23 de novembro de 2022

a verdade sobre o desaparecimento da srta. Finch ou Criaturas Noturnas ou um texto sobre ficção

Arte de Michael Zulli para "Facts in the Case of the Departure of Miss Finch", Neil Gaiman.

 


Leio a verdade sobre o desaparecimento da srta. Finch. É a penúltima adaptação do encadernado. Comprei a edição há mais de um ano. Li as três primeiras narrativas há mais de um ano. A segunda, lembro bem, foi na varanda. Criaturas da Noite: sobre um gato preto protetor que todas as noites se engalfinha com o Diabo – um touro, um minotauro, uma mulher, um gato selvagem odioso – para proteger a casa e a família, subvertendo a folclórica imagem dos bichanos pretos que trazem azar. Enquanto eu lia, haviam dois gatos de rua perto de mim naquela tarde. Fiz um vídeo. Naquela varanda eu nem desconfiava do futuro. Naquela varanda fizemos história. Você fez história. Dormiu demais. Sonhou demais. Confraternizou demais. Brincou, riu, ralhou, viveu demais. Contou-me histórias, quando deitávamos na rede e nos embalávamos. Eu, muito pequeno, cabia embaixo dos teus braços. Até hoje, lembro de uma história que inventei e que você parecia tão atento e interessado: a do macaco-folha. Era um macaquinho assombroso que tinha asas debaixo dos braços, quais folhas, e ele se camuflava no topo das árvores, igual àquela que tinha num terreno do outro lado da rua, gigante, que um dia durante uma tempestade foi atingida por um raio, tombou por sobre o muro e caiu na rua. Virou reportagem, dessas que não se encontra na internet porque isso foi muito, muito antes da internet e dos smartphones. Até seu Antônio, vizinho fofoqueiro e que não dá muito as caras hoje em dia por conta da idade, deu entrevista. RBA. O Liberal. Foi o maior hit de sucesso que a rua Esperanto conheceu. Era naquela árvore que vivia o macaco-folha. Com a árvore, foi-se o macaco. Com os anos, foram-se as folhas. O terreno foi adquirido tempos depois. Virou um residencial que hoje toma quase todo um quarteirão. As coisas mudam, mas nem todas. Eu ainda invento histórias. Ainda tenho certa predileção por contá-las. Não são as melhores. Nem são contadas da melhor maneira nem lidas por muita gente. Irrelevantes. Esquecidas. A gente faz o que pode. Leio a verdade sobre o desaparecimento da srta. Finch agora. No momento desta sentença, ainda não a terminei – o público acabou de entrar nas galerias subterrâneas de Londres, recentemente apresentada ao Teatro dos Sonhos Noturnos. Se eu disser que leio este encadernado sem sentimentos ruins, estaria mentindo. Tem sido uma tortura. Caso contrário, estas palavras nem se fariam existentes. Lembro que a edição chegou pelos Correios naquela pausa de quase 8 meses em que estivemos na sua casa. Foi uma bagunça. Foi uma confusão. Mas sempre cabia a todos nós, hóspedes temporários: quatro pessoas e duas gatas, as nossas. Mas cabíamos. Com esforço, caberíamos de um jeito ou de outro, porque você nunca diria não e estaria sempre sorridente, alegre por nos ver ali, por nos ter por perto de novo. A reforma aqui de casa foi demorada, e, portanto, nossa estadia na sua casa também.  Ainda bem. Foi a minha última extensa morada ali, meu último extenso tempo contigo – mas ninguém sabia de nenhuma dessas coisas, porque se alguém disse que o amor é um cão dos diabos, é porque não parou pra pensar sobre o futuro. A gente olha sempre pra trás com uma sapiência inútil. Acho que Deus é esse grande sujeito que a tudo pode, mas pouco sabe e vice-versa. Porque quando Ele sabe, não pode. E quando pode, já passou. Passou. Li Criaturas da Noite naquela varanda há mais de um ano. Disso me lembro tão bem. Naquela varanda em que fizemos história, em que nossa família fez história. Agora, continuar a ler este encadernado é penoso. Embora, materialmente, uma coisa nada tenha a ver com a outra, apenas o meu costumeiro hábito de abandonar pela metade todas as leituras que dou início. Difícil pensar que quando comecei a ler, você estava ali. Agora que termino, você já se foi há meses. Por que machuca tanto? Lembrar. Pensar. Vincular um fato aleatório a uma época específica. Por quê? Naquela varanda onde você enfrentou o assaltante e escapou de um tiro e se safou de morrer, onde esteve por diversas vezes sentado, falando a meu respeito e sobre como eu havia publicado mais um livro – embora meu nome só estivesse espremido no meio de tantos outros autores e embora o livro nem fosse meu nem necessariamente só meu – enquanto eu fingia não escutar, porque sempre tive vergonha de ser exageradamente louvado, admirado, exaltado. Terminar esta leitura vai ser penoso. Tem sido doloroso. Pensar que a comecei naquela varanda, onde moramos por 25 anos e, agora, quase 5 meses pra cá, a casa nem é mais nossa, nem te tem mais nela nem a nós, nossa família ou nossas cores ou nossas vozes. Tudo porque você não está mais lá nem nunca mais estará. Tudo porque a vida é um sopro, não de rápida ou de irrelevante, mas de inconstante: hoje estamos aqui, amanhã, com sorte, talvez. Muito talvez. Terminar esta leitura tem sido um fardo que me traz a estas linhas talvez desconexas, sem muito sentido, sem muita coesão, sem muitos parágrafos, sem métricas, sem atenções, sem acabamentos. Leio a verdade sobre o desaparecimento da srta. Finch, mas isto é só ficção. Divertida. Interessante. Passageira. Não me ajuda a lidar com o teu desaparecimento físico. Ajuda? Só me faz lembrar de um ano atrás. De mim sentado na varanda. Lendo sobre o gato protetor que todas as noites lutava contra o Diabo para proteger a família e a casa à beira da estrada. Só me faz lembrar daquele dia em que a vida era mais fácil porque a tua ausência ainda não existia. Gatos podem nos proteger do mau e até a srta. Finch pode desaparecer em uma câmara subterrânea nos abismos de Londres para realizar seu improvável sonho de biogeóloga. Tudo isso a ficção possibilita. A ficção pode tudo. As histórias são capazes de mudar o que há aqui dentro, mas são incapazes de trazer o passado real de volta. A realidade, tão precária e deficiente, não possibilita o retorno real da carne desfalecida ou das cinzas consumadas. Por isso contamos histórias, por isso macacos-folha existem, por isso "o consumo de ficção independentemente da mídia tem um papel muito mais importante do que somos capazes de perceber. É verdade, não somos médicos e não salvamos vidas, mas talvez salvemos sonhos, fantasias, sentimentos", diz o prefácio que nunca teve a intenção de se encaixar no teor destas palavras, mas ironicamente o faz. A realidade, falha, tão falha, não possibilita o dom de voltar, de congelar o relógio, de lá confraternizar ou de ali pra sempre ficar quando você ainda existia. Quando você ainda estava. Quando a casa ainda era nossa – e a varanda e as memórias e as histórias. Quando a vida era menos vazia e o luto não havia. Porra. Que Inferno. Que saudade. Outro dia, muito depois deste texto finalizado, e que agora mais uma vez o altero (acho que finalmente cheguei à versão final), sonhei contigo. Um sonho certamente influenciado pela construção destas palavras e pelo martírio deste sentimento. No sonho, eu te abraçava. Confessava angústia. E te perguntava qual o sentido disso? Qual o sentido da saudade? E você, sorridente, me respondia que significava que valeu a pena. A vida e o que foi feito dela valeram pena. A ficção me ensinou, em um diálogo banal de blockbuster de verão, que o luto é senão o amor que perdura. Acho que é verdade. A realidade massacra. Ela dói e traz angústia. Mas o que são os sonhos senão a representação ideal da realidade? O que são os sonhos senão a nossa forma particular de fazer ficção, de contar histórias, de vivê-las, de relembrá-las e de senti-las? Acho que agora entendi, embora a dor ainda esteja aqui. Entendi aquele seu passeio aqui nos meus sonhos. Aquele abraço macio. Aquele sorriso imortal. A ficção pode tudo. Ela combate a saudade, luta contra o luto. Torna o amor eterno. E se os sonhos são ficção, então a ficção é eterna. Esse é o melhor final que eu posso dar a este texto. Me desculpa. E obrigado.


