24 de setembro de 2014

Prédio verde



Eu é que nunca mais piso aí”, ele pensou.
Passou por debaixo daquele túnel de imensas e centenárias mangueiras com os pingos de chuva precipitando-se sobre telhados, galhos, numerosas folhas e seus próprios ombros. Foi aí que parou, absorto por memórias agora distantes dele por tantos anos que quase haviam se tornado pó no depósito de sua mente - quase. Alguém passou por ele com pressa, tentando fugir da chuva que se anunciava logo após o calor de mil graus que fizera na cidade, e agora, com o vento forte e o céu escuro, a avenida inteira se agasalhava como um cachorro amedrontado. Menos ele, ele não, ele ficou ali. Parado, quieto, com punhos cerrados e relembrando um par de olhos verdes que deixou escapar e um abraço ou outro que deveria ter se arriscado com mais coragem. Sabia, no entanto, que era quase sádico cobrar de um menino as atitudes de um homem, bem como todas as respostas que hoje tinha e que há tantos anos o faltavam. “Lugarzinho miserável de pessoas miseráveis, todos uns cagões, eu não ponho meus pés aí nunca mais”. Então um trovão estremeceu o céu e apressou os pingos de chuva, ele puxou um papel do bolso e encarou uma lista com seis itens – com exceção do último, todos estavam riscados.
Documentação do caralho.
Respirou fundo e atravessou a avenida. Malditos fossem todos os deuses e condutores do destino, ele praguejou, e antes que a chuva caísse, entrou no prédio verde – nem todo dia conseguia manter as próprias promessas.  


13 de setembro de 2014

Complexo de Lúcia



Agora eu lembro dos primeiros textos escritos e dos primeiros planos para tornar a semente em algo maior. Daí nasceu Lúcia, aquele broto que sinceramente nunca chegou a florescer de verdade, e nem precisou, morreu ali mesmo no buraco raso em que cavei com mãos rasas e unhas sujas. Lúcia morreu lá, não num depósito de nascimento, mas numa tumba artesanal, esquecida por tantos anos que ninguém além de mim há de lembrar. Lúcia tinha outro nome, como há de se presumir, um nome tão esquecido que é até engraçado lembrar isso agora. Lúcia era chamada T naquela época, antes que tempestades mais arrebatadoras e que se prolongam até hoje me atormentassem. Lúcia ali foi catacumbada, morta, esquecida, libertada da minha obsessão poética e real. E no entanto, um dia qualquer desses, um dia de frutífero planejamento meramente criacionista, Lúcia renasce, não como T, não como M, não como G, mas como obra própria, e sim como Lúcia propriamente dita, do mesmo modo que Maria nasceu sem ter existido ou sem ter se originado do derradeiro C. Lúcia é Lúcia assim como Maria é Maria. O problema é que o complexo de Lúcia e o complexo de Maria tendem a se inclinar em previsões completamente proféticas por obras irônicas do destino, no meu caso, a vida imita a minha arte, bem antes de minha arte passar para o papel, bem antes do mundo conhecer a arte da qual me refiro, quando ela reside apenas nos meus planejamentos pensativos e esboços perdidos em meio às matérias no caderno e nos blocos de nota que espalho pelo quarto.
O mais engraçado, em minhas conclusões introspectivas, é que os complexos de Lúcia e Maria têm o mesmo ímpeto trágico do complexo de Cassandra, aquele que é tão usado em obras fictícias de ciência e enredos mais fantásticos. Já as minhas ficções, com âmbitos mais realísticos, irônicos, sujos e relendo minha própria realidade, com casas cheias de lobos solitários e perdidos, embora não tão fantasiosas assim, insistem em imitar o complexo de Cassandra - e eu juro que lembrei de Cassandra no exato momento em que passei a escrever sobre ela neste texto. Nem isso eu planejei, e porém até aqui a vida profetiza, brinca e escarna.
É engraçado. É irônico.


