5 de fevereiro de 2015

Ela é poesia



A garota é poesia em cada passo, cada um daqueles passinhos de pés pequenos e branquelos. A garota é poesia mesmo sem saber, mesmo quando escreve aqueles textos tão desconexamente coerentes e coesos, mesmo quando julga a própria literatura inferior, medíocre, indigna do mundo. Ela é poesia até quando joga suas folhas ao vento e mais tarde possui o trabalho de recolher uma por uma, envergonhada pela paranoica sensação de não fazer aquilo direito. Ela é poesia naqueles olhinhos fechados, sobretudo aqueles olhinhos fechados e avermelhados, sempre que me chama ao dizer que fumou um beck dos deuses. Ela é poesia até aí. Ela é poesia com aquelas mãos de pele alva e unhas transparentes; ela é poesia naquela eterna voz de criança; ela é poesia mesmo quando é prosa, e é menina mesmo quando obrigada a ser mulher, numa poética e eterna encenação de vencer o que não há de ser vencido, porque a vitória, nessa ocasião, é mais chata e monótona que a disputa nunca concluída. A garota é poesia até quando ondulações através de minhas prosas não se abatem, porque a poesia dela fica martelando minha cabeça: a poesia de suas ancas magricelas, suas pernas finas e os cabelos lisos e castanhos – na minha visão sempre esvoaçando num fim de tarde ao vento como Johnny Cash e Bob Dylan cantaram em Girl from the North Country.  Ela é poesia por me fazer retornar todas as noites em meio aos teclados e proferir discursos mortos e proibidos, mesmo quando a última afirmação nem sequer existe e não passa de uma mera mentira para ornamentar estas linhas – até aqui ela o é. Poesia por ser tudo o que um dia foi e que um dia jamais será; poesia pela ambiguidade, pela metáfora, pelo arranjo, pela rima e, principalmente, pela dúvida, pelo mistério e pelo aparente desprezo; pela conquista, pela eternidade e pela capacidade singela de perdurar independente de um autor.
 A garota é pura poesia mesmo não sendo mais de minha livre inspiração, afeto ou lembrança.
O poeta morre, mas a obra não.



7 comentários:

  1. Que fofo <3 Amei o texto!
    Bjs
    Se quiser visitar meu blog, vou ficar feliz :)
    http://chuvacobertaelivros.blogspot.com.br/2015/02/resenha-correr-ou-morrer.html

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    1. Muito obrigado, Ana!
      Já to dando uma olhada na sua resenha e no seu blog também. :)

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  2. Adorei a última frase ''o poeta morre, mas a obra não'', eu acho que viver é uma grande efemeridade, na minha visão os poetas e artistas em geral fazem aquilo que todo ser humano deveria fazer :produzir algo. Nós morremos, mas se formos poetas ou qualquer outro artista nossa obra tem a chance de permanecer viva e logo uma parte de nós poderá transcender hahah (acho que vaguei aqui nos meus pensamentos)

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    1. Obrigado! :)
      Pode ter vagado, mas vagou com razão! :D Eu também penso exatamente a mesma coisa, a vida é um sopro, a maioria das pessoas está preocupada com fama passageira e acúmulo de bens, e por mais que isso seja bom, não deve ser o maior objetivo de uma vida. Se tem uma coisa que me assusta, é viver em vão, é não fazer essa vida valer a pena, e a arte (seja qual e como for) é uma forma de eternizar nossa existência.
      Olha aí, também vaguei muito! Haha.

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