Agora eu lembro dos primeiros textos
escritos e dos primeiros planos para tornar a semente em algo maior. Daí nasceu
Lúcia, aquele broto que sinceramente nunca chegou a florescer de verdade, e nem
precisou, morreu ali mesmo no buraco raso em que cavei com mãos rasas e unhas
sujas. Lúcia morreu lá, não num depósito de nascimento, mas numa tumba
artesanal, esquecida por tantos anos que ninguém além de mim há de lembrar. Lúcia
tinha outro nome, como há de se presumir, um nome tão esquecido que é até
engraçado lembrar isso agora. Lúcia era chamada T naquela época, antes que
tempestades mais arrebatadoras e que se prolongam até hoje me atormentassem. Lúcia
ali foi catacumbada, morta, esquecida, libertada da minha obsessão poética e
real. E no entanto, um dia qualquer desses, um dia de frutífero planejamento
meramente criacionista, Lúcia renasce, não como T, não como M, não como G, mas
como obra própria, e sim como Lúcia propriamente dita, do mesmo modo que Maria
nasceu sem ter existido ou sem ter se originado do derradeiro C. Lúcia é Lúcia
assim como Maria é Maria. O problema é que o complexo de Lúcia e o complexo de
Maria tendem a se inclinar em previsões completamente proféticas por obras irônicas
do destino, no meu caso, a vida imita a minha
arte, bem antes de minha arte passar para o papel, bem antes do mundo
conhecer a arte da qual me refiro, quando ela reside apenas nos meus
planejamentos pensativos e esboços perdidos em meio às matérias no caderno e
nos blocos de nota que espalho pelo quarto.
O mais engraçado, em minhas conclusões
introspectivas, é que os complexos de Lúcia e Maria têm o mesmo ímpeto trágico
do complexo de Cassandra, aquele que é tão usado em obras fictícias de ciência
e enredos mais fantásticos. Já as minhas ficções, com âmbitos mais realísticos,
irônicos, sujos e relendo minha própria realidade, com casas cheias de lobos
solitários e perdidos, embora não tão fantasiosas assim, insistem em imitar o
complexo de Cassandra - e eu juro que lembrei de Cassandra no exato momento em
que passei a escrever sobre ela neste texto. Nem isso eu planejei, e porém até
aqui a vida profetiza, brinca e escarna.
É engraçado. É irônico.
Devo admitir que não acompanho tanto seu blog quanto gostaria. Deve ser a terceira ou quarta crônica que leio e cada uma me encanta de um jeito único. Novo ao mesmo tempo em que traz nostalgia.
ResponderExcluirKisu ^3^ no kokoro <3
Obrigado, Maria! Nem precisa acompanhar sempre, é só dar uma volta de vez em quando por aqui e eu já sou grato!
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