tom vibrante e, mais importante, uma sensação de paz e libertação. Só começo a pensar que se não fosse por isso, eu não seria humano, e vejo que crescimento interior é isso: perceber que tudo são fases e aquelas atitudes extremistas pertencem a essa faixa etária da vida. As descobertas vem, você lida e sabe medir cada palavra e cada ação. Mas o sentimento bom, espontâneo e inocente te mostra que ainda és suscetível à tua essencial humanidade e renovação. É bom. Sem meias palavras, é bom.   

20 de agosto de 2012

Quando ela se apaixonar




Quando ela se apaixonar, eu ficava pensando, o que vou fazer? Julguem por maldade ou sacanagem, mas era bom estar ao seu lado. Não havia pressão, não havia obrigação. E quando ela me procurava ansiando um beijo, eu não bufava como fazia com todas aquelas outras. Porque depois de um tempo, eu não tive mais saco pra porra nenhuma. Daí me chamavam de “gay”, “fresco”. Havia um intenso desinteresse da minha parte pela maioria das garotas, eu negava e nada rolava. As poucas que me agradavam, não me davam bola. Aí eu parei de me importar, já estava de coração ocupado e totalmente satisfeito, embora não pudéssemos nos tocar. Coisa estranha, mas foi assim. Mas aí a vida esquentou, nessas idas e vindas, lágrimas, dúvidas, desconfianças e sensações de traição e uso/desuso. Fiquei olhando. E ela chegou de repente, pra me fazer distrair, numa tarde de extrema tristeza e revolta. Se mostrou diferente, pouco a pouco. E eu não me senti forçado. E quando ela se apaixonar? Mesmo que fosse inevitável, eu não pensei no assunto, porque ainda ando fechado, extremamente. Ou não? Ainda nem consegui pegar essa resposta, qualquer hora paro e penso, porque não há motivos pra me preocupar com ela. É uma pessoa boa, eu gosto, me sinto bem. A gente se entende, é legal. É... sei lá, isso não faz de mim um monstro, só alguém que tenta viver conforme a música, porque de vez em quando a melodia me faz chorar, mas às vezes, poucas vezes, também abre brechas. Me permite dançar, lentamente. Ouvir e relaxar. Não é tão complicado.

17 de agosto de 2012

F.T.W.W.W




Eu não parava de pensar naqueles seios. Peitos durinhos, perfeitos e bem delineados sob o biquíni, pausados como uma gota perfeita no orvalho. Merda. Eu nunca vou conseguir descrevê-los, o biquíni superior de bolinhas brancas, o de baixo era apenas preto. Não por uma ação de um tarado ou pervertido-punheiteiro, mas eu desejava tocá-los. Fico pensando também naquela barriga perfeita, lisa e bem estruturada. Pernas longas, pele clara, olho castanho quase chegando ao caramelado. Sorriso brilhante, cabelos lisos. Corpo de modelo. Não era tão magrinha, tinha “carne para apertar”, como diriam os mais salientes. 1,73m de altura. Eu poderia beijá-la por uma noite inteira, só beijar e então, quando o Sol nascesse, faria o calor subir e descer, entrar e sair com um silvo baixo e fervoroso. Meu Deus. E ela gemeria. Venha, venha, beije minha bateria. Venha, venha, eu vou ser sua garota andróide. Sente meu desespero por sua voz e seu corpo? Hein? Fiquei sonhando, a noite inteira, sem masturbações ou coisas pervertidas, apenas... Apenas esse lance de “musa-escritor”, entende? Através disso eu te desejo, no “G” do seu nome, garota. Por um minuto eu estou louco, por um sonho em que nunca vou te ter. Te dedico apenas um texto perdido, nas minhas noites, na febre de 40ºc.  E “Ela disse: venha, venha e foda esse mundo inteiro”. 

Madrugadas




Passei as duas últimas madrugadas vidrado, escrevendo feito louco. Dormi o dia inteiro, acordava, planejava olhando o teto, em silêncio, enfurnado nesse calor do meu quarto. Dormi e esperei a noite. Madrugada virado, vidrado. Sem xícaras de café quente ou cigarros. Sem coca cola, também. Sem nenhuma droga ou vício prazeroso. Apenas escrevendo com uma porra de dor nas costas e pescoço dolorido. Não terei lucros, meu nome não será lembrado, mas porque continuei a escrever, com a ânsia de terminar essa história? A propósito, é a primeira que finalizo. Que porra de vida, sem futuro, sem premiações ou reconhecimento. Talvez eu até termine como esses escritores fracassados dos filmes: dois filhos com a mulher que ama, derrotado, sem perspectivas e a vendo se casar com um cara mais promissor. Também foda-se. Nem me importo. O que vale é essa madrugada, mais uma para finalizar um capítulo – e assim sucessivamente.  