6 de setembro de 2014

Deus



Finalmente eu posso entendê-lo, quando todo esse fluxo estranho escorre pelas minhas veias. Não que eu tenha sido o mais altivo dos homens, nunca o mais vencedor, nem de longe o mais perseverante e vitorioso, mas aqui, no meu trono magistral da solidão, eu finalmente posso entendê-lo.
É um poder inegável onde ninguém jamais haverá de me alcançar - por mais imundo que eu seja, por mais que técnicas bem refinadas me faltem. Eu finalmente posso entendê-lo, essa dádiva interna, o mover de dedos para criar mundos, desejos, amores e ódio, a raiva e a revolta, o ímpeto ordinário, a magnânima singularidade do bobo e do clichê, a ridicularização secular e o fruto noviço, a epifania titânica - tudo mera e imperceptivelmente resumido nesse Calendário Cósmico em que somos um instante na dobra da criação, uma virada de ponteiro no último segundo e minuto da hora final, no imenso e desconhecido passo para a nova era do amanhã. Sim, eu finalmente posso entendê-lo. Dando vida a criaturas inumanas e concedendo a morte a deuses indestrutíveis e outrora imortais. Aqui, nesse trono magistral da solidão, eu tudo posso por um breve momento de silêncio e plenitude. Sem canonizações, sem cultos, sem admiradores, sem memórias ecoando por futuros distantes – não. Tudo em um só momento, em um só instante, em um único sopro de vida - eu posso entendê-lo.
Eu posso ser Ele.


24 de agosto de 2014

Olhos verdes



São esses imensos olhos verdes e sulistas que me matam, moça.
Aliás, o que mais me afeta de um jeito particularmente aconchegante é essa tristeza estampada neles; essa tristeza que por mais triste que se julgue, não percebe o quão linda é. Não falo a respeito do teor de personalidade que possuem os falsos alegres, falo de uma tristeza verdadeiramente existente, tão íntegra e humilde em seus contornos de um modo que nenhum daqueles falsos e medíocres alegres vêm tentando ou conseguem em integridade ser. É isso o que mata, sabia? A característica mais nobre de uma pessoa cravada em um par de olhos que, puta merda, é uma extrema sacanagem comigo. 
Olhos verdes, sulistas, grandes e íntegros, tão imensos que parecem a todo momento assustados com o próprio turbilhão e que porém não passam de obras simples e transparentes. Eu até poderia aqui poetizar as qualidades inegáveis de olhos misteriosos, concedendo a eles uma filosofia clichê ao estilo “profundos como oceano”, mas seria forçado, seria antinatural, seria mais uma crônica afogada na própria ânsia do sucesso pela fórmula ao invés do foco na substância; teria o pleno e superficial intencionismo de formar linhas perfeitas, encantadoras e meramente compartilháveis. Não é isso o que quero, não é isso o que farei, não deturparei a intensidade dessas linhas, você não merece essa dissimulação em forma de escrita milimetricamente medida e o caralho a quatro, como os falsos poetas e vis admiradores a sua vida inteira fizeram.
Você merece sinceridade, moça.
E sobre sinceridade e imensas esferas esverdeadas, tudo me faz lembrar uma das poucas prosas que compartilhamos, em que você foi triste no dia, profundamente melancólica em suas experiências azarentas ou até mesmo dramáticas. Tão triste quanto eu ou o nosso tipo particular de gente esquecida, vagabunda, melancólica, imundamente poética. Relembro que, nesse dia, soltei alguns conselhos profundos e e bem intencionados, pois quis eu fazer a mínima diferença para a tua tristeza, quis eu que teus olhos verdes me notassem. 
Olha, você merece o esforço, 
porque é uma moça esporadicamente cabisbaixa e sulista, com olhos ironicamente alegres em seu ímpeto pessimista por ser você mesma - isso sempre valerá ao fim de tudo.
Ora, eu amo pessoas tristes.
E amo ainda mais olhos verdes.   