31 de outubro de 2022

Cemetery Drive #38 - Devorador de almas


 

 

 

 

Change that song, Mr. DJ

All we wanna hear is rock 'n' roll tonight

 

(Change that song, Mr. DJ - Tim Timebomb) 

 


 

I.

Angakkuq

 

 

Como um punhal atravessado a noite, a rota 33 cortava a pequena cidade agrícola sem nome ao meio. O que há mais de duas décadas havia sido uma importante rota comercial de insumos e fertilizantes, hoje não passava de um ponto monótono no meio do mapa, mera parada obrigatória – mais por falta de opção do que por motivos atraentes – para aventureiros e viajantes na pausa de quinze minutos que os ônibus interestaduais faziam ali.

O local ficava à beira da estrada: não um terminal, mas um antigo e já desativado posto de gasolina com pequeno estacionamento e uma simplória e abandonada galeria de lojas. À época da inauguração, foi um dos principais e mais atrativos cartões postais da cidade – a lista não era verdadeiramente extensa nem sequer existente. O prefeito, cuja família dominava o cargo há cinco gerações no passado e dominaria adiante no futuro, estampou propagandas em outdoors num raio de quilômetros, convidando os viajantes a desfrutarem da diversão. A prosperidade, entretanto, não passou de areia escorregando pela cintura da ampulheta. Por nenhuma razão especial, a terra cobrou seu preço: as secas vieram e com elas, a crise. De repente, a cidadezinha tornou-se um ponto desconhecido no mapa, cujo nome tanto se perdeu que nem aqui foi ou será mencionado. 