Coisas Perdidas



Tanta merda entalada na minha garganta, sabe? Um turbilhão de coisas, lembranças, mágoas e esbravejamentos. Eu poderia listá-los em um texto de uma página ou uma carta de duas. Mas não importa, sinceramente. Palavras e mais palavras e blábláblás intermináveis. Aliás, de nada adiantaria. Nada. É por isso que parei de tentar entender e de procurar uma saída. Achei uma solução mais fácil: ao invés de encontrar a porta dos fundos, eu vou apertar o botão que reseta o jogo e ponto final. Vou trocar. Simples assim. Parei de ser tão idiota. Aqui dentro eu mudei, mas por fora sou todo sorrisos. Ninguém precisa saber disso, porque eu já estou satisfeito com a solução que tomei pra mim, aqui dentro, e libertando meu coração e espírito, meus pensamentos estarão livres. É isso o que importa, não é? É isso o que os sábios zens e escritores viados deixaram como lembrete: paz interior. Vou seguir isso aí, me aventurar e ver o que acontece - até porque outras coisas também já deram o que tinham que dar.

15 de agosto de 2012

Legado




Não quero me entregar à tal frescura sentimental. Quero a necessidade de tecer palavras para a reflexão da alma e do caráter, e não palavras perfeitas e bonitinhas para a disseminação de menininhas apaixonadas e carentes. Eu quero fãs de verdade, do tipo cruéis e com mentes cabulosas, não quero fãs com corações partidos. Garotas que almejam um cara "perfeitinho, que vê além dos outros e que é escritor"? Isso eu repudio, com todo o desprezo da minha frieza. Quero garotas inteligentes, frias, calculistas, que amam o que eu digo pela engenhosidade e perspicácia, pelo jogo de palavras, pela astúcia de dizer o que ninguém mais diria ou esconde. Estou odiando esse "boom" literário, repleto de falsos escritores que se escondem por trás dos textos com um único e derradeiro motivo: enfiar o pau nas admiradoras eufóricas - tá certo, eu até me aproveitaria de tal situação, mas a questão vai mais além. Às vezes me vejo entregue a essa baboseira de textos sentimentais que garotinhas vão amar. Eu odeio essa parte de mim, e estou me entregando a outras habilidades no ramo da escrita. Não nasci para essa mediocridade, e me convenço de que preciso fazer algo bem maior e significativo. Não quero que as pessoas lembrem do meu nome como "mais um idiota cheio de palavrinhas bonitas para espalhar nas redes sociais". Quero que me chamem de mestre, sem piedade com as palavras e sem escrúpulos ante os medos e obstáculos. Quero escrever, e ser o melhor nisso. Quero deixar um legado para os filhos que não terei e para os seguidores que irão nascer. Um legado e um dom. É isso o que quero. É isso o que sempre quis.

14 de agosto de 2012

Barulho



Com o tempo eu vou acreditar no barulho. Com o tempo eu vou acreditar não na possibilidade de ser verdade, mas em uma crença fervorosa de querer ser verdade. Quando você sair por aí, me escolhendo em público e revelando meu nome, eu vou me calar e refletir. Um tipo de reflexão de felicidade, porque não é todo dia que você encontra alguém que te dá a cara à tapa e, principalmente, pelo que sente por você. Seja um leviano afeto, uma paixão arrebatadora ou um amor sólido. Não me importa. Você está chamando por mim, por aí, nas ruas. Me escolheu quando caras do seu passado vieram pedindo para voltar; me escolheu sem titubear, como muitas pessoas não fariam nem fizeram por mim, antes. Você está fazendo barulho por mim. E isso me encanta, porque era exatamente o fogo que minha alma gelada procurava; é exatamente o que me faltou, tanto tempo atrás. Você diz precisar de mim, e não diz isso em silêncio ou em confidências. Você não tem medo de sentir, tampouco de magoar aqueles que te estão próximos. Você não hesita, não é fria. Isso me faz pensar, me fez refletir nas últimas noites das últimas semanas. Você grita por mim, com sinceridade, sem medo de se esconder. Você não exprime vergonha de mim, não é calculista, não é estrategista. É apenas espontânea e sincera. Leviano afeto, paixão arrebatadora ou amor sólido, com o tempo isso eu verei, mas que me agrada e me deixa feliz, ah isso deixa. Era disso que sempre andei precisando, e que só agora alguém vem me trazendo. Alguém como você.  