21 de agosto de 2014

Senso de obrigação



Então é isto: aquele cara vagabundo jogado pelos cantos da vida, sustentado por ajudantes bem intencionados e bem visto por pessoas que insistem em garantir a ele a melhor reputação entre os homens e descendentes sanguíneos. Já ouviram falar daquele suposto talento desperdiçado, que teve tudo, mas não aproveitou nada? Pois é. Com a pequena ressalva de que “aproveitar” talvez não seja a palavra mais adequada, quando temos aqui mais uma questão de vocação do que determinação e desperdício. É. Nas coisas mais importantes, para esse cara, não há um senso urgente de obrigação, sobretudo nas coisas que dizem respeito ao meio acadêmico. Em sua cabeça deturpada, toda essa corja não passa de sujeitos arrogantes de queixo empinado que se julgam superiores por possuírem um diploma que, cá entre nós, nem sequer caráter garante necessariamente. Mas não generalizemos, que fique claro. Nesse meio de ovelhas peludas, acomodadas e cultas, para ele é um extremo esforço de paciência galgar semestres e anos, quando no fundo só enxerga a tudo como uma sutil diversão, feita apenas por distração e “vamos lá, talvez seja legal, faço por status e porque o script manda”. Não há nenhum senso íntegro e fidedigno de obrigação aqui, apenas um estorvo transbordando de balelas e idealizações alheias que só pretendem a tudo opinar, opinar e pouco agir ou se autocriticar.
Para esse suposto “talento desperdiçado”, o verdadeiro senso de obrigação não reside num trabalho para a próxima semana, uma apresentação de seminário ou presença na listinha do grande e brilhante docente. Para esse lixo menosprezível ambulante, o verdadeiro senso de obrigação é sentar para digitar coisas irrelevantes e mesquinhas como esta; alguns parágrafos por dia; algumas pequenas grandes e imperceptíveis histórias que ninguém percebe, porque a vida é mais altiva que isso e para os outros continua a girar com distrações e obrigações mais importantes. No fim do dia ou no fim da semana, no fim do mês ou no fim do ano, quando esse suposto “talento desperdiçado” não cumpre com sua particular carga horária ou plano de escrita, o incômodo bate forte como uma punheta bem dedicada, tão forte e sádica, dolorosa, repleta com o mais puro e sujo sentimento de culpa. O que realmente incomoda é esse desperdício permeado pela procrastinação da não-escrita - porque isso sim é o que vale para ele.
Sua verdadeira vocação são as linhas diárias, seja de uma crônica suja e utópica, seja de uma grande ficção fantasiosa de terror e suspense. Reprovar semestres e acumular faltas para ele é meramente um peso irrelevante, pois o que pesa é o desperdício de sua vida a cada momento em que não finaliza suas vãs criações.
Esse é seu verdadeiro senso de obrigação. Ele nasceu para essa merda.


16 de agosto de 2014

Eu gosto desses sonhos



Eu gosto desses sonhos estranhos e improváveis, desses extremamente românticos em que a amada está presente, porém distante, sempre sumindo numa nuvem que se dissipa mediante um toque. Eu gosto desses sonhos em que a menina que eu admiro, aquela bonitinha que faz um curso promissor a três blocos do meu, se entrega ao meus braços numa cena pitoresca de improbabilidade infundada, me beijando como se não houvesse amanhã ou aceitando meus carinhos que pessoalmente eu sou incapaz de dar a qualquer uma. Eu gosto desses sonhos malucos, com garotas lindas ou com a garota amada, em que pela primeira vez na vida há um sentimento concreto de realização, por mais utópico que pareça ser. Eu gosto desses sonhos estranhos e impossíveis por uma razão profundamente sádica, dolorosa e masoquista – é que quando eu acordo com os olhos inchados sob um rosto que transmite a verdadeira essência e aparência de um demônio estuprado e decadente tamanho é sua beleza, posso lembrar que aquilo realmente não passou de mais um sonho maluco com realidades que nunca acontecerão e que nunca, jamais, sob hipótese realista alguma, se concretizará numa meta alcançada ou numa força de perseverança digna daqueles idiotas que levam a vida sob uma ótica cem porcento zen e otimista. Eu gosto desses sonhos porque quando acordo, sou tragado à minha realidade novamente, daí lembro que essas bostas não podem acontecer. Eu sinceramente gosto desses sonhos, porque me reduzem a uma honesta, rasteira e completa humildade. Gosto desses sonhos porque, quando eles se realizam (e que, acreditem, vez ou outra assustadoramente acontece), a porcaria da surpresa e da expectativa superada é sempre recompensadora.
Às vezes até os perdedores precisam ganhar.


