1 de março de 2018

Primeiro de Março




Um texto sem propósito.
Ou não.

Há exatos 50 anos, Johnny Cash e June Carter subiam ao altar, diante dos olhos de homens e de mulheres, diante das benções de Deus. June tornava-se Cash, embora fosse mais Carter que Cash até o dia de sua morte.
John Carter Cash, filho do casal, revelou em livro quase recente que o conto de fadas não fora exatamente um conto: ao longo dos anos, o pai continuou a lutar contra as drogas, as brigas vieram e June possuía um medo terrível daquilo que quase todos nós também tememos. As discussões continuaram e as promessas de rompimento também. Como um bom Peixe sob olhos e decisões das estrelas, Johnny não partia para a violência física durante e depois das brigas, mas se afastava – dias e dias consigo mesmo, dentro de si e envolto por milhas e milhas de distância daqueles que estavam centímetros ao seu lado.
O conto de fadas, como entoam as fotos e as histórias, pode não ter sido inteiramente um conto, mas quando há escolha, quando há aceitação e quando há o mínimo de devoção, talvez ainda haja algo. E foi isso (esse algo) que houve até o fim.
John Carter Cash diz que na infância, após uma briga de palavras violentas entre os pais, ele foi chamado à sala, tinham uma notícia importante a comunicá-lo. 
Qual?
A renovação dos votos.
Em 23 de Junho de 1994, em seu aniversário de 65 anos, June-mais-Carter-que-Cash recebeu uma carta de seu marido. A carta foi eleita como a mais romântica da história.
Já Johnny possuía uma lista de afazeres:

1.     Não fumar.
2.     Beijar June.
3.     Não beijar mais ninguém.
4.     Tossir.
5.     Mijar.
6.     Comer.
7.     Não comer demais.
8.     Preocupar-se.
9.     Ver mamãe.
10.    Praticar piano.

Notas:
            Não escrever notas.

São nas listas e nos pontos acima que residem os detalhes. São os detalhes que nos levam ao fim. São eles que nos fazem permanecer na união e na crença. São os detalhes que nos levam todo ano, há cinquenta anos, em cada primeiro de Março, a pensar nas pequenas grandes coisas – não necessariamente no ato, no compromisso ou no matrimônio; não nas grandes utopias ou no produto sentimental há séculos vendido, mas nas pequenas coisas.
Nos detalhes minúsculos, desses que nos fazem acreditar nas coisas belas.



Carta:



Lista:




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