Sou um
repetitivo desastre, com vãs palavras avariadas sobre os mesmos dramas de
outrem. Eu repito os cabelos e geralmente estou me jogando neles, como me jogo
nos seus agora – negros e brilhantes, aparados à altura dos ombros alvos e
pintados pelas manchinhas herdadas do seu pai, “esse velho marinheiro pilantra”, como você carinhosamente costuma
reclamar. É quase um segredo, mas da última vez que comi o bom churrasco
sulista do velho, contou-me ele uma peripécia que aprontou para enfim aportar
em definitivo na Terra das Mangueiras por causa da sua mãe de sorriso fácil,
gargalhada gostosa e professora recitadora de Drummond.
Assim, ele aqui
ficou e assim você aqui brotou, com as manchinhas nos ombros que ele carrega no
rosto e a acolhedora risada que sua velha carrega na alma. É dessa forma que em
teus ombros tocados por teus cabelos eu me perco, repetindo as mais proferidas,
porém articuladas palavras que tantos homens antes, durante e depois de mim
proferiram ou haverão de proferir – não para você, é claro, mas bem poderia
ser. Aqui eu facilmente me perco, durante o churrasco sulista do teu velho
marinheiro pilantra de manchinhas no rosto e da tua velha e sábia professora de
cativante sorriso, que até Drummond recitou pra mim naquele domingo, em sinal
de sincera empatia. Acho que teus velhos gostam de mim, é um bom sinal, pois
assim haverei eu de retornar aí e cair de mente e peito revirado por esses
curtos cabelos negros, beijar esses aveludados lábios de orvalho e afagar as
manchinhas do teu ombro com meus dedos indignos, perdidos, vadios e profanos.
Sou um
repetitivo desastre, com vãs palavras empasteladas sobre os mesmos dramas de
outrem – ombros, cabelos e sorrisos.
Os melhores
temas a me desgraçar.
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