Da galeria, tudo o que restou foram as coberturas do posto de gasolina, que ainda forneciam a iluminação necessária para afastar a escuridão total, tanques oxidados, reservatórios vazios e um telefone público sem gancho. Nenhuma dessas coisas tinha utilidade, eram senão ordinárias decorações. Apenas a pequena cabine de venda de passagens funcionava. Ela servia como ponto de parada e era a única companhia de viagem interestadual que fazia trajeto obrigatório ao longo da rota 33. Durante o dia, não era incomum encontrar ônibus estacionados fazendo conexões e trocando de passageiros, que se espreguiçavam, acendiam seus cigarros, buscavam informações com o vendedor da cabine ou praguejavam o fato de que o único banheiro exibisse um garrafal INTERDITADO na porta. O aviso estava ali há quase cinco anos.

Era noite de Halloween - não que o ar estivesse diferente ou que crianças perambulassem, fantasiadas, pelas ruas. Àquela hora da noite, não havia mais linhas fazendo conexões. O próximo ônibus só passaria às oito da manhã, quando o velho funcionário já estaria há mais de duas horas sentado organizando os bilhetes com seu sorriso amistoso. Para ele, o contato com pessoas de outros lugares do mundo era o fator mais importante (e empolgante) de seu ofício.

Apesar disso, desconfiou do jovem padre que estava ali sentado desde as oito da noite. Vez ou outra, o sacerdote esticava os pés e caminhava distraído com as mãos mergulhadas no sobretudo escuro. Tanto os cabelos como os olhos eram de um preto profundo, bem alinhados atrás da orelha até mesmo quando o vento morno de outubro os desarranjava. Nos ombros relaxados, carregava uma elegância natural, e atravessada no peito, uma bolsa igualmente preta. Pelas horas que ficou ali, não tocou na mala, tampouco se afastou dela. Ao contrário dos jovens daquela época – ele não aparentava passar dos trinta e cinco anos –, não fez uso de aparelho celular. Parecia bem-sucedido em se manter absorto, à espera de algum ônibus que jamais chegaria, pois não fez questão de comprar qualquer bilhete nem de subir nos últimos que por ali passaram horas antes.

Preocupado com o horário e com a natureza do jovem padre, o velho guardou os bilhetes na gaveta junto com a caderneta de horários para o mês de novembro, trancou-os com três voltas; apagou as luzes interiores, fechou a porta com outras três voltas e suspendeu o portão de ferro. Em seguida, usou um pesado cadeado para trancá-lo. Voltou a perguntar ao sacerdote (a mesma pergunta que fizera antes):

— Tem certeza que vai ficar aqui sozinho, padre?

— Minha carona está atrasada – respondeu ele através de um pesado sotaque britânico.

O homem assentiu. Guardou as chaves da cabine no bolso. Nunca havia conversado com alguém de terras tão distantes. De maneira muito discreta e nada invasiva, ele acenou para o padre e seguiu até o estacionamento. Entrou na caminhonete e deu partida nela, para em seguida mergulhar na escuridão da rota 33.

Agora sozinho, o sujeito esticou as pernas e por hábito aqueceu as mãos nos bolsos do sobretudo, embora a noite não estivesse fria. Iluminado apenas pelas últimas luzes acesas do posto de gasolina, ele fechou os olhos e recostou a cabeça na parede. No tempo em que aguardou ali, não escutou qualquer automóvel cruzar a estrada. Relaxado, manteve-se atento aos sons da noite: grilos no interior da galeria, marchando por entre os musgos que certamente subiam pelas paredes; ratos e mariposas que descansavam no capim alto que ocupava o playground aos fundos; morcegos que saíam do interior das velhas lojas para sua noturna caçada e retornavam, saciados, de barrigas cheias e bocas adocicadas, para seu ninho de amantes e comparsas. Além deles, apenas sua respiração fazia coro à orquestra. Ele não se preocupou com perigos escondidos ou ameaças noturnas – fossem elas humanas ou não, pois das certezas que possuía, apegou-se àquela que o ofertaram: encontre-nos no velho posto de gasolina, e fique tranquilo, ele não estará lá

Além dela, outra certeza bem maior o fazia abraçar a falta de preocupação e o preenchia de aparente desleixo, pois não havia desligado os sensores internos de perigo por acaso. Era a certeza da proteção. A certeza de que não morreria aquela noite. A certeza de que não sucumbiria tão cedo. Pois tinha outra missão a ser cumprida, uma maior e mais importante. Não cairia à beira da estrada enfrentando um provável predador sedento de migalhas em cidades sem nome – aquilo era apenas um passatempo, um contratempo, um breve desvio de melhores rotas e conhecidas curvas. Não seria ali, num antigo posto de gasolina, em uma noite amena e inofensiva, enquanto descansava as pálpebras e aguardava para pagar um antigo favor, que estaria em perigo.