13 de agosto de 2012

Memórias válidas




Talvez eu não tenha me despedido devidamente. Até logo. O quanto me foi prejudicial e difícil, não tive coragem e fui um tolo menino. A chuva caiu, escorrendo pelo meu telhado e secando ao solo feito uma cascata assassina. Me tragando com memórias, sem me permitir dizer “adeus”, porque jamais fui capaz de fazê-lo. Não por covardia ou por ainda ser uma pequena criança, mas por uma razão bem mais admirável: você não deixa voar sozinho aquilo que te prende ao céu, você não permite nem por egoísmo, nem por tristeza. É seu oxigênio válido, a sombra da qual você pra sempre irá lembrar. Pois seja chuva ou seja neve, aquele infantil espírito dentro de mim há de correr para a varanda, abrir os braços, a boca e oferecer a língua. Sentirei o gosto do céu, o hálito do meu particular paraíso. Pois eu sinto a gravidade, me prendendo ao Inverno gelado que me manteve aquecido. Me lembra as chamas, me lembra o fogo primordial - de um mês longínquo e extremamente vívido. Resistente às lágrimas e falsas verdades. Resistente ao frio da chuva do verão, às corridas e aos vendavais. Só resta a gravidade ou a ausência dela. Me permite o sustento dessas memórias que eu hei de prosseguir e cultivar. Para florescer, nascer e viver. Gravidade zero que não deixa cair, que não deixa morrer.

12 de agosto de 2012

Ombros



Ombros que desejei. Chamativos, nus, em uma hora de aprendizado, fixos e longe, imaginando o futuro. Eram ombros delicados, sustentando costas que venho desejando há muito, muito tempo. Já quase me perdi na contagem dos dias e dos meses, tamanho são minhas mentiras de loucura, entre sonhos esporádicos e fortes, entre pensamentos e vacilos entre os amigos. Eu vivo dizendo teu nome, ó dona destes ombros. Os mais fortes te escutam, os mais confiáveis sabem o quanto me torno chato quando começo a falar de ti. E teus ombros? Meus lábios, se tivessem vida própria, teriam ignorado tudo para aplacá-los. Eu já não posso mais pensar, a não ser tua pele aveludada se chocando na minha boca, ou vice versa. Ombros que desejei, tão forte delicadeza; tão inabalável desejo.

11 de agosto de 2012

Longínqua iminência?



Não pode simplesmente "não fazer sentido". Não que eu necessite encontrar um, no final de tudo, mas o problema é que não pode acabar! Não deve. Não pode. Não deve e não pode. Em nome de todos os santos católicos, Deus cristão, deuses pagãos, hinduístas, satânicos, pré-colombianos, gregos, romanos... Em nome de tudo, não vai acabar. Segure esta adaga, Romeu, deixe que o sangue continue a fluir, a brotar feito a promessa mais vívida do início da noite, com todas as porras de roupas de alaúde e o romantismo consequente de sua alma. É uma derradeira iminência que prefiro não encarar, embora tenha pensado nisso sempre. E eu sempre tive medo também, em cada instante de reflexão. O que eu vou ganhar se o sentido não vier e as dores não forem vingadas? Há uma determinação indireta por trás de tudo, planos foram feitos e destinos traçados. Uma vida inteira foi domada ante o vento do acaso. Muito foi construído no meio da desolação. Muito foi nadado e descoberto para um fim simplório destes chegar e... e terminar com tudo? Aí prefiro julgar sob outro ângulo, um menos decisivo e massacrante: é apenas uma tempestade. Já foi dito aqui que ventanias passariam e tudo se acalmaria, e é este pensamento que espero que se concretize. Caso contrário, eu não sei o que vou fazer. Não pode ser assim, é um orgulho humano e essencial que queima dentro de mim. Um propósito que me serve e me propõe a ser não mais um menino, e sim um homem. E que não acabe dessa forma banal e singela, bem como também começou.  

