31 de dezembro de 2014

Cemetery Drive #32 - Der Krampus







Happy Feet balançava-se sobre os próprios pés com um estranho e despreocupado sorriso no rosto. O bico amarelado e os olhos expressivos passavam uma calmaria que só não dava raiva ao motorista porque ele possuía um imenso afeto pelo pequeno pinguim.
A neve caía lá fora com uma estranha intensidade. Ian precisou reclinar-se sobre o volante na tentativa de enxergar além do pouco que tinha de visibilidade à frente. Estreitou os olhos e desejou poder acelerar, mas era quase Natal, e de mortes violentas ele já estava cheio. Lançou uma última olhada para o enfeite diante dele que rebolava tal como uma havaiana – mas não passava de um pequeno e divertido pinguim.
Reclinou as costas no banco e esticou a mão direita na frente do aquecedor, mexendo os dedos para melhorar a circulação do sangue. Então olhou para o lado e encarou a mesma mulher apreensiva e calada de tantos minutos atrás. Ela, com aqueles olhos escuros e sobrancelhas grossas, nada dizia desde o ultimo curto diálogo que desenvolveram.
- Tá tudo bem, moça? – Ele perguntou pela vigésima vez.
- Não me chame de moça.
- Tudo bem, moça.
A mulher bufou.
- Estamos há horas nessa estrada. – Ela se remexia enquanto apertava os braços em volta do peito. – E não vi nenhum carro passar por nós.
- A vida atrás do volante é geralmente solitária. – Deu de ombros.
- Não estou falando disso, garoto. – Ela estalou os lábios num tom desdenhoso e continuou olhando para fora. Tudo o que viam eram árvores e árvores passando pela estrada. – As noites ficam desertas quando isso acontece, foi exatamente o mesmo naquela época.