Certa vez pensei em escrever um
texto, cujo título seria “guerreiro”. Nele, eu descrevia todas as fortes razões
para um homem voltar para casa, ao fim do dia ou da jornada, para a mulher
amada. Eu descrevia, fibra por fibra, a imensa alegria de um homem ao ouvir um
“eu amo você” da mulher apreciada, e o quanto isso o revigora de maneiras
indescritíveis. No texto, eu dizia que ele enfrentaria todas as mais vis e
sólidas barreiras para alcançar o caminho de volta e, ao fim da aventura,
repousaria entre os seios da amada, o calor de seu corpo e delírio entre as
pernas. Pensei em escrever esse texto em um ano que embora não esteja longe, me
parece a lembrança implantada de outra vida. Mas eu nunca o escrevi, nunca
coloquei em prática a ideia, não por preguiça, mas por um motivo que me soou
estranhamente íntegro na época: se descrevesse o que sentia, se descrevesse
mais uma vez, então compartilharia com o mundo algo que deveria ser mantido
aqui, em segredo, distante do conhecimento de pessoas que nada tinham a ver com
tais palavras. Soaria como uma motivação indigna; pareceria, no fim das contas,
que o guerreiro em questão só desejava ser amado para ter forças e vencer
batalhas, ou que o poeta só desejava ser amado para ter inspirações para
escrever mais. Aos olhos do mundo, soaria exatamente assim. Mas não o é, e por
isso jamais esse texto escrevi. Não pelo medo do mundo me julgar, mas pelo
terror de você me interpretar
erroneamente – coisa que, cá entre nós, parece ser uma terrível tendência sua.
Não escrevi, guardando assim uma das razões por eu ter feito um milhão de
coisas que fiz. O problema, ah, o problema, é que a motivação sumiu,
desapareceu. Esse falho guerreiro não tem vontade para desbravar o que um dia
desbravou, porque não há mais uma donzela esperando-o no lar com os braços
abertos e sorriso no rosto. Por razões múltiplas, a donzela cansou de esperar,
cuspiu e partiu com outro guerreiro ou talvez por si própria – porque mulheres
vivem sem homens, mas o contrário não. Na batalha, só restou um inútil garoto
com a espada na mão em meio à guerra. Isso não é para soar dramático, é apenas
um pequeno e leve lembrete de que, às vezes, a atitude mais sábia está
justamente em não sair de casa e em não ir à guerra.
É de suma importância que se fique. Ou
o guerreiro conhecerá o abismo.
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