Meia hora depois, escutou um ronco distante preencher o silêncio da noite. Pouco a pouco, o primeiro som de motor em mais de três horas se aproximou da antiga galeria à beira da estrada, um alento aos ouvidos. Gradativamente, o sinal de vida aproximou-se até que os faróis do carro iluminassem o estacionamento, então os pneus rangeram sobre os cascalhos e pararam embaixo do posto, onde os ônibus costumavam estacionar. O motor do Ford Crown Victoria 1992 parou de ranger e a ignição foi desligada. O motorista abriu a porta e contornou o veículo para ficar de pé ao lado do padre.

Joseph Akna era alto e corpulento. Em verdade, os quase 2 metros de altura tornavam os 1,80m do padre irrelevantes. Aparentava beirar os cinquenta anos e na cabeça predominavam cabelos grisalhos. Os olhos eram felinos e de um castanho brilhante mesmo na escuridão da noite, traços típicos do povo inuíte. O calor daquelas terras quase áridas era diabólico para um homem como ele, acostumado às baixas temperaturas do norte. Joe estava muito, muito longe de casa.

28 de outubro de 2022

Halloween 22





Aqui estamos e, novamente: é Halloween!

Tá virando tradição? Bom, eu não sei. Gosto bastante da data, independente dos significados e da suposta aculturação da qual tanto reclamam e nos acusam. Tsc. Abaixo o mundo externo. Sejamos todos Policarpos Quaresmas. Louvemos aos deuses ancestrais pré-portugueses.

Fazer o quê? 

Enfim. O blog no geral anda parado em comparação ao que foi por muitos anos. Cheguei naquela provável fase em que priorizo a qualidade acima de quantidade e, ainda assim, a minha qualidade anda (me) deixando a desejar. Divagações à parte, em comemoração ao Halloween deste ano eu trouxe uma surpresa aos leitores mais antigos do blog: 



🎃 Um conto novo de Cemetery Drive 🎃

🎃 Saído da fornalha 🎃



Isso mesmo. Os últimos contos de Cemetery Drive que escrevi e postei foram dois especiais de fim de ano – um de natal, outro de ano novo –, em 2018. O segundo deles foi mais significativo, porque naquela distante vida e naquele distante conto, Annabelle ajudava o deus romano Janus a fazer uma travessia que nos anunciava anos difíceis e tempestuosos pela frente. Alguns diriam que foi um conto agourento, profético. Digo que foi um conto óbvio.  De lá pra cá, os anos foram verdadeiramente difíceis e mais tempestuosos do que imaginávamos – por isso, desde então, invejo todos aqueles que optaram ou fingiram viver em uma caverna escura e alheia aos males do mundo.


Praticamente 4 anos depois, trago este novo conto de Cemetery Drive. É um conto longo, e ao contrário do que fiz no Halloween do ano passado, publicarei na íntegra na segunda-feira, dia 31. Fé, companheiros. Será o dia mais feliz do ano. Consertaremos certos desequilíbrios. Caso contrário, infelizmente, será um dia muito depressivo para todos nós que optamos por viver fora da caverna.


Apesar disso, aguardem. Ele vai sair!


O conto se chama "Devorador de almas" e é o 38º de Cemetery Drive que publico aqui no blog. Nele, Robert é chamado para auxiliar Kaya, uma jovem xamã inuíte, e Joe, o pai da garota, em uma antiga cobrança de favores. Os personagens terão de capturar um espírito da natureza vingativo que se desgarrou de sua terra natal e tem deixado uma trilha de vítimas pelo país. O conto é ambientado em uma rave. Em noite de Halloween. E isso é tudo o que posso adiantar.


Kaya e o pai são personagens novos. Ao contrário dos contos anteriores, os acontecimentos que aqui serão relatados terão direta ligação cronológica com os próximos contos de Cemetery Drive que ainda pretendo escrever e publicar. Aos que não conhecem a história, sugiro que deem uma lida nos contos anteriores. Caso não queiram ler, tá tudo bem, não precisa, dá pra entender o conto sem se perder ou conhecer os personagens principais (nesse caso, Robert). Caso aceitem a tarefa, por favor, relevem a qualidade deles. Um dia sentarei para revisá-los e reescrevê-los tanto técnica quanto tematicamente. Vocês sabem, a gente nunca para de melhorar ou de passar vergonha: num futuro próximo, direi o mesmo sobre o CD 38.


Espero que os antigos leitores de Cemetery Drive ainda costumem passar por aqui. De certa forma, é um presente a cada um de vocês. Espero também que os novos leitores apreciem a aventura e gostem do que lerão. Caso desgostem, tudo bem também. Ainda é um país livre – e esperemos que continue sendo.


