14 de abril de 2015

Tem uma mulher na minha cabeça



Tem uma mulher na minha cabeça. Ruiva, pele branca, unhas vermelhas. Não, unhas transparentes. Unhas longas, finas, grossas e transparentes. Ela é de um ruivo natural, um alaranjado bem claro, cor-de-outono. Ela não mostra o rosto, muito menos o sorriso, mas eu sei que está rindo, exatamente de quê ou como... eu não faço a mínima ideia. Mas tem uma mulher, nitidamente. A cada fechar de olhos ela aparece, piscando embaixo das minhas pálpebras num slow motion maldito. Mãos esqueléticas, dedos esqueléticos, unhas esqueléticas. Pele branca, nem alva, nem clarinha, apenas branca, sem vida, sem sangue, sem beleza, sem finura, sem classe, sem porra nenhuma – só um branco anômalo e assustador. Duas e vinte e dois da manhã e a porra da mulher só não está mais aqui por causa do barulho do teclado e da luminária acesa. Mas eu juro, assim que eu apagar tudo e tentar dormir, ela vai voltar, piscando, freneticamente, às vezes veloz, às vezes lenta, com as mãos cruzadas sobre o rosto, como se escondendo meu derradeiro destino, como se escondendo um susto.
 Tem uma mulher na minha cabeça. Aqui, piscando e reaparecendo a cada fechar de olhos, a cada deslizar de pálpebras. Tem uma maldita mulher na minha cabeça, com cabelos secos e alaranjados, retesados sabe-se lá de medo, terror ou morte – morte, talvez seja isso.
Tem uma mulher aqui, e ela não vai embora.


Nenhum comentário:

Postar um comentário