24 de julho de 2014

Vem que eu te mostro o caminho



Não é necessariamente sobre ela, mas o que me disse naquela tarde de sol poente. Nada de romantizar e poetizar aqui, era só um dia normal, uma tarde juntos na praia com o dia dando lugar ao crepúsculo. Sem metáforas lindas, nada de encher linguiça pra cativar e soar bonitinho. Só um dia comum, uma tarde terminando e as palavras que ela disse: “vem que eu te mostro o caminho”, e me puxou pelo braço, me levou um pouco mais para o fundo e onde seus pés conseguiam pisar. Eu sorri e a abracei – um sorriso normal, um abraço normal, nada de metáforas, nada de encher linguiça. Um sorriso e um abraço comuns. Acho que aquela frase surgiu de alguma brincadeirinha entre nós dois que pipocara no momento anterior, vinda de uma frase oportunista, bonitinha e intencionalmente forçada. Eu jamais iria lembrar o início das conversas e o rumo que elas tomavam, somente os detalhes  e momentos mais bobos, desses que cravam na sua memória sem motivo aparente. É assim que as coisas acontecem: você nunca lembra de tirar foto num surto de extrema alegria, porque está ocupado demais vivendo aquilo para lembrar da porra de qualquer celular, máquina fotográfica ou curtidas em redes sociais. E sobre a alegria, acho que é por isso que lembro da frase “vem que eu te mostro o caminho” e o modo como em seguida ela se encaixou no meu corpo naquele abraço para aplacar o frio da água e da praia. Nós dois, com corpos tão pequenos, magros, frágeis e infantis. Juntos. Numa frase perdida e sem muito sentido em meio a uma brincadeira, um papo furado qualquer sem, necessariamente, promessas de um futuro bom e promissor.
Tudo termina em merda. É a mais pura perspectiva da vida se você quiser assumir o inefável realismo dela. Olhe onde estamos agora, olhe tudo o que nos tornamos e as barreiras que hoje existem. Mas valeu a pena, se eu recordar aqueles três pequenos e infinitos segundos em que a voz dela pronunciou o que na minha memória ficou cravado, posso dizer que valeu a pena. É assim que a vida segue: destrutiva e trágica, porém com belos e momentâneos traços de paz e felicidade.
Vem que eu te mostro o caminho.
Eu devia ter ficado naquela praia.


22 de julho de 2014

A lei da praia



Esta lógica pra sempre me escapará, porque a mim ela nunca pertenceu. Talvez as consequências de uma vida inútil e complexada estejam se refletindo frequentemente, de novo e de novo, num looping infinito que no mês sete volta a atingir seu periélio na variável da velocidade. São biquínis espetaculares, realçando pares de peitos magníficos ou nem tão magníficos assim – é puramente a questão do gosto -, como também as nádegas protuberantes e bem delineadas. “O que é belo há de ser mostrado”, essa será a máxima mais pura e verídica que existirá até os confins do universo em meio ao fim dos tempos. E não falo aqui somente do lado feminino, e sim da parte máscula da coisa. Aliás, talvez seja este o ponto onde quero realmente chegar: é engraçado, em alguns casos, como um corpo te dá a impressão de estourar a qualquer pressão de um palito de dentes. Eu posso espetar aquele braço bonito e tatuado, posso espetar aquele peitoral exibido com tanta superioridade. 
BOOM! 
E lá se vão seus músculos estilo saco de Ruffles regados a anabolizantes.
Entendam: se isso vier a ser uma crítica em forma prosaica, então não é direcionada àqueles que cuidam saudavelmente do corpo, mas àqueles que injetam artifícios ligeiros para a boa forma instantânea, entendem? E o quão belos – ou não – eles ficam ao caminharem por areias e praças, com camisetas coladas para despertar o brilho nos olhos do sexo oposto – ou do mesmo sexo, ora, é um mundo livre! O fato é que eu nunca vou entender e sempre serei avesso ao pífio desfile, à patética exibição de nariz erguido e à irritante superioridade estampada no queixo, no nariz, na carteira, na long neck, na camiseta polo, no fio dental ou na gostosa ao lado. Sempre serei avesso por uma questão simples, básica e até genética: eu nunca serei assim, nunca terei o que eles tanto possuem e nunca esbanjarei o que eles tanto esbanjam. É uma profunda questão de inveja, creio eu - nas entrelinhas sou em demasiado modesto e mentiroso, pois no fundo, pela pura lógica, a questão é na realidade a do bom senso. Uma inveja bem sorrateira, escondida com críticas e chacotas, tão envergonhada da futilidade e inexpressividade de si mesma que prefere criar desculpas sobre “a inteligência supera qualquer padrão de beleza”. Ah, mas que mentira absurda com máscara de “sábia colocação” usada apenas pelos perdedores e seus admiradores. Puta papo furado.
Que os invejosos fadados ao fracasso da minha laia continuem criticando.
Beleza é importante, sim – a lei da praia prova isso melhor do que ninguém.



