Mais um fim de semana. Nada mudou.
Amanhã é segunda de novo, e nada
mudou. Meu sono permanece o mesmo, como se eu não tivesse todos esses dias
acordado na hora do almoço e tomado café na hora do bife. Minha vontade, ainda
inexoravelmente morta e fria, pareceu ter esquecido de ligar o despertador, e
mais uma vez, mais um dia eu fico atrasado para a primeira aula, perco o ônibus,
perco o ânimo e perco a frequência – provavelmente na disciplina da vida eu já
estou reprovado. Mais um fim de semana e eu não li aquela pilha de livros da
qual gastei tanto dinheiro; não li meus autores favoritos e só por osmose julgo
conhecer tudo dos meus heróis literários. Mais um fim de semana e não estudei o
que deveria para a progressiva construção do meu futuro acadêmico e
profissional; mais um fim de semana e adiei um bom estágio, um bom emprego, um
bom salário e uma boa reputação. Mais um fim de semana e aquele sonho se
distancia, porque não guardei dinheiro o suficiente para encontrá-la em
qualquer feriado prolongado que os vagabundos deste país amam prolongar;
mais um fim de semana e provavelmente eu nunca a encontrarei novamente; mais um
fim de semana e eu nem sequer vou poder comprar com meu próprio bolso aquele
videogame, aquela camiseta, aquele carro, aquela prostituta, aquela Coca-Cola.
Mais um fim de semana e tudo o que queria era apenas poder existir, como a
lesma na fotografia de Manoel de Barros. Mais um fim de semana e semestre que
vem não existirá. Mais um fim de semana assim, existindo sem compromissos, e
meus velhos ficarão mais velhos, começarão a cobrar o peso de um vagabundo
existencial que pensa que é uma lesma. Mais um fim de semana vazio, sem
responsabilidades, apenas rico de ócio e construções literárias banais, que nada
me recompensarão em um futuro próximo ou distante. Mais um fim de semana
sozinho, abdicando de amores que não tenho mais forças para aguentar e
lembranças que não tenho mais forças para possuir.
Mais um fim de semana de tempo sádico
e massacrante.
Ontem eu tinha 12, hoje tenho 21 e
amanhã terei 32.
E nada vai mudar.