Um texto sem propósito.
Ou não.
Há exatos
50 anos, Johnny Cash e June Carter subiam ao altar, diante dos olhos de homens
e de mulheres, diante das benções de Deus. June tornava-se Cash, embora fosse
mais Carter que Cash até o dia de sua morte.
John Carter
Cash, filho do casal, revelou em livro quase recente que o conto de fadas não
fora exatamente um conto: ao longo dos anos, o pai continuou a lutar contra as
drogas, as brigas vieram e June possuía um medo terrível daquilo que quase todos
nós também tememos. As discussões continuaram e as promessas de rompimento
também. Como um bom Peixe sob olhos e decisões das estrelas, Johnny não partia
para a violência física durante e depois das brigas, mas se afastava – dias e
dias consigo mesmo, dentro de si e envolto por milhas e milhas de distância daqueles que estavam centímetros ao seu lado.
O conto de
fadas, como entoam as fotos e as histórias, pode não ter sido inteiramente um
conto, mas quando há escolha, quando há aceitação e quando há o mínimo de
devoção, talvez ainda haja algo. E foi isso (esse algo) que houve até o fim.
John Carter
Cash diz que na infância, após uma briga de palavras violentas entre os pais,
ele foi chamado à sala, tinham uma notícia importante a comunicá-lo.
Qual?
Qual?
A renovação
dos votos.
Em 23 de
Junho de 1994, em seu aniversário de 65 anos, June-mais-Carter-que-Cash recebeu
uma carta de seu marido. A carta foi eleita como a mais romântica da história.
Já Johnny possuía uma lista de afazeres:
1. Não fumar.
2. Beijar June.
3. Não beijar mais ninguém.
4. Tossir.
5. Mijar.
6. Comer.
7. Não comer
demais.
8. Preocupar-se.
9. Ver mamãe.
10. Praticar piano.
Notas:
Não escrever notas.
São nas listas
e nos pontos acima que residem os detalhes. São os detalhes que nos levam ao
fim. São eles que nos fazem permanecer na união e na crença. São os detalhes
que nos levam todo ano, há cinquenta anos, em cada primeiro de Março, a pensar
nas pequenas grandes coisas – não necessariamente
no ato, no compromisso ou no matrimônio; não nas grandes utopias ou no produto sentimental
há séculos vendido, mas nas pequenas coisas.
Nos
detalhes minúsculos, desses que nos fazem acreditar nas coisas belas.
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