Dia 31, segunda-feira, o conto irá ao ar. Aguardo pela leitura e pelo feedback de vocês, se não for pedir muito. Desde já, agradeço pela atenção e pelo carinho.


Espero por todos vocês! 🎃



F.S.









16 de setembro de 2022

Roupas penduradas


 



Um conserto

e um (nem tão) longo diálogo 



 

Há muitas formas de se dizer não. Certos nãos para certos ouvidos são inaudíveis. Clarice não ouve o meu não. Ela não faz questão de escutar, pois seu projeto de amor ou o que acha que isto seja é como algodão a tapar os ouvidos dos defuntos: bloqueiam os lamentos do luto, o choro das viúvas e as dores dos filhos desamparados. 

Há muitas formas de se dizer não e gastei quase todas elas. Ela não me ouve na recusa dos convites, não me ouve na persistência da ausência. Ela não me ouve nas juras de fidelidade a ela não proferidas e nos poemas à outra escritos. Ela não me ouve na delicadeza dos meus eufemismos sobre o mês de Julho que passou distante, durante a viagem que fez a outro estado, na boca do boy beijado e nos sonhos que com ele surgiram. Ela não ouviu como tudo isso me soou conversa desconexa, assunto desinteressante.

Clarice se remexe na cadeira. O sol, do outro lado da baía, ora brilha por trás de seu nariz, ora oculta todo seu rosto. Ela me pergunta se eu não quero mudar de posição, porque

o sol tá dando bem na tua cara.

não, obrigada, tá tudo bem, eu respondo.

Clarice bebe o café com leite amargo na xícara e me justifica que

gosto de misturar com leite, só que também gosto de manter o amargo do preto. É estranho, né? 

Não, nem é tão estranho assim, cada um tem seu jeito de tomar café, eu comento.

Ela pousa as mãos de longas unhas recém-feitas sobre meus joelhos, um ato que pareceria banal se ambas ainda não tivéssemos medo do mundo, de suas vigílias casuais e de seus cochichos entre amigos e família, sobretudo em público. Restringindo-o de nosso afeto, em lugares e em tempos como este, nossas bocas permanecem separadas. Mãos dadas é um risco absurdo, já toques e abraços são mais passíveis de se relevar.

O crepúsculo dá o ar da graça e o movimento dos bons senhores e das boas senhoras de família começa a aumentar. Estamos ambas sentadas em volta da mesa de madeira, vestidas com roupas leves e casuais para permitir que o vento da orla belenense nos atravesse e leve embora o úmido calor de 35ºc de todas as tardes de setembro.

Por que tu me chamaste aqui?, ela pergunta com um brilho incontestável nos olhos.

A tarde tava bonita, respondo com a primeira mentira.

Ah, duvido muito.

Tu duvidas da tarde?

Não, duvido do motivo.

Um fato, pelo menos, é que a tarde não deixa de estar bonita.

Vai, me diz. Qual o motivo?

Esboço um sorriso. Relutante, minto a segunda vez quando escolho dizer que 

é só saudades, eu tava com saudades.

Saudades, é?

Queria te ver, é isso. Conversar, talvez. A tarde tá bonita.

Clarice alarga um sorriso e deslizo na tragédia da inverdade. Se é neste momento que devo controlar minha autoestima, e se, é claro, de autoestima trata-se minha conclusão, disso nem eu sei. Entretanto, imagino-a retrucando minha resposta desejada, aquela que coça na ponta da língua, aquela que, mesmo sequer estando oficialmente juntas, equilibro-me em ovos para da melhor maneira proferir — e, por consequência, afasto-a com agradável mentira. 

Se desnuda, se desmascarada, se minimamente por baixo na posição afetiva da vulnerabilidade, Clarice é capaz de ofender-se. Ofendida, move montanhas. Com montanhas movidas a seu favor, tempestuosos ventos soprariam e miseráveis seriam as reles choupanas no caminho. É o que me afasta da verdade: o medo banal das consequências de um flerte casual, a tempestade de sua boca, vez ou outra beijada, e já tão temida.

Clarice nega diante de toda a cidade e de colegas em comum o que os brilhos nos olhos, as mensagens privadas, os pedidos absurdos, as situações constrangedoras e o disse-me-disse entre amigos me sugerem como verdade consolidada. Apesar da negação, seus olhos permanecem aqui, imutáveis, mais brilhantes que o sol da tarde. Acovardada, e me equilibrando bamba sobre os ovos, dou de ombros.

Me conta mais sobre o boy de Floripa: tens conversado com ele?, tento disfarçar com outro assunto, cutucando a paixão de verão que ela tanto tagarela desde meses atrás.

Bastante, todo dia. A gente sempre troca mensagens e conversamos toda noite, mente ela pela primeira vez.

E aí?

E aí o quê?

E aí, como é que é?

E aí que é ótimo.

Ótimo como?

Ótimo-ótimo.

