Canalha, mas boa.
A vida é canalha, mas boa. Muito boa
mesmo. Eu comecei a escrever essa crônica derrubando minhas frustrações
cotidianas no computador, me fazendo de vítima culpando a vida por tudo,
reclamando como uma criança contrariada. Apaguei e reescrevi tudo. Apaguei por
ter percebido que minha vida é boa. Imensuravelmente boa. Sem demasias. E
teorias conspiratórias à parte, a sociedade impõe essa insatisfação para nós.
Por meio de um corpo que dificilmente alcançaremos, um carro que nunca iremos
dirigir, uma vida pela qual não poderemos pagar. E nós, ao invés de nos
revoltarmos e entendermos que não é necessário, simplesmente nos mecanizamos
para alcançarmos o tão fabuloso ‘sonho americano’. Admiro meu professor, que
tem um carro ’98 e não faz questão de trocar. Ele é exemplo pra todos nós, até
porque ele tem dinheiro pra ter um carro do ano. Isso diferencia as pessoas.
Acreditar que a vida é mais que tudo aquilo que não temos é essencial,
imprescindível. E a partir do momento em que você entende isso, tentar provocar
essa mudança nos outros se torna uma obrigação. Talvez já tenha alcançado esse
ponto. Realmente espero, já que eu tenho uma ideologia anarquista muito grande,
mesmo que eu não pratique ativamente, já que às vezes me deixo levar pelos
encantos capitalistas. Ainda sou muito imperfeito, tenho algumas das aspirações
materiais desnecessárias que eu tanto critico. Sim, sou um pouco hipócrita, mas
tenho feito todo o possível pra me aproximar do que eu considero correto, por
mais que as coisas não sejam tão fáceis. De qualquer forma, não posso reclamar
da vida, afinal, se fosse fácil não teria graça alguma. E toda vez que eu falar
que ‘tá tudo ótimo’, ainda que seja irônico, pode crer que eu estou tentando me
convencer disso, já que antes de mudar o mundo, temos que primeiramente começar
pelo mais difícil: mudar nós mesmos.
(T.S
Banha)
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