Ele a chamou, ela virou depois de
minutos, poderia ter sido após horas, fosse o tempo que fosse. Depois de tanto
estar ali, resignada e introspectiva, deparei-me com este olhar, tão discreto,
tão impenetrável e imperceptível, que deixa quilômetros de margem para a dúvida
– ainda não tenho certeza. Ela olhou ou não
olhou? Com ou sem intenção, dirigiu-me um olhar, tão breve que me trouxe a
este vão texto. Por uma fração de segundos, enquanto minha cabeça pendia baixa,
sua leve doçura feminina fitou-me, valendo-se da brecha que ele proporcionou ao chama-la. Ela olhou,
cruzei com seu olhar e, com a mesma discrição que falta a todos os homens,
fugiu-me da mesma forma que um segundo antes fora minha – se, é claro, estivesse realmente olhando. Olhou ou não olhou? É
admirável a discrição de uma mulher, a forma como se esconde e analisa um mundo
inteiro com olhos tão serenos e secretos. Queria eu conseguir ocultar a devoção
que as órbitas minhas denunciam, porém não consigo. É isso o que faz de mim um
homem, e não uma mulher.
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