Balanço a cabeça, fingindo interesse e qualquer outra máscara de empolgação. Sorvo meu café preto. Atolado de açúcar, ele alivia a bile impaciente que importuna meu estômago. Quantas formas de se dizer não ainda existem no mundo?

Tu pensas em voltar pra lá?, pergunto por fim.

Todos os dias, mas não tenho como… sabe… tenho que juntar grana, arrumar algum emprego. Não posso simplesmente só ir, ela mente para mim pela segunda vez ou talvez esteja, na verdade, mentindo para todas as falsas amigas que a mim vazam informações.

É Santa Catarina, não serias a primeira paraense a ir na cara e na coragem.

Isso é verdade.

E o pessoal daqui sempre se encanta e encontra uma vida melhor por lá. São os ares sulistas, acho. Todo aquele refinamento social, o elitismo racial, a certeza da superioridade. Molda a personalidade. Talvez faça bem pra ti, o boy tem até olho claro. Acho que devias investir nessa viagem.

Clarice até sorri, apesar do muxoxo impaciente.

Tu queres que eu vá, então?, pergunta ela, sugestiva.

Indiferente, tentando ocultar o não da obviedade mais óbvia, balanço a cabeça e digo 

acho uma boa, tu encontraste um cara bacana e não babaca. Aproveita. 

Sei lá, hein? Tem gente boa por aqui, às vezes mais perto do que a gente imagina.

Sorvo o café outra vez. Minha face é uma pedra de mármore, fria e descarada.

Não sei não, mana. Do jeito que tu falaste tanto dele, acho que é essa a tua chance. Agarra. Não é todo dia que a gente encontra o amor-da-vida assim.

Será? Ela se inclina na cadeira, o brilho nos olhos ainda ali, só que agora irritadiço. Procura a minha mão e nela entrelaça os dedos. Em seguida, deita a cabeça no meu ombro e pergunta tu me chamaste aqui pra isso? Pra me dizer que tenho que ir embora?

Penso dizer que sim, reluto em dizer que não, porém me calo. Após breve formular de pensamentos, respondo que 

não, pior que não, mas é um assunto importante, já que tens estado tão infeliz com esse calor, com essa gente mal educada, com essas ruas esburacadas e com esse tédio de lugar pequeno sem prosperidade.

É verdade. Eu deveria cair fora.

Tens um ótimo catalisador agora: o boyzinho de Floripa.

Sei lá. Vamo juntas?

Não, eu gosto daqui, respondo minha primeira verdade.

Ela se aninha um pouco mais a mim, ignora os estranhos e disfarçados olhares que ousam nos atingir desconfiados, e diz que 

tem algumas boas razões pra eu ficar, sabia?

Mantenho a indiferença. Acima de tudo, não correspondo à aproximação ao perguntar 

quais razões?

Meu Deus, às vezes acho que o que tu não acreditas sobre horóscopo, compensas incorporando o teu signo.

Como assim?

Sonsa. 

Ela aperta a minha mão em protesto e de imediato se afasta, irritada.

Como assim?

Nada. Deixa pra lá.

Quais razões?

Eu já disse que nada, não é nada.

Em silêncio, voltamos, cada uma, aos nossos cafés. As crianças passam correndo e gritando, casais e famílias passeiam com carrinhos de bebês e o sol, do outro lado do horizonte, já assume um brilho alaranjado, pouco a pouco mergulhando para oscular as ilhas da cidade. Ouso cortar a tensa calmaria ao afirmar que

viu? É essa tua insistência em ficar. Aqui não tem nada e isso te deixa infeliz. Só quero a tua felicidade, minto pela terceira vez, e depois dessa viagem que tu fizeste, acho que talvez ela não esteja aqui. Vale a pena arriscar, não vale?

Já entendi que tu me achas uma amargurada infeliz e queres que eu vá embora.

Clarice, eu juro, não é isso, amanso a voz, mentindo para mim mesma, agora na quarta vez.

Então que porra é essa de insistência pra que eu vá?

Tu me pareceu tão apaixonada durante aquela viagem, sinceramente achei que isso fosse uma solução pra ti e pra essa angústia de viver aqui.

Apaixonada? Por favor…

Ok, vai. Empolgada.

Ora, "empolgada"...

Tenho o impulso de puxar o celular, de mostrar as mensagens, os floreios, as declarações contínuas e diárias na rede social do Bluebird.com, os textos fajutos em blog literário de internet ou os áudios inaudíveis dos quais eu não teria interesse de escutar mesmo se por ela estivesse apaixonada. No fim, nada disso importa porque nada disso é a minha razão verdadeira. Continuo me afastando, temerosa pela tempestade e, sem querer, dando início a uma bem maior.

Ele nem foi o único com quem fiquei em Floripa, tu sabes, ela afirma, categórica.

Mas…

Ora, "apaixonada"! Eu, apaixonada? Ora, ora!, ela diz como quem rechaça o pior dos insultos.

Então o boy de Floripa não foi nada?