17 de julho de 2014

Misantropia



Mais uma vez o mundo me incomoda com seus falsos sorrisos, protocolos sociais e uma tentativa sempre enfadonha de inclinar-se à esperança e ao “final feliz”. O mundo é lindo, o mundo é belo, mas o que me emputece mesmo é essa presença passageira, regrada por noites de tédio e tentativas mesquinhas de agradar aquilo que não quer ser agradado. Nem conquistado. Muito menos amado. Onde exatamente eles não entendem? Onde exatamente existe a paciência que me escapa enquanto vivem suas empolgações fúteis e risadas tolas? Onde vive a paz quando o som de seus vozes ecoa nos meus ouvidos, sempre num vai e vem caótico repleto de inocência e aplicações forçadas de seus malditos esforços, hum? Isso cansa. Pelo menos, é claro, neste vão espaço entregue semanalmente à misantropia que, no fundo, eu verdadeiramente odeio. O mundo é ordinário, sujo e imundo, mas as pessoas são bonitas, algumas delas embelezam esse lamaçal com habilidades fantásticas e encantadoras - eis a verdade, mas a misantropia vem e estraga tudo, distorce minha visão de mundo e assassina a facadas minha já frágil paciência. E aí eu não quero atenção, eu não quero carinho, eu não quero afeto, porra, eu não quero amores, eu não quero ser amado. É tão difícil assim entender?
Tudo o que quero é ser esquecido, abandonado e pilhado feito um lixo judeu em época de holocausto – ou só durante as férias mesmo.
Vai funcionar.


16 de julho de 2014

Decepção



Que decepção!, ela pensou. E a culpa ainda foi minha, como sempre. Ora, diabos. Mas não é chateação que sinto, e sim diversão, porque é legal quando as expectativas quebram como outrora um copo de vidro talhado em perfeições e detalhes bem definidos. Minha vida tem sido assim há muito, muito tempo. Porque essas garotas, por mais maduras que queiram parecer, ainda imaginam que eu sou um cara legal, romântico e panaca, idealizam em mim um tipo perfeito de rapaz, só porque eu consigo escrever coisas legais que as agradam. Merda, hein? Desculpa, moça, mas eu não sou aquele escritor perfeito que você imaginou. Eu sou só um cara normal, talvez um cara normal com tendência a pender mais para o lado fracassado do que qualquer outro. E a culpa acaba por ser minha, mas, saiba, eu não enganei ninguém, e me isento de toda a responsabilidade pelas expectativas que você mesma criou enquanto lia minhas linhas antes do momento de me conhecer. A culpa é sua, moça, inteiramente sua, não jogue-a sobre mim, não me odeie, não me menospreze só porque você imaginou toda aquela baboseira ao estilo conto de fadas. Se o próprio Bukowski não vivia bêbado e era extremamente sensível e nada canalha, porque eu deveria ser o que escrevo?
Pense nisso. Eu não tenho culpa por ser uma decepção para você.
Nem para ninguém.
Nem pra porra nenhuma.


3 de julho de 2014

O que eu aprendi com Californication




Acabou. Chega ao fim mais uma dessas boas séries que sempre foram ótimas e que te deixam uma pergunta no ar: “e agora, o que me resta?”.
A primeira vez que assisti Californication, eu devia ter uns 14 ou 15 anos, era extremamente imaturo (mais ainda) e enxergava a série como apenas um show repleto de putaria e sacanagem – que é o que parece à primeira vista. Sempre me pareceu divertida, mas nada que me fizesse brilhar os olhos. Então os anos passaram, a vida aconteceu, merdas aconteceram, o amor veio e se foi (não totalmente), os sonhos, as metas, os planejamentos e as descobertas sobre o que eu quero da minha vida. E foi aí que resolvi reassistir, porque, ora, é uma série sobre um escritor fodido, certo? Daí pra frente, foi ladeira abaixo.
Como mencionei antes, Californication pode parecer à primeira vista como um show machista de exaltação a um cara fodão que sai comendo todas por aí e, confesso, se você encarar dessa maneira, fará todo o sentido. Mas não queira enxergar assim, caso contrário perderá a oportunidade de se apaixonar por uma série que vai muito além disso, permeando comédia, tragédia, uma história de amor fadada ao fracasso com um anti-herói que não desistirá fácil. Portanto, vou tentar expor aqui algumas coisas que me foram extremamente úteis, lições que aprendi com Hank Moody e que nada dizem respeito sobre “o importante da vida é comer todas” – muito pelo contrário!



