Happy Feet balançava-se sobre os
próprios pés com um estranho e despreocupado sorriso no rosto. O bico amarelado
e os olhos expressivos passavam uma calmaria que só não dava raiva ao
motorista porque ele possuía um imenso afeto pelo pequeno pinguim.
A neve caía lá fora com uma estranha
intensidade. Ian precisou reclinar-se sobre o volante na tentativa de enxergar
além do pouco que tinha de visibilidade à frente. Estreitou os olhos e desejou
poder acelerar, mas era quase Natal, e de mortes violentas ele já estava cheio.
Lançou uma última olhada para o enfeite diante dele que rebolava tal como uma
havaiana – mas não passava de um pequeno
e divertido pinguim.
Reclinou as costas no banco e esticou
a mão direita na frente do aquecedor, mexendo os dedos para melhorar a
circulação do sangue. Então olhou para o lado e encarou a mesma mulher
apreensiva e calada de tantos minutos atrás. Ela, com aqueles olhos escuros e
sobrancelhas grossas, nada dizia desde o ultimo curto diálogo que
desenvolveram.
- Tá tudo bem, moça? – Ele perguntou
pela vigésima vez.
- Não me chame de moça.
- Tudo bem, moça.
A mulher bufou.
- Estamos há horas nessa estrada. –
Ela se remexia enquanto apertava os braços em volta do peito. – E não vi nenhum
carro passar por nós.
- A vida atrás do volante é
geralmente solitária. – Deu de ombros.
- Não estou falando disso, garoto. –
Ela estalou os lábios num tom desdenhoso e continuou olhando para fora. Tudo o
que viam eram árvores e árvores passando pela estrada. – As noites ficam
desertas quando isso acontece, foi exatamente o mesmo naquela época.
