21 de abril de 2017

Complexo de Camilla



Abro uma pasta no computador. Material antigo, acumulado. Estou à procura de palavras que deixei passar e que na época não tive coragem de expor, que tive vergonha por pensar ou consideração em não pronunciar. Releio criações há muito esquecidas - criações de personagens e pseudônimos esquecidos. Palavras com anos de idade, palavras estranhamente mais antigas que os tornados que assolaram os prados da banda de cá.
Palavras que assustadoramente previam, detalhe por detalhe, um futuro que eu nem cogitava de fato se concretizar.
Acendo um cigarro - na época, eu detestava a menor menção à nicotina. Estou assustado comigo mesmo. Seria um dom divinatório ou uma capacidade extremamente aguçada de análise e observação?
Relações são matemáticas. Algumas, quando iniciadas desde cedo de forma violenta, forçada e abusiva, dão a você um resultado percentualmente esperado.
Aí você se contamina.
Preto vira branco, branco se torna sujo e tudo acinzenta.
No entanto, eu não sou matemático.
Muito menos profeta.
Como eu fiz aquilo?
Camilla Tavares esteve correta diante de suas observações.
Camilla que era eu e eu que fui Camilla, esta noite, sutilmente me aterroriza.
Disse ela já naqueles tempos que tudo terminaria em “sangue e guerra”.
Eis o complexo de Cassandra novamente.
Eu não quero que Camilla volte tão cedo.
 eu
não                  quero.
.


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