A garota é poesia em cada passo, cada
um daqueles passinhos de pés pequenos e branquelos. A garota é poesia mesmo sem
saber, mesmo quando escreve aqueles textos tão desconexamente coerentes e
coesos, mesmo quando julga a própria literatura inferior, medíocre, indigna do
mundo. Ela é poesia até quando joga suas folhas ao vento e mais tarde possui o
trabalho de recolher uma por uma, envergonhada pela paranoica sensação de não
fazer aquilo direito. Ela é poesia naqueles olhinhos fechados, sobretudo
aqueles olhinhos fechados e avermelhados, sempre que me chama ao dizer que
fumou um beck dos deuses. Ela é poesia até aí. Ela é poesia com
aquelas mãos de pele alva e unhas transparentes; ela é poesia naquela eterna
voz de criança; ela é poesia mesmo quando é prosa, e é menina mesmo quando
obrigada a ser mulher, numa poética e eterna encenação de vencer o que não há
de ser vencido, porque a vitória, nessa ocasião, é mais chata e monótona que a
disputa nunca concluída. A garota é poesia até quando ondulações através de
minhas prosas não se abatem, porque a poesia dela fica martelando minha cabeça:
a poesia de suas ancas magricelas, suas pernas finas e os cabelos lisos e
castanhos – na minha visão sempre esvoaçando num fim de tarde ao vento como Johnny
Cash e Bob Dylan cantaram em Girl from
the North Country. Ela é poesia por
me fazer retornar todas as noites em meio aos teclados e proferir discursos
mortos e proibidos, mesmo quando a última afirmação nem sequer existe e não
passa de uma mera mentira para ornamentar estas linhas – até aqui ela o é. Poesia
por ser tudo o que um dia foi e que um dia jamais será; poesia pela
ambiguidade, pela metáfora, pelo arranjo, pela rima e, principalmente, pela dúvida,
pelo mistério e pelo aparente desprezo; pela conquista, pela eternidade e pela
capacidade singela de perdurar independente de um autor.
A garota é pura poesia mesmo não sendo mais de
minha livre inspiração, afeto ou lembrança.
O poeta morre, mas a obra não.
Que fofo <3 Amei o texto!
ResponderExcluirBjs
Se quiser visitar meu blog, vou ficar feliz :)
http://chuvacobertaelivros.blogspot.com.br/2015/02/resenha-correr-ou-morrer.html
Muito obrigado, Ana!
ExcluirJá to dando uma olhada na sua resenha e no seu blog também. :)
Adorei a última frase ''o poeta morre, mas a obra não'', eu acho que viver é uma grande efemeridade, na minha visão os poetas e artistas em geral fazem aquilo que todo ser humano deveria fazer :produzir algo. Nós morremos, mas se formos poetas ou qualquer outro artista nossa obra tem a chance de permanecer viva e logo uma parte de nós poderá transcender hahah (acho que vaguei aqui nos meus pensamentos)
ResponderExcluirObrigado! :)
ExcluirPode ter vagado, mas vagou com razão! :D Eu também penso exatamente a mesma coisa, a vida é um sopro, a maioria das pessoas está preocupada com fama passageira e acúmulo de bens, e por mais que isso seja bom, não deve ser o maior objetivo de uma vida. Se tem uma coisa que me assusta, é viver em vão, é não fazer essa vida valer a pena, e a arte (seja qual e como for) é uma forma de eternizar nossa existência.
Olha aí, também vaguei muito! Haha.
Texto lindo *-*
ResponderExcluirTexto lindo *-*
ResponderExcluirObrigado! :3
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