Eu entro em casa, depois de um dia
estressante de aula. Meus pés doem, os sapatos me prendem a circulação e meu único
conforto nesse caminho são os fones de ouvido. Deveria ser um saco, mas as
reclamações ficam da porta pra fora. Você
está lá, superando todas minhas expectativas. Me esperando, não como se eu
fosse o centro do seu universo, muito
menos dependendo da minha pessoa – eu até diria o contrário. Mas é isso o que me faz
brotar um sorriso todo fim de noite. Nunca dependeu de mim, mas por gentileza
e graciosidade, finge que sim. Me espera no sofá, esparramada assistindo algum
filme idiota de terror ou o clichê de comédias românticas; na varanda lendo um
livro, com a incrível e irritante capacidade de devorar centenas de páginas em
poucas horas; pela cozinha, me guiando com o aroma do café ou do chocolate
quente em dias de chuva e frio. Está
sempre ali, sempre. Nos dias que sai e me abandona ante a recepção, faz
questão de deixar um bilhete, inventando algum rumo que eu sei que não é o
verdadeiro. Eu não ligo, porque acaba voltando – às vezes demora dias,
à vezes poucas horas -, cruza aquela porta, e faz a gentileza de fingir que sou
o único e o mais importante. Você não me
pertence, nunca pertenceu a ninguém, aliás. Essa é a parte linda, essa é a
parte boa: está livre como nenhum pássaro jamais foi. Nas ocasiões que bateu em minha porta, bêbada e
regrada por outras drogas; desfeita em lágrimas sem sequer confessá-las; com
uma muda de roupas para, no mínimo, um mês inteiro. É pra cá que você vem, é
aqui que você dorme, ao meu lado, envolvendo os braços em meu corpo e deitando a
cabeça feita uma criança amedrontada – e aí as horas voam pela madrugada, sem atos
sexuais, sem palavra alguma dita, não precisa, não é necessário. Você sempre
volta, esse é o meu conforto no final do
dia, entende? Me faz sentir um pouco importante dentro desse coração de si
mesma; me faz sentir ligeiramente especial, às vezes confuso, perdido e
desolado. Mas sempre confortado, imensamente feliz.
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