14 de agosto de 2017

ÀS DEZ E ALGUMA COISA



Eu nunca reparei o modo como a luz entra pela minha
janela
exatamente às dez e
alguma coisa da
manhã.
Fiz uma foto dos lençóis,
não há ninguém nestes
lençóis a não ser eu
mesmo,
eu queria dizer que sinto
sua
falta
acordando primeiro que eu e tomando
banho primeiro que eu e me acordando
já toda arrumada prestes a me
deixar.
Eu queria dizer que sinto
sua
falta
eu queria dizer que sinto
falta
do modo como seu cabelo não embaraçava
e sempre cheirava mesmo quando
fedia
ou mesmo quando você dizia que
fedia, embora ele nunca de fato
fedesse.
Eu sinto sua
falta e sinto
falta de nunca ter descoberto o
modo
como a luz entra pela
janela às dez e
alguma coisa da
manhã
ondulando teus
castanhos
cabelos
e clareando teus
escuros
espelhos.
Eu nunca te vi se enroscar nestes
lençóis às dez e
alguma coisa da
manhã sob a luz desse mesmo sol que eu
percebi hoje,
só hoje
então me faz um favor e vê se
volta,
só volta
porque faz falta eu
descobrir coisa
nova
contigo aqui nesses
lençóis, como o sol que entra pela
minha janela
às dez e alguma
coisa da
manhã, meu amor.

(Felipe Santiago)












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