9 de agosto de 2012

Distorção



Capacidade incrível, essa sua. Se digo que vai, me diz que vem; se dou um sorriso, desconfia; se passo segurança, fica insegura. É totalmente o contrário, de uma forma que mal posso descrever. De vez em quando a gente não combina, talvez nem venhamos a combinar num leque de coisas, mas é isso o que torna tudo tão contraditório e especial. O revesso do avesso, um sorriso de divertimento na hora do ciúmes ou da tristeza. Quando sou lágrimas, és alegria; quando sou felicidade, és baixo astral. E de pouco em pouco completa e satisfaz, sem ao menos a gente perceber. Mas tens outra capacidade incrível que, além do contrário habitual, me irrita e me deixa sem explicações (porque quanto mais eu fizer, pior pra mim vai ser). Além do habitual contrário, do revesso do avesso, sabes deturpar minhas palavras como ninguém, invertendo o real sentido e transformando tuas desconfianças em verdades, fazendo das verdades-conflitantes, verdades-verdadeiras. Neologismo lógico. Eu odeio isso, sabes deturpar como ninguém, e o pior: acaba acreditando nisso.

8 de agosto de 2012

Enterrada



Imagine, só imagine, seu mundo quebrando. Pense ler algumas afirmações que vão te jogar no chão, não, não... Serei menos dramático e menos poético: Visualize sua cara de decepção ao ler palavras que vão te deixar feito panaca; imagine você, diante do espelho, chorando e enganada. Imagine. Sendo quebrada, por algo que você não foi feita para ler, mas que ironicamente acabou descobrindo. Pense nesse desprezível mundo novo que até ontem você jamais pensaria desbravar. Que surpresa agradável: você pertence a ele agora. Imagine sua bela face no chão, sangrando ante a dor e o ceticismo. Por que comigo?, você vai estar se perguntando, agarrada ao travesseiro, no escuro, de madrugada, cansada de tanto chorar e por não ter de cair no sono. Imagine, imagine, pense nisso. Seu belo mundinho rachado feito asfalto de mal acabamento, ou um bolo mal feito. Veja a si mesma no reflexo do desespero. E passe meses na loucura, imaginando coisas, pirando, vendo mentiras onde não há, criando desconfiança por tudo que você amava; entre em colapso, queira dar um fim em você mesma. Pense nas lágrimas, imagine a falta de chão, de razão e de motivação. Perca quilos e quilos, escute as brincadeirinhas dos seus “colegas” e “amigos”. Colapso, entre em colapso. Desista da luta pela vida, deixe-se levar pelo oceano como uma canoa à deriva. E então, só então, volte ao seu quase-aprazível ambiente e pare de imaginar. Engula em seco e respire. Veja meu adorável mundo – há muito – novo, de novo. E de novo.

7 de agosto de 2012

Monólogo



Estes textos não fazem mais sentido. Eu deveria ganhar um punhado de dinheiro pelo que faço. Já se foi o tempo de diversão ou divulgação, não sinto mais nada. Cedo ou tarde iria morrer, certo? E meio que o sentimento de morte tá chegando – pouco a pouco, mas tá chegando. Se eu vendesse esses textos para alguém interessado, lucraria bastante. Ou escrevesse só pra catar menininhas carentes? Também não tem graça... Sei lá, eu deveria ter feito antes, mas nunca fui esperto o suficiente pra pensar assim, e agora que estou ciente do que posso fazer, não tenho vontade nem a porra do ânimo. Acho que no fundo não quero ser como uma bicha consagrada ao estilo Caio Fernando Abreu; não quero esse status “cool”, com uma cambada de gentinha carente copiando meus textos pra dizer que tá triste ou deixou um amor para trás. Tá certo que eu nunca chegaria a um nível de estrelato tão grande assim, mas nunca se sabe. Então, melhor eu... Sei lá, tá perdendo a graça, foda-se o resto. Não preciso de inspiração para mais textos, ando precisando de dinheiro e distrações. Ando com um espírito e sentimento tão banais. Pessoas perto de mim andam mudando e trilhando seus próprios caminhos. Preciso me espertar. Vou vender textos e contos, procurar as portas das academias, oferecer aos marmanjos essas palavras bem montadas para que eles consigam conquistar as garotas com algo além dos músculos. E ai vão me agradecer quando estiverem enfiando seus paus nas bocetas delas ou fazendo um anal gostoso. Sei lá. Usem aí essas porras de palavras, que eu me divirto aqui com a grana da retribuição. Aff. Tem nada pra fazer. Nem escrever tem me deixado satisfeito. Amanhã isso passa. Com a graça de Deus, amanhã isso tem de passar.

6 de agosto de 2012

Um Livro



Um livro que me faça lembrá-la. Uma obra que ela estava lendo, que eu não comentei, que eu disse apenas “ah, legal, vou procurar saber", mas que por dentro eu gritava “eu preciso ler essas páginas imediatamente”. Com desespero, com urgência. Um livro que ela vai deixar na escrivaninha ou na estante do quarto, guardado e quase esquecido. Um livro que lerei com fervor, imaginando quais as sensações ela teve ao passear por aquelas linhas. Não importa se, ao final da leitura, ela repudiou a história ou julgou infantil e sem atrativos. Sinceramente? Nem ligo. A coisa mais importante, é esta fixação que criei dentro de mim, por ler algo que ela também leu, como uma forma de senti-la mais perto. Equivalente à comparação de estarmos olhando a mesma lua, na mesma noite, só que separados por milhares de quilômetros. Eu não sei explicar com exatidão e nem me esforçarei a tal coisa. Espero que tenham apenas uma pequena noção de como me sinto, pois eu nunca revelei isso à ela – somente agora, apenas aqui, neste texto perdido entre tantos outros que fiz pensando em sua presença. Não é apenas um livro ou uma simples compulsão por gastar dinheiro nas lojas ou livrarias. É um desejo profundo, secreto e realmente intenso. É um livro de emoções. Um livro de desejos - o meu livro de desejos.

3 de agosto de 2012

Luz



Nós corremos rápido, pelas colinas desinibidas dos nossos desejos. Estávamos lá, juntos e distantes, perto e longe, quando tudo aconteceu. Uma fina luz se propagou, você procurou meu abraço e eu procurei sua presença. Sentados, mesmo parados, nós corremos o mais rápido que conseguimos. Para um fim iminente, um sim decadente, repleto de sorrisos e memórias, páginas de alegria e com um passado sombrio. Ficou apenas no passado, onde não havia luz nem dia, nem iluminados jovens como nós. Quebrada, outrora você esteve; desistente, um dia eu fiquei. Mas isso foi em um noite escura de chuva, onde as nuvens encobriam a minha lua e as suas estrelas. Hoje a luz nos toca. Estamos correndo, mais rápido que qualquer pensamento sem rumo. Mais velozes que a dor e a tristeza, porque nós nos levantamos. Estamos aqui. Duas vezes mais brilhantes que o Sol. Infinitas vezes mais quentes e fortes. Ardendo, queimando. Brilhando.