Para começar, existe essa grande identificação com o fato de você correr atrás de sua felicidade, e quando digo “felicidade”, quero dizer “amor”, quero dizer A mulher que te embaraça os sentimentos e te faz agir como um menininho. A primeira temporada já começa com a Karen dizendo ao Hank que irá se casar, então imagine o amor de sua vida anunciando isso. Ok. Até aí não há nada de tão novo na série, mas o que quero dizer é que entre altos e baixos ao longo de sete temporadas, o Hank nunca deixou de correr atrás de Karen. Correr atrás, caros amigos, não significa “encher o saco nas redes sociais, mandar mensagem a cada segundo, viver batendo na porta da pessoa e aporrinhando a paciência”. Não. Correr atrás significa abrir mão de muitas coisas que o fariam bem para persistir naquilo que você acredita. Por vezes (e na sexta temporada isso é extremamente evidente), Hank Moody teve a chance de seguir por outros caminhos e ficar com mulheres que sim, tinham a chance de fazê-lo feliz, mas havia alguém que ainda merecia uma chance também, alguém que ele nunca desistiu. É disso o que falo. É impossível seguir em frente quando o seu coração diz que aquele não é o caminho certo, que aquela não é a hora; é impossível seguir em frente quando o seu coração simplesmente pertence à sua amada.
Disso eu entendo, Hank.



Sobre a parte envolvendo relações e sexo casual com outras mulheres, eis algo que eu realmente aprendi com Californication e tento tornar hábito ao máximo em cada instante do dia: Hank Moody é um perfeito cavalheiro. Ele possui um cavalheirismo que existe sem pretensões, trata a todas as mulheres em volta com extremo respeito, mesmo aquelas que foderam sua vida e que de alguma maneira o afastaram de Karen. É incrível como ele as trata, como transa com cada uma e depois do sexo, consegue colocá-las em um pedestal magnífico, exaltando-as, admirando-as, mas expondo tanto a elas quanto ao mundo um detalhe importante: “é somente uma quem amo de verdade”. A antiga visão de cavalheirismo aqui é transformada, praticamente contextualizada numa cidade de perversidades e depravações, porém permanecesse intacta em sua essência. Não importa se tivermos um cara sacana que vive bêbado, fala um bando de porcarias e só faz merda, ele sempre tratará uma mulher com respeito. Isso fica claro em alguns episódios que ele defende uma prostituta dos xingamentos de alguém, ou quando questionado “com quantas mulheres você já transou, Hank?” e sua resposta é: “um homem de verdade não revela essas coisas”. Eu sou homem, tenho amigos e parentes homens, sei como eles funcionam, sei como eles agem ao verem uma mulher “gostosa”, o que pensam, o que dizem. Mesmo o ato de falar “quero ‘comer’ aquela ali” é algo inexistente em Hank. Vejam bem, não exalto o personagem, porque ele não nega qualquer chance de sexo casual que aparecer em sua frente, mas o detalhe desse cavalheirismo está no modo como trata as mulheres e mesmo as palavras que utiliza para descrevê-las. Acreditem, Hank consegue utilizar a palavra “vagina” em uma frase de forma extremamente respeitosa, com níveis incríveis de exaltação, comédia e sinceridade.


Nessa empreitada de acompanhar as temporadas nos últimos dois anos, confesso que aprendi muito sobre enxergar a beleza dentro de cada mulher, justamente em função dessa exaltação cavalheiresca de Hank. Abandonei uma porrada de preconceitos sobre tipos de corpo, cor de pele, penteado de cabelo ou até mesmo a frequência com que uma garota gosta de fazer sexo. Aprendi com Hank que não importa quem seja a mulher, há sempre um coração batendo ali dentro, há sempre uma menininha ainda inocente que só deseja ser amada – aliás, é isso o que todo ser humano quer, certo? Não que todas elas sejam o sexo frágil, longe disso, mas que elas não devem ser tratadas com aquela antiga visão machista onde todas não passam de um puro objeto. Acredite quem quiser, mas foi graças à série que parei de pronunciar a expressão “comer” do modo como é comumente expressada, e confesso que me sinto um pouco incomodado sempre que escuto.
Essas palavras passarão despercebidas por muitas pessoas, alguns até mesmo fungarão o nariz e ignorarão logo pelo título. A razão? Eu. E Californication, é claro. É visível a boa disposição que muitos possuem de julgar algumas séries e alguns posicionamentos sem nem ao mesmo mergulharem em seu conteúdo, disso não posso culpá-los. Não posso culpá-los por uma série onde um cara beberrão encontra uma garota pronta para abrir as pernas ou sem querer – SEM QUERER MESMO – cai de boca na vagina de uma mulher errada porque pensou que fosse a mulher certa. Talvez eu até esteja embelezando a série, colocando virtudes e análises profundas onde só existe sacanagem, vai saber?
E entre cavalheirismo, bons modos de se tratar uma mulher ou correr atrás do amor da sua vida custe o que custar, há um escritor fracassado que por temporadas tenta acertar com seus próprios livros e sua filha. Vejam, a personagem de Becca é o ponto alto de racionalidade entre todas as brigas de Hank e Karen.


