8 de julho de 2013

Larissa



Eu gosto desta parte da escrita: dedicar a alguém algo de sua autoria. A arte te proporciona uma liberdade que você não tem no verbal, tampouco no olhar. Enquanto aprecio uma garota passageira, dizem as más línguas (ou os carentes de boa percepção) que penso besteira a julgar pela infinidade do olhar. Dizem – sem a menor certeza – que estou manicando, quando, mal sabem eles, que eu bem poderia simplesmente estar tramando as palavras para um parágrafo novo. É geralmente isso. 
É aí que entra a parte boa em lidar com a escrita: posso vir aqui dedicar essas palavras a qualquer pessoa no mundo, levado pelos mais diversos sentimentos: afeto, amor, admiração, ciúme, cólera, depressão, desejo, excitação, egoísmo, fraternidade, inveja, tristeza. Mas de todos eles, o que mais me fascina é quando a imparcialidade de uma encantadora indiferença me trás a falar de uma bela garota. Indiferença. O que por vezes já me causou problemas torna-se objeto de inspiração para infinitos textos. De repente, me deparo com uma linda garota e a ela dedico o mais belo dos textos. Consequentemente, impressões erradas são causadas e aquelas que amam passam a pensar que estou amando outra. Isso é um problema que falta aos poetas desabafar. mal sabem elas que a musa em questão sequer nos fitou os olhos, sequer conversou conosco, sequer sabe que existimos. Mas dedicamos as mais lindas e sinceras palavras mesmo assim, pois há um risco a ser tomado. Aqueles que leem nem sempre percebem, e geralmente interpretam de maneiras deturpadas. É o dom da interpretação, afinal de contas, significando que a subjetividade do meu escrever está surtindo efeito, fazendo nascerem novas e diferentes concepções aos olhos dos leitores. Isso é belo, embora profundamente destrutivo. Destruí relações por isso - talvez tenha destruído a mais importante relação por essa razão, a julgar por tudo o que ela dizia, as desconfianças que possuía e o ciúme que nos engoliu. Volto a dizer: é um risco a ser tomado. 
“A Japonesa”, Soulstripper - cito essa canção para frisar o que realmente me trouxe aqui. A arte traduz, tanto na escrita quanto na música e eis uma singela letra que traduziu tudo o que sinto ao escrever tantas linhas a garotas esporádicas que passam como vendaval diante do meu dia, diante das minhas semanas, diante do meu ano ou do meu semestre.

“Ela não é amor à primeira vista, não é paixão, não é um romance (...) Ela não é o meu amor”.

Larissa? Talvez nem exista. Apenas mais um nome qualquer nesse temporal incessante de belas garotas que vivem me inspirando. Isso não me torna menos fiel ao meu amor, muito pelo contrário. Talvez eu veja um pouquinho dela em todas elas, e aí me torno meloso e inspirado. Larissa? Ah, Larissa. Um milhão delas pelo mundo. Nenhuma delas existe, porém, ainda assim, existem numa inexistência inalterada num turbilhão de cores de cabelos, olhos e pele, entre tamanhos e espessuras, sentimentos e dores. Larissa? É, nem conheço. Ela até poderia se chamar Isadora, Ângela, Beatriz, Débora, Ellen, Fernanda... Poderia seguir a ordem alfabética inteira, passando pelos G’s de corpo pequeno, pele morena e coração imenso; planando sobre os infinitos M’s de olhos claros e sobrancelhas grossas; S’s de costas pequenas, defeituosamente lindas e tímidas; poderia tomar um pouco de ar fresco pelos R’s com a cor do pecado, de compreensão imensa e amor infinito; Ficar preso pelos Y’s de olhos castanhos intensos sob a luz do Sol das nove da manhã. Eu poderia... poderia... Tantas combinações, tantas admirações, flutuando num arfar cada vez mais intenso, porém sem ter grande amor, sem ter grande promessas. Apenas a admiração de uma música como a da Japonesa.
Larissa de mil nomes, mil corações, mil existências.
“Ela que podia ser tudo pra mim, fica insistindo em não ser nada. Por mim tudo bem”.
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