Abro
uma pasta no computador. Material antigo, acumulado. Estou à procura de
palavras que deixei passar e que na época não tive coragem de expor, que tive
vergonha por pensar ou consideração em não pronunciar. Releio criações há muito
esquecidas - criações de personagens e pseudônimos esquecidos. Palavras com anos
de idade, palavras estranhamente mais antigas que os tornados que assolaram os
prados da banda de cá.
Palavras
que assustadoramente previam, detalhe por detalhe, um futuro que eu nem
cogitava de fato se concretizar.
Acendo
um cigarro - na época, eu detestava a menor menção à nicotina. Estou assustado
comigo mesmo. Seria um dom divinatório ou uma capacidade extremamente aguçada
de análise e observação?
Relações
são matemáticas. Algumas, quando iniciadas desde cedo de forma violenta,
forçada e abusiva, dão a você um resultado percentualmente esperado.
Aí
você se contamina.
Preto
vira branco, branco se torna sujo e tudo acinzenta.
No
entanto, eu não sou matemático.
Muito
menos profeta.
Como
eu fiz aquilo?
Camilla
Tavares esteve correta diante de suas observações.
Camilla
que era eu e eu que fui Camilla, esta noite, sutilmente me aterroriza.
Disse
ela já naqueles tempos que tudo terminaria em “sangue e guerra”.
Eis o
complexo de Cassandra novamente.
Eu
não quero que Camilla volte tão cedo.
eu
não quero.
.
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