Ela gesticula uma resposta, então hesita. Dizer que sim, que a casualidade com o florianopolitano foi banal, destruiria o fato tão aproveitado como estratagema. Caso afirmasse o contrário, acabaria por me desviar da estratégia, e tão logo o boy perderia a função provocativa em terras belenenses.

Não sei por que tu tens insistido tanto nesse assunto, diz ela finalmente.

É só porque toda vez que a gente não se vê ou acaba não ficando, tu falas dele. Aí achei que o boy fosse importante.

Contrariada, Clarice balança a cabeça. Para trazê-la de volta, cantarolo que

se eu tivesse asas como a pomba de Noé, eu voaria através do rio para aquela que eu amo.*

Ela sorri, levemente desarmada. 

De quem é o poema? 

Não é poema. É só uma música, abano as mãos.

Queres ouvir uma música também? 

Claro.

Ela puxa o celular da bolsa e abre o aplicativo do YouTube. Rola o dedo, digita com as longas unhas pela tela. Um solo de violão entra em modo acústico. Nando Reis inicia a letra com um pedido de desculpas, porque anda um pouco atrasado e confessa esperar que ainda haja tempo, pois andou errado e disso entende.

Já escutou? Clarice pergunta.

Não.

Não?!

Não.

Como não?

Desculpa, não. Ainda não tinha escutado. Mas eu gostei muito.

Se chama Por onde andei. Eu sempre escuto e lembro de ti. 

Ah, é? Por quê?

Tu ficas aí o tempo todo sisuda, impenetrável, no fundo fingindo que não se importa comigo ou que não tá me procurando. Toda errada, à mercê, aguardando pra ser corrigida.

Corrigida como?

Consertada, ela corrige, consertada. A garota perdida e sem coração que precisa de alguém pra amar e finalmente ser consertada.

Eu não preciso de conserto, balanço a cabeça.

Sei.

E se eu já amar alguém?

O quê? A garota dos poemas? 

É. 

Clarice sorri com a autoridade inerente dos meses de Maio e Junho, e no mesmo tom de deboche, pergunta

Por favor, cadê ela agora?

Beberico o café por pura necessidade de reação. Para não alongar o silêncio e fugir do beco, pergunto se

tu queres que eu fique? Que eu te deixe entrar pra ser a garota que vai me consertar?

Seria legal.

Então o boyzinho de Floripa foi, o quê, só pra me fazer ciúmes?

Ah, garota, vê se se toca! Ela puxa o celular e fecha não só o YouTube, como também a cara. Tu estás é se achando muito pra pensar que eu uso alguém só pra te fazer ciúmes, né? Puta merda, que sem noção! Sem-noção. Eu fiquei com ele e foi ótimo, aliás, foi maravilhoso, tem sido ótimo quando converso toda noite com ele e quando ele me chama pra voltar e… bom, enfim, mas achar que eu tô desse jeito caída por ti? Por favor. Eu até fico com outras pessoas. 

Eu sei, eu também fico, respondo. Assumo a inocência de meu horóscopo com um sorriso sincero.

Fica, é?

Uhum.

Com quem? 

Não é muita gente, mas é normal, né? Tu ficas, eu fico. A gente até fica uma com a outra, né?

É!

Pois é.

Súbito, ela levanta a mão e chama o atendente do restaurante. Irredutível, pede a conta.

Ei, Clarice, tu não precisas ir embora. Me desculpa por achar ou dizer o que eu disse. Fica aí, não vai embora. A gente conversa e…

Tá tudo bem. Deixa pra lá.

Fica aí.

Não. Eu já vou. Mas tá tudo bem, não se preocupa.

Não tá nada bem, Clarice. Fica aí, bora conversar.

Deixa. Tá tudo bem. Eu já disse, tu não escutou? 

O garçom retorna. Intransigente até sobre a conta, Clarice entrega ao sujeito o valor referente ao próprio café, negando minha oferta de pagar. Em seguida, e já querendo fugir daqui, o garçom me pergunta qual a forma de pagamento. Respondo

deixa aí, porque ainda não vou embora. 

Clarice me fuzila com os olhos e espera o garçom se retirar pra questionar

por quê, raios, tu me chamaste aqui hoje?!

Foi só pra conversar, sem motivos especiais, respondo. 

Tu me chamaste aqui pra ficar me amolando com isso. Se tu estás com ciúme dele, então é só dizer. Não precisa ficar me convencendo a ir embora de Belém.

Espera, o quê? Ciúmes?

Só pode. A gente só fica, por que estás com ciúmes assim? Só pode ser isso.

Sorvo o último gole de café. Queimo a ponta da língua, queimo a goela e também a cara. Minha súbita vontade é a de rir, abismada. Sentada e olhando-a de baixo, os olhos de Clarice não estão brilhando, tampouco irritados. Levemente, muito levemente, eles estão vitoriosos, cheios de si pela perspicácia do jogo virado. Nunca por baixo, nunca minimamente vulnerável.