Com Hank, aprendi lições que poderia nunca nem enxergar mesmo entre as páginas de Bukowski. Porque Hank não é tão sujo quanto o velho Buk, e não que isso o torne superior ou inferior, mas o que quero dizer é que enquanto temos um velho Buk tentando bancar o durão e algumas vezes um tanto misógino, temos Hank, que é sensível e dobrável por natureza, não tem vergonha de admitir seus erros (e são muitos) e fraquezas. Ok, ok. O velho Buk também faz isso, e que fique claro que eu também amo o velho safado, mas o Hank é um tipo mais sensível de cara durão, um tipo mais sensível de cara apaixonado, romântico, alcoólatra e vencedor nas merdas que persiste fazer... Sem querer querendo.
Este não é um post-análise sobre o fim da série, não quero falar sobre isso aqui – talvez nem tão cedo. Mas se eu tiver de me posicionar sobre ela, então o que tenho a dizer é: quem assistiu ao término da primeira temporada, sabe que contos de fadas nunca terminam em seu fim “oficial”, o próprio criador da série, Tom Kapinos, fala sobre isso. Há sempre uma história além desse suposto final, porque haverá sempre vida e continuidade, por mais que não olhemos atentamente. Merdas sempre acontecerão, principalmente tratando-se de Hank Moody, e este término de série nos ensina essa exata lição. E uma história que fala a respeito de um escritor é extremamente inteligente ao valer-se da metalinguagem para mostrar todos esses aspectos sobre finalizações, quando utiliza o personagem principal para explicar como a vida se desenrola – seja ela real, seja ela fictícia: não existem finais definitivos, pois enquanto existirmos, haverá drama, erros, acertos, tristezas e felicidades.
Como ele mesmo diz, após ler uma carta inacabada a Karen:

“Querida Karen,

É assim que começa. Estive pensando em nós, é, com um “N” maiúsculo. Nossa história, como vou resumir? Tem sido perfeita? Dificilmente. Qualquer história comigo no centro nunca será nada menos que uma confusão engraçada. Mas o que tenho certeza é: nosso tempo no Sol foi absolutamente lindo. Os pesadelos, as ressacas, o sexo e os socos. A loucura maravilhosa de nossa cidade, onde por anos acordava, fazia merda, dizia que sentia muito, desmaiava e fazia tudo de novo. Como escritor, sou péssimo para finais felizes. O cara fica com a garota. Ela o salva dele mesmo... E fim. Como um cara que ama uma garota, percebi que não há nada como isso. Não há pôr do Sol. Só há o agora e nós dois, o que pode ser assustador demais às vezes. Mas se fechar seus olhos e ouvir o sussurro de seu coração, se continuar tentando e nunca, nunca desistir, não importa quantas vezes entenda errado; até o começo e fim virarem algo chamado “até nos reencontrarmos.

É isso. Eu não soube como terminar. Porque não acabou. E nunca acabará, enquanto houver você, enquanto houver eu, enquanto houver esperança e graça".



É sempre complicado dizer adeus às coisas que você se apega, sobretudo séries que de alguma forma te tocam tanto. E este sou eu dizendo adeus a Californication, extraindo lições de lugares onde geralmente alguns jamais extrairiam. É com ela que aprendo noções básicas da vida que poderia ter aprendido em família, entre amigos, em livros, em análises vindas com o tempo de vida e maturidade. É aqui onde aprendo que, por mais clichê, idiota, utópico e bobo que pareça, você não deve desistir daquilo que te faz bem, seja família, seja uma mulher.
Ou simplesmente uma garota, no caso de alguns.
Obrigado, Hank Moody. 





