Você será um homem algum dia, garoto.
Então levante esse rosto e cuspa um punhado de sangue, saído das entranhas,
diluído do coração. As coisas continuarão ruins, sua vida será apenas uma
porcaria elevada à desgraça e azar, mas do que isso importa, se você sempre
teve tal noção? Vá lá, tente caminhar mesmo que seus pés estejam cortados pelas
migalhas de vidro que um dia guardou seu aroma favorito. As coisas podem dar
certo, embora as chances sejam quase nulas. Erga-se. Se possível, deboche do
destino e do acaso, e se Deus não estiver contigo, que se dane, você pode,
ninguém há de impedir. Seja sujo, pretencioso e estúpido, inescrupuloso. Ou
talvez seja encantador, encontre uma mulher e ache o amor. Asas te levarão para
um caminho certo, bom ou decadente, não importa – não há como saber. Continue a
andar, encontre sua casa, descanse em seu lar. Solitário, acompanhado, cego ou
deficiente. Você vai chegar. Cheio de lágrimas ou sorrisos. Pouco importa como,
apenas deixe-se ser levado. E chegue lá. É o seu destino, garoto. Aquele que
você mesmo faz, rodeado de má sorte e tristeza. Mas é seu, e ninguém tem o
direito de tirá-lo. Nem destruí-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário