26 de abril de 2015

Fim de semana



Mais um fim de semana. Nada mudou.
Amanhã é segunda de novo, e nada mudou. Meu sono permanece o mesmo, como se eu não tivesse todos esses dias acordado na hora do almoço e tomado café na hora do bife. Minha vontade, ainda inexoravelmente morta e fria, pareceu ter esquecido de ligar o despertador, e mais uma vez, mais um dia eu fico atrasado para a primeira aula, perco o ônibus, perco o ânimo e perco a frequência – provavelmente na disciplina da vida eu já estou reprovado. Mais um fim de semana e eu não li aquela pilha de livros da qual gastei tanto dinheiro; não li meus autores favoritos e só por osmose julgo conhecer tudo dos meus heróis literários. Mais um fim de semana e não estudei o que deveria para a progressiva construção do meu futuro acadêmico e profissional; mais um fim de semana e adiei um bom estágio, um bom emprego, um bom salário e uma boa reputação. Mais um fim de semana e aquele sonho se distancia, porque não guardei dinheiro o suficiente para encontrá-la em qualquer feriado prolongado que os vagabundos deste país amam prolongar; mais um fim de semana e provavelmente eu nunca a encontrarei novamente; mais um fim de semana e eu nem sequer vou poder comprar com meu próprio bolso aquele videogame, aquela camiseta, aquele carro, aquela prostituta, aquela Coca-Cola. Mais um fim de semana e tudo o que queria era apenas poder existir, como a lesma na fotografia de Manoel de Barros. Mais um fim de semana e semestre que vem não existirá. Mais um fim de semana assim, existindo sem compromissos, e meus velhos ficarão mais velhos, começarão a cobrar o peso de um vagabundo existencial que pensa que é uma lesma. Mais um fim de semana vazio, sem responsabilidades, apenas rico de ócio e construções literárias banais, que nada me recompensarão em um futuro próximo ou distante. Mais um fim de semana sozinho, abdicando de amores que não tenho mais forças para aguentar e lembranças que não tenho mais forças para possuir.
Mais um fim de semana de tempo sádico e massacrante.
Ontem eu tinha 12, hoje tenho 21 e amanhã terei 32.
E nada vai mudar.    


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