“Para a porra de todo o sempre, querida”.


20 de junho de 2014

O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft



Olá, leitores do Noite na Taverna! Vou aproveitar o espaço do blog para fazer uma divulgação, já que é o único meio mais abrangente que tenho de comunicação.
Para quem me acompanha nas redes sociais ou apenas acompanha o blog, lendo principalmente “Cemetery Drive”, sabe o quanto perturbo com conversas sobre H.P. Lovecraft, o quanto vejo as referências de sua literatura e dos “Mythos de Cthulhu” em um milhão de lugares e sou fascinado por esse universo. Ele é disparadamente meu escritor de terror favorito, inspirou e inspira diversos fãs e seguidores, possui influências seja na literatura de terror, suspense, ficção científica, como também no cinema, na tv, nos quadrinhos e até mesmo na música. A cultura pop é recheada com elementos de seu universo, e somos bombardeados por eles, quer saibamos disso ou não.
Aqui no blog, “Cemetery Drive 29” é uma homenagem singela e clara ao autor, e como fã e entusiasta, faço sempre o possível para levar um pouquinho desse universo a todos ao meu redor.
Muito bem, aproveitando minha paixão por esse universo inominável de terror e insanidade, venho aqui falar sobre o trabalho sensacional que o Denílson do http://www.sitelovecraft.com vem fazendo com uma antologia com vários dos mais famosos contos de Lovecraft. O livro já está na sua segunda edição, é incerto se haverá ou não outras daqui em diante, por isso, não vacilem. Ele é feito sob medida, com uma arte de capa bem trabalhada e, o que que mais me animou, é que possui cartas escritas pelo autor e alguns ensaios também. É maravilhoso, já que não possuímos materiais assim traduzidos aqui no Brasil pelas grandes editoras.
Não vou falar muito, deixarei os maiores detalhes abaixo. Espero que vocês se interessem e garantam seus exemplares, e aproveitem que a data de pagamento da pré-venda foi prorrogada até o dia 13 de Julho! O meu já está garantido e estou na indescritível, inominável e insana expectativa para a chegada do livro.





INÍCIO DA PRÉ-VENDA DA 2ª EDIÇÃO DO LIVRO
 ‘O MUNDO FANTÁSTICO DE H.P. LOVECRAFT’
(O livro só será vendido em pré-venda)


Há 10 anos, o site www.sitelovecraft.com/ divulga a vida e obra de um dos maiores escritores de ficção e horror de todos os tempos: H.P. Lovecraft (1890-1937). Através de uma excelente equipe, o site organizou e traduziu a maior e melhor reunião de obras de Lovecraft em nosso idioma, o livro: ‘O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft’ – Antologia – Contos, Poesias e Ensaios. A obra teve a expectativa de venda superada, esgotando-se rapidamente a 1ª edição. Como o sucesso foi grande estamos disponibilizando a “2ª edição melhorada”. O livro é independente e por isso é vendido apenas através de pré-venda, pois precisamos de recursos para impressão. O preço sugerido é de R$ 69,00 (envio gratuito), com formato grande (16x23cm) em papel pólen, além de fotos, biografia, introdução, prefácio e posfácio em suas mais de 300 páginas.

Prefácio: Quando as Estrelas se Alinharem
Introdução: Uma Longa Jornada
Biografia de H.P. Lovecraft: O Homem que Escrevia Sonhos
Notas a 2ª edição

O Chamado de Cthulhu
O Festival
A História do Necronomicon
A Cidade sem Nome
O Descendente
Sonhos na Casa da Bruxa
O Horror de Dunwich
A Busca de Iranon
O Forasteiro
O Inominável
A Sombra em Innsmouth
O Sabujo
Um Sussurro na Escuridão
O Depoimento de Randolph Carter
O Habitante das Trevas

- Apêndice
Notas Quanto a Escrever Ficção Fantástica
Uma Elegia ao Dr. Franklin Chase Clark
O Jardim
A Rosa da Inglaterra
Os Fungos de Yuggoth
Carta de H.P. Lovecraft a Robert E. Howard
Frases de H.P. Lovecraft
Posfácio: Um Passado Sublime






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