Tem uma mulher na minha cabeça.
Ruiva, pele branca, unhas vermelhas. Não, unhas transparentes. Unhas longas,
finas, grossas e transparentes. Ela é de um ruivo natural, um alaranjado bem
claro, cor-de-outono. Ela não mostra o rosto, muito menos o sorriso, mas eu sei
que está rindo, exatamente de quê ou como... eu não faço a mínima ideia. Mas
tem uma mulher, nitidamente. A cada fechar de olhos ela aparece, piscando
embaixo das minhas pálpebras num slow
motion maldito. Mãos esqueléticas, dedos esqueléticos, unhas esqueléticas.
Pele branca, nem alva, nem clarinha, apenas branca, sem vida, sem sangue, sem
beleza, sem finura, sem classe, sem porra nenhuma – só um branco anômalo e
assustador. Duas e vinte e dois da manhã e a porra da mulher só não está mais
aqui por causa do barulho do teclado e da luminária acesa. Mas eu juro, assim
que eu apagar tudo e tentar dormir, ela vai voltar, piscando, freneticamente,
às vezes veloz, às vezes lenta, com as mãos cruzadas sobre o rosto, como se
escondendo meu derradeiro destino, como
se escondendo um susto.
Tem uma mulher na minha cabeça. Aqui, piscando e
reaparecendo a cada fechar de olhos, a cada deslizar de pálpebras. Tem uma
maldita mulher na minha cabeça, com cabelos secos e alaranjados, retesados
sabe-se lá de medo, terror ou morte – morte,
talvez seja isso.
Tem uma mulher aqui, e ela não vai
embora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário