21 de novembro de 2013

O pesadelo romântico




 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Metáfora perfeita. Não para a criação de belas estrofes, não pela criação do perfeito poema, e sim pela descrição da terrível realidade: não poder tocar, não poder sentir, não poder beijar. Estar próximo, ouvir a respiração, o eco da risada, o brilho dos olhos e o ondular dos cabelos - querer sentir, querer apalpar, por um segundo apenas ou por um momento contínuo, eterno e enganoso, seja nas Terras do sonho, seja na triste realidade. Você já esteve tão perto e tão distante ao mesmo tempo?  Você já esteve na típica situação de um romântico maldito? Já participou dessa realidade imensurável, sem aromas, sem cores, sem toques, ternuras e sabores? Já perdeu tudo em um estalar de dedos? Tec. Tec. Tão próximo da realização, tão próximo da felicidade, tendo em vista diante de si uma pessoa promissora, repleta de metas e perseverança, trazendo consigo um punhado de esperança. Olhos castanhos, com novamente a mesma pele clara de antes, cabelos escuros e sorriso agora mais devoto. E, no entanto, exatamente como nos lamentosos versos do jovem, maldito e ultrarromântico poeta, suas palavras escapam a boca e tudo o que profere são piadinhas sem graça e um distanciamento da atenção - até pode ser tudo, até pode ser encantador, até pode reconhecer as próprias capacidades com a mais singela humildade, mas, diante dela, não passa de mais um abutre querendo esmigalhar a carne entre as pernas com bicadas ferozes e sujas. Então ela te escapa - o momento sublime da contemplação, o clímax negativo no romance. Você a vê girando os pés e sendo acolhida por alguém tão melhor, tão mais animado e menos ridículo. Você perdeu, jovem rapaz, perdeu novamente. Pela brecha observou-a gemer e suspirar numa fração de segundos, deitada na cama ou na verde relva à espera do ideal que seria você, mas foi apenas um sonho onde seus pés correm devagar e a voz some dentro da garganta. Estica a mão. Esmaga o ar. Corre. Corre. Não sai do lugar. Grita. Grita. Grita o silêncio de mil inocentes. Escorrega ante a margem. Cai. Afunda. Despenca e a perde - não necessariamente nessa ordem.
  ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Vê-a partir, sob um forma diferente, sob um nome diferente, sob um rosto distinto. Como todas as outras -  exatamente como todas as outras, sempre assim. De novo e de novo.


11 de novembro de 2013

Jovem demais





 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Eu não vou me explicar de novo, porque você jamais entenderia, a idade e as experiências não permitem. Ninguém trilha o mesmo caminho ou bebe da mesma água que passa sob a ponte, portanto, acredito eu, você jamais entenderá como minha cabeça funciona. Talvez chegue perto, mas como a própria filosofia define: ninguém enxerga de forma igualitária o mesmo objeto de observação. Você é tão jovem, jovem demais, e isso que sente, a princípio, não passa do fogo desesperado que é a paixão. Não, não é amor, talvez não ainda. Só o tempo dirá. Não se ama do dia para a noite, não se ama em uma semana. Ama-se durante o tempo, garota, em meio às dores, às decepções e à carência de racionalidade ao caminhar para o abismo, mesmo sabendo que há ali um poço sem fundo. Existe ainda a grande questão do rótulo e essa necessidade monstruosa de um relacionamento para que Deus e o mundo vejam. É necessário? Ninguém aqui se esconde, demonstremos a todos o nosso afeto, que seja, eu não me importo com isso, mas forçar algo ante os olhos da sociedade já é leviano, superficial e urgente, desnecessário. Minha história faz de mim não um projeto de homem cauteloso e frio, mas sim extremamente ciente do que sente e quer. E a digo: relacionamento forçado e amor como nas linhas de Shakepeare? Não. Não, não é assim. Já fiz mil e um discursos sobre o quanto a felicidade independe de amor ou de rótulos sociais; a alegria não está em três palavras ditas, e sim nos gestos desmedidos ou desprovidos de vergonha, pressão e inconsciência duvidosa. Você é jovem demais para alcançar essa compreensão, até eu sou jovem demais e de aprendizado ainda tenho muito a agregar, mas no pouco que vivi, extraí o máximo de lições e com elas vim a este texto expressá-las.
 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Garota, juro, há algo que você precisa aprender ainda, algo que ultimamente pouco anda entendendo, por mais que eu repita e repita as mesmas demonstrações de afeto. Aliás, é... Quando demonstro afeto e preocupação, você chora por eu não pronunciar simples três palavras. Maldita frase utópica. Eu já errei ao proferi-la – tinha 14 anos desde a última vez que o fiz e, de lá pra cá, quando pronunciei verdadeiramente, fui interpretado como mentiroso e tudo o que recebi foram dúvidas. Tudo o que faço é digno de dúvidas, a propósito, especialmente com você. Demonstro meu carinho, demonstro meu afeto, mas você não há de acreditar de qualquer forma, pura e simplesmente em função do meu silêncio quando questionado: “Você me ama? Por que não diz que ama?”. És jovem demais e um dia entenderá que anda agindo equivocadamente. E que fique claro uma coisa: não sou eu quem a ilude, é você mesma quem o faz, forçando-me agir com um sentimento grande demais que não surge assim de uma semana para a outra; é você mesma quem se ilude achando que “amor” é simples, rápido e arrebatador assim.
 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  É você quem se ilude, pequena. Talvez por ser jovem demais.


5 de novembro de 2013

Reencontre sua chuva



 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Às duas da tarde ela aparece. Ainda que substantivo feminino, consegue ser surpreendentemente pontual.  Mas também traz consigo toda a força e altivez que cada mulher carrega em si. E como é gostosa, deslumbrante! A chuva brinda as tardes da terra cabana, renovando as energias de seu povo. Mas pra mim, que fui acolhido por esse chão, ela tem algo mais, algo místico. O cheiro de terra, o gosto salgado do suor do meu rosto que ela arrasta até minha boca enquanto levanto minha cabeça, admirando sua simplicidade, sua fluidez. Talvez o que me encante seja toda a vida que ela proporciona, talvez seja o fato de que, ainda que hoje seja capaz de entender todo o seu ciclo e processos, ela me leve inconscientemente a minha infância, fazendo com que ela não passe de “água que cai do céu”. Há muito não tinha um bem estar tão forte quanto o que senti hoje. Foram tempos difíceis, pra mim e para os que me cercam, e a acabo absorvendo todos os sentimentos que me cercam. A chuva é minha válvula de escape. A água é, de modo geral, mas a chuva tem um quê especial. Ela traz memórias que eu não seria capaz de recordar sozinho. Comer uma manga no fundo do quintal, brincar com o cachorro, jogar bola com os amigos e se machucar, mas rir quando vê que a chuva leva o pouco sangue perdido, junto com todas as vibrações ruins. Mãos dadas, uma prima com medo da chuva chorava, soluçava. Arrestei-a em detrimento das ordens de meus pais e tios, só pra mostrar o que realmente era a chuva e tentar fazer uma menina apavorada se vislumbrar como até hoje eu me pego vislumbrado. Seu sorriso largo e olhos semicerrados diziam tudo. Hoje ela já não tem medo. Fica impressionada? Nunca perguntei, é subjetivo, pessoal. Só me pergunto quantas pessoas ainda param pra aproveitar as pequenas coisas, as quais são as que realmente importam como diria o clichê. O texto não era pra ser sobre isso, mas os 15 minutos que eu fiquei parado na esquina de casa “pegando chuva” depois de um dia estressante, me mostraram que enquanto eu puder preservar alguns prazeres que mantinha quando pequeno, eu ainda sou capaz de entender o sentido de felicidade, por que não há nada mais sincero que a felicidade de uma criança, e a chuva fez eu me sentir uma novamente. Mais uma vez, não tenho fórmula, não afirmo que é lei, não peço que aceite. Porém, se você perdeu uns dez minutos pra ler esse texto, eu só peço uma coisa: ­ ­ ­ ­ ­ ­  ­ ­ ­ ­ ­ ­ Reencontre sua chuva.


(T.S.Banha)