2 de agosto de 2012

Chamada




Ela ligou para ele, naquela noite chuvosa. Estava se sentido sozinha, inconsolável e perdida. O namorado acabara de sair, cabisbaixo por saber que não conseguiria resolver seus problemas. Era um bom rapaz. Moço trabalhador, direito, dedicado. Talvez até fosse fiel, mas quem saberia ao certo? No mais, havia algo nele que não a satisfazia. Talvez estivessem juntos por pura fachada ou para aplacar carências bem mais profundas. Vai saber? Por isso ela estava sozinha naquela noite, longe do namorado e ligando para o outro. Sim, o outro. Não trocavam carícias, mas se entendiam nas palavras. Se completavam, de uma maneira estranhamente diferente. Aliás, as próprias relações eram estranhas entre os dois. Não se entendiam, mas sempre precisavam um do outro.
- Atende, atende... – Ela sussurrou, com o celular preso ao ouvido. A chamada era interminável, era apenas a segunda vez que tentava.
Ela desligou. Da janela do seu quarto, observou a chuva cair. Jurando para si mesma que ligaria só outra vez, e então esperaria ele se desocupar e retornar a ligação. Ou talvez largasse o orgulho e atendesse. Ele poderia estar fazendo mil coisas, na cabeça da garota, um mundo de acontecimentos se passava com ele. Ela ligou outra vez. Precisava dele. Estava sozinha. O namorado não dava conta. Precisava sentir a ternura e o cuidado que tinha com ela, necessitava sentir que era importante para pelo menos alguém nesse mundo, e esse alguém era ele. O garoto nunca negava, nunca a deixava passar. Estava sempre disponível. Sempre estivera.
Ela ligou. Apertou o celular entre os dedos.
Chamou. Chamou. Chamou.
Do outro lado da linha, o garoto saiu de baixo das cobertas e agarrou o celular na cabeceira. Olhou o número e o nome. Já era a terceira  vez. Seus olhos brilharam. Jurem por Deus, os olhos dele brilharam feito diamantes sob o Sol. Então apertou o botão que silenciava o toque. Deixou chamando e, embora hesitante, voltou para de baixo do lençol. Ele tinha seus momentos e necessidades. Já deixara de viver alguns lances por aquela menina da ligação. Ela saberia esperar, daquela vez. Todos tinham direito de distração. Dispersar pensamentos, males, ciúmes e inveja. Era só o que ele estava fazendo.
A outra garota, a loira, o chamou para voltar às fervorosas carícias. Realmente não se importava com o toque do celular dele. Seja quem fosse, iria esperar. Os dois partilhavam do mesmo pensamento, só que ele sentia uma pontada de remorso. A loira gemeu. Ele continuou. Deslizando as mãos e brincando com os dedos; passeando com a boca, a ponta da língua e movendo o quadril para frente e para trás. Ele fazia o serviço, a loira gemia.
Sobre a cabeceira, o telefone tocava. Chamando não pela terceira vez, mas já pela quinta.
O garoto não atendeu. Já tinha sido ignorado por um certo tempo; havia sido trocado e revogado somente nas horas de carências existenciais da garota. Ser um substituto incomodava e ele precisava se distrair.
Fodendo, fodendo e fodendo.
Simples assim.

Céu



Eu não cheguei ao céu. Não estive lá, não pisei, não toquei o imenso vale que se abriria. Foi apenas uma luz, talvez sombras de um desfalque ilusório, mas que de certa maneira, foi real. A ilusão mais palpável em milhares de quilômetros. Me foi tirado, no entanto. Um destino proclamado desde o início, algo que eu sempre temi ocorrer, mas que aconteceu tão rápido. Como água entre os dedos, o céu me escorregou, escorrendo pelas mãos. Um paraíso distante. Deixando apenas sombras e saudades. Não foi o suficiente. Ter e não ter, ao mesmo tempo. E agora eu fico aqui, à margem da estrada, pedindo carona à primeira oportunidade que me aparecer. Elas até aparecem, mas... Outra vez, novamente e de novo... Eu não ergo a mão. Eu não sinalizo. Eu não peço essa carona. Me perdi no caminho do paraíso, fiquei à espera. Uma morte que nunca morri, fingido ter vivido uma vida que nem desfrutei. O céu não foi o bastante, aquela promessa se quebrou, não consolidou e eu fiquei pra trás. Convencendo-me da tristeza e da solidão. Sem forças pra fingir, nem pra mentir. O céu não acabou para mim, embora tenha desabado. E até quando vou continuar correndo com estes pés cansados? Por onde? Por quanto tempo? À procura do paraíso. Almejando um céu que fui condenado a não tocar. Um céu que não existe, porque não há mais nada no fim. Nada.

1 de agosto de 2012

Batom



Estavam em seus lábios como traçados num mapa de tesouro. O caminho da felicidade, onde descansariam os olhos mais ternos e cansados. Sob linhas perfeitas, ondulações oceânicas. Sob um beijo, sob um toque. E a marca estaria no rosto, na pele alva e sedenta por amor. Um amor da carne, de prazeres terrenos e humanos. Coisa simples, substancial e notória. Quase que clichê. Delicados e delineados, vermelho escarlate do fogo, queimando e assando minha carne. Massacrando minh’alma. Seja em sonho, seja no delírio de quarenta graus. Acordo afobado, na noite mais quente. Arquejando teus lábios, tão vis de renúncia. Batom forte vermelho, da lua amena da quarta. Lembrando pra mim que passou, voou e foi embora. Agora só fica em sonho. De um pobre diabo, um maldito coitado. Batom vermelho de quarta. No meu peito um beijo, para um sonho de desejo.