Eu quero ser este céu tão belo,
despido de
tempestade e de chuva, despido de
ventania passageira, de ventania
intensa
a perturbar noite faceira.
Eu quero ser calmaria de foto em mês
de
Julho, na praia doce a espreitar
pensamento sorrateiro que não ousa,
sereno e conciliador, afastar.
Diante destes versos descobertos
eu quero ter recompensa um dia
sabendo que sentir e escrever
trouxe paz e harmonia.
Eu não mais quero para as coisas
belas
somente olhar com decepção e amargor
se o escrever e o sentir não trazem
recompensa,
não trazem refúgio para a dor.
Não a dor do amor finado, alado,
que em espaçadas estações vem e
morre,
abandona e deixa, tão passageiro, tão
violento,
fugindo sem explicações, estúpido e
massacrado.
Não a dor dos nocivos
neurotransmissores
que em meu cérebro criam demônios,
fantasmas noturnos a assombrar e
reflexos
de minh'alma, gradativos, a matar.
Não a dor das trocas onde, mendigo,
encolhido,
precisa em cíclica constância aceitar
e sabendo que vagabundo a chorar
pelas letras e pelos versos é
murmúrio passado,
tema maldito e obsoleto que revira os
olhos terceiros
por repetitivo terror já visto, em
suma calcificado.
Não a dor de ser vergonha de Março,
Não a dor de querer ser foto de
Julho,
Não a dor de sonhar paz de Novembro.
Não a dor das causas de sempre,
não a dor do alarido,
mas saber que leitor caga e despreza
tecelagem,
saber que leitor caga e despreza dor
de não ser lido.
(Felipe Santiago)
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