Sem problemas com a coroa. Coroa? Tá novinha, vai, admito, nem às margens
dos 40, com rostinho de 30. Aliás, volto a repetir: sem problemas com ela, e
uso ”coroa” porque ela é minha – me pertence – e assim escolhi tratá-la neste
texto. Prosseguindo: nos damos muito bem, bem demais. Eu não sobreviveria sem
ela, devo minha vida, por sinal. Mas é o jeito que ela me olha de vez em
quando, sabem? Aquela tonalidade sutil com um sorrisinho misterioso no rosto.
Ela me avalia porque, assim como ela me pertence, eu também pertenço à ela. A
coroa me conhece mais do que ninguém, porque me educou e me viu crescer. Mas às
vezes, e como todo o bom filho, eu dou uns vacilos e sou um estúpido bruto. É
justamente aí que ela me olha e começa a ter aqueles pensamentos que,
acreditem, eu sei muito bem quais rumos estão tomando, porque antes ela já
verbalizou com nojo e desorgulho, e nunca esqueci. Não sou vítima, sou o
culpado, que fique claro. Quando ela me analisa com desânimo e responde todas minhas
perguntas. Fica claro pra mim porque sou assim, tanto por fora, quanto –
principalmente – por dentro. Ela tem razão, afinal. As mães sempre têm razão. E
quando ela diz que terminarei essa vida sozinho, sem ninguém ao lado, é porque
ela não está sendo carrasca ou extremista, e sim verdadeira. No fundo, é um suave conselho que me sussurra: “Faça certo,
seja diferente, por favor. Por favor, meu filho, ou você estará perdido, sem
ninguém, sem alegrias”.
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