Ok. Vou ser sincera, digo por fim.

Ah, finalmente.

Te chamei aqui pra tentar ser legal e tentar dizer pra gente não ficar mais, Clarice.

Tu me chamaste aqui pra terminar? Cara, a gente só fica.

É, a gente só fica, mas por que eu não me sinto assim?

Sei lá, estás emocionada.

Emocionada? Tu me pediste pra não ficar com mais ninguém na semana passada. Tu ficas em cima de mim praticamente me monitorando com qualquer uma que esteja por perto; eu tenho que aguentar teus questionamentos sobre com quem saio, o que fiz, e ainda aguentar ceninha de ciúmes em grupo de Whatsapp.

Ah, eu tava brincando, cospe ela, ofendida. Tu não sabes brincar? Pelo amor de Deus!

Ok, então foi brincadeira.

Foi o que foi, mas se tu não sabes brincar, então vou parar, não te preocupa.

Só te chamei pra isso. Eu gosto demais de ti, Clarice. Mas não dá, a gente, sei lá, deveria parar com isso.

Aí tu queres parar de ficar, de ficar, me chamando pra tomar café e ver o pôr do sol?

Eu só não queria agir feito um babaca terminando por Whatsapp.

Terminando o quê, pelo amor de Deus? É só um fica. Tu que interpretaste tudo errado, se emocionou e agora tá assim.

Tá bom, Clarice. 

Mas se é isso que queres, tá tudo certo: a gente termina, ela sorri, levemente irônica, ante a pronúncia do verbete. 

Tá bom. Me desculpa.

Pelo quê?

Por não saber dizer não.

Com bochechas e orelhas avermelhadas, ela prende o início de uma gargalhada, então diz que

eu já vou embora, ah, e não precisa vir atrás de mim.

Tá bom, Clarice. Tchau. Cuidado. E me desculpa de novo.

Tanto faz. Não vem atrás de mim.

Tá bom.

Não precisa vir.

Ok.

A passos de gigante, ela se afasta, relutante. A cabeça balança como quem nega uma acusação de crime hediondo. Respiro fundo, tento não reagir ao absurdo de nossa discussão. Quando ouso olhar para trás, Clarice também me olha. Está parada, incrédula, aguardando pela improvável impossibilidade de que, talvez, eu me levante e a impeça de partir.

Aceno e gesticulo com os lábios, e quase de forma didática, um tchau, toma cuidado. Aqueles olhos que antes só tinham brilho agora são puro sangue e revolta, pois é inadmissível que a eles o mundo não se dobre, é blasfêmia que a eles as plateias não acatem suas vontades e é ofensivo que para eles os amantes não cumpram com os planos.

Talvez seja o calor concentrado nas bochechas, porém sinto a queimação no rosto, concentrada, acumulada, a respiração levemente ardida e suspeito muito que seja por conta da cafeína quente. Abro meu celular, rolo o dedo pelo Whatsapp, ensaio um desabafo na mensagem das minhas amizades mais próximas – que, atualmente, restringem-se a três únicas pessoas. Queria ser como Clarice e ter uma multidão de amigos e amigas, cada um para cada ambiente e círculo diferentes da cidade, mas é só o que me sobra. Ao fim, nem chego a enviar a mensagem.

Ao invés disso, abro o aplicativo do Bluebird.com e nem vinte minutos após a partida de Clarice, já há um microtexto dela:

 

@claricigana_19: A @, empolgada, te convida pra ver o pôr do sol só pra te dizer que quer terminar (ATENÇÃO) um fica. UM FICA. Dá pra acreditar? E sequer foi capaz de pagar a conta. 18:06 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for Android

 

 

Nem vinte minutos depois e o microtexto já acumula 23 respostas. E contando...

 

...

 

@chuvadefevereir0: Maaaaaaaaana. 18:07 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for Android

 

...

@jujubebanvls: Quem foi essa já? 18:08 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for iOS

...

@sup3rk4mill: Mana, coraaaagem. 18:09 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for Web App

...

@prettylittlelay03: É quem eu penso que foi? 18:11 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for Android

...

@yasalvespiccon: ai, amiga, olha, eu bem que te avisei! 18:14 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for Web App

...

@rayreceba22: te falei pra aceitar meu convite pro cinema rsrsr. 18:16 PM · 16 de set de 2022 · Bluebird.com for iOS

...

 

   

Peço mais uma xícara de café. Preto. Estupidamente adocicado. Sorvo a bebida novamente. São seis e dezoito e o Sol ainda está brilhando, pois assim são as tardes de setembro. É um sol forte e alaranjado que paira no céu limpo, sem nuvens, sem tempestades, embora outro tipo delas estivesse prestes a começar. Um ótimo sol para secar as roupas que eu nunca havia deixado penduradas – coisa que, sinceramente, Nando Reis deve desconhecer.





* If I had wings like Noah's dove / I'd fly the river to the one I love

(Dink’s Song – Bob Dylan)