5 de novembro de 2013

Reencontre sua chuva



 ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­ ­  Às duas da tarde ela aparece. Ainda que substantivo feminino, consegue ser surpreendentemente pontual.  Mas também traz consigo toda a força e altivez que cada mulher carrega em si. E como é gostosa, deslumbrante! A chuva brinda as tardes da terra cabana, renovando as energias de seu povo. Mas pra mim, que fui acolhido por esse chão, ela tem algo mais, algo místico. O cheiro de terra, o gosto salgado do suor do meu rosto que ela arrasta até minha boca enquanto levanto minha cabeça, admirando sua simplicidade, sua fluidez. Talvez o que me encante seja toda a vida que ela proporciona, talvez seja o fato de que, ainda que hoje seja capaz de entender todo o seu ciclo e processos, ela me leve inconscientemente a minha infância, fazendo com que ela não passe de “água que cai do céu”. Há muito não tinha um bem estar tão forte quanto o que senti hoje. Foram tempos difíceis, pra mim e para os que me cercam, e a acabo absorvendo todos os sentimentos que me cercam. A chuva é minha válvula de escape. A água é, de modo geral, mas a chuva tem um quê especial. Ela traz memórias que eu não seria capaz de recordar sozinho. Comer uma manga no fundo do quintal, brincar com o cachorro, jogar bola com os amigos e se machucar, mas rir quando vê que a chuva leva o pouco sangue perdido, junto com todas as vibrações ruins. Mãos dadas, uma prima com medo da chuva chorava, soluçava. Arrestei-a em detrimento das ordens de meus pais e tios, só pra mostrar o que realmente era a chuva e tentar fazer uma menina apavorada se vislumbrar como até hoje eu me pego vislumbrado. Seu sorriso largo e olhos semicerrados diziam tudo. Hoje ela já não tem medo. Fica impressionada? Nunca perguntei, é subjetivo, pessoal. Só me pergunto quantas pessoas ainda param pra aproveitar as pequenas coisas, as quais são as que realmente importam como diria o clichê. O texto não era pra ser sobre isso, mas os 15 minutos que eu fiquei parado na esquina de casa “pegando chuva” depois de um dia estressante, me mostraram que enquanto eu puder preservar alguns prazeres que mantinha quando pequeno, eu ainda sou capaz de entender o sentido de felicidade, por que não há nada mais sincero que a felicidade de uma criança, e a chuva fez eu me sentir uma novamente. Mais uma vez, não tenho fórmula, não afirmo que é lei, não peço que aceite. Porém, se você perdeu uns dez minutos pra ler esse texto, eu só peço uma coisa: ­ ­ ­ ­ ­ ­  ­ ­ ­ ­ ­ ­ Reencontre sua chuva.


(T.S.Banha)

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