Então é isto: aquele cara vagabundo
jogado pelos cantos da vida, sustentado por ajudantes bem intencionados e bem
visto por pessoas que insistem em garantir a ele a melhor reputação entre os
homens e descendentes sanguíneos. Já ouviram falar daquele suposto talento
desperdiçado, que teve tudo, mas não aproveitou nada? Pois é. Com a pequena
ressalva de que “aproveitar” talvez
não seja a palavra mais adequada, quando temos aqui mais uma questão de vocação
do que determinação e desperdício. É. Nas coisas mais importantes, para esse
cara, não há um senso urgente de obrigação, sobretudo nas coisas que dizem
respeito ao meio acadêmico. Em sua cabeça deturpada, toda essa corja não passa
de sujeitos arrogantes de queixo empinado que se julgam superiores por possuírem
um diploma que, cá entre nós, nem sequer caráter garante necessariamente. Mas
não generalizemos, que fique claro. Nesse meio de ovelhas peludas, acomodadas e
cultas, para ele é um extremo esforço
de paciência galgar semestres e anos, quando no fundo só enxerga a tudo como
uma sutil diversão, feita apenas por distração e “vamos lá, talvez seja legal, faço por status e porque o script manda”.
Não há nenhum senso íntegro e fidedigno de obrigação aqui, apenas um estorvo
transbordando de balelas e idealizações alheias que só pretendem a tudo opinar,
opinar e pouco agir ou se autocriticar.
Para esse suposto “talento
desperdiçado”, o verdadeiro senso de obrigação não reside num trabalho para a
próxima semana, uma apresentação de seminário ou presença na listinha do grande
e brilhante docente. Para esse lixo menosprezível ambulante, o verdadeiro senso
de obrigação é sentar para digitar coisas irrelevantes e mesquinhas como esta;
alguns parágrafos por dia; algumas pequenas grandes e imperceptíveis histórias
que ninguém percebe, porque a vida é mais altiva que isso e para os outros
continua a girar com distrações e obrigações mais importantes. No fim do dia ou
no fim da semana, no fim do mês ou no fim do ano, quando esse suposto “talento desperdiçado” não cumpre com sua
particular carga horária ou plano de escrita, o incômodo bate forte como uma
punheta bem dedicada, tão forte e sádica, dolorosa, repleta com o mais puro e
sujo sentimento de culpa. O que realmente incomoda é esse desperdício permeado
pela procrastinação da não-escrita - porque isso sim é o que vale para ele.
Sua verdadeira vocação são as linhas
diárias, seja de uma crônica suja e utópica, seja de uma grande ficção
fantasiosa de terror e suspense. Reprovar semestres e acumular faltas para ele
é meramente um peso irrelevante, pois o que pesa é o desperdício de sua vida a
cada momento em que não finaliza suas vãs criações.
Esse é seu verdadeiro senso de
obrigação. Ele nasceu para essa merda.
Você continua genial.
ResponderExcluirNinguém em sã consciência haveria de dizer o contrário.
Merdas como essa valerão ouro um dia.
Que os deuses te escutem, anônimo. Que os deuses te escutem!
ExcluirMuito obrigado! :D