Eu não me orgulho disso, mas algumas
verdades precisam ser ditas.
Pobre linda, pobre moça. Acha-me um
monstro até hoje, e talvez esteja certa. Mas
eu não sou uma fábrica de escrever, porra. Não é tão fácil, porém não é
difícil. Escrever é como respirar: um ato involuntário, você só se deixa levar,
sem pressões, sem pesos na consciência, guia-se pela cabeça e deixa-se conduzir
pelos dedos ágeis. É simples, esta parte, quero dizer, é a parte simples. E
agora a difícil: não me peça para escrever algo para você, como fez tantas e
tantas vezes. Me perdoe, minha querida, mas não rola, sinto muito. Não é assim que a banda toca aqui, não é tão simples
encher linguiça em cima de nada. Eis
aqui o monstro confirmando sua própria monstruosidade: você me foi um nada literário
tão vazio quanto a importância da vida de um desconhecido caminhando na calçada
no outro lado da cidade. Desculpe, querida, mas eu nunca vou poder escrever
sobre mulheres a quem não sinto amor, devoção, tara ou obsessão. Eu não sou uma fábrica de escrever, porra. Visão
poética não se tira da manga tão facilmente quanto você imagina, muito menos
sentimentos que não existem. Continue me odiando por nunca tê-la dedicado uma
linha sequer, continue me odiando por sequer tê-la amado. Não, essas coisas não
são fáceis, tampouco intencionais, mas... Ora, você iria entender qualquer
merda sobre isso? Não, não mesmo. Então que eu continue para você sendo um
monstro insensível, embora tenha me feito feliz pelo tempo que durou. Não
preciso repetir aqui que você não é ela, e
como “todas” já sabem, este é o preço a se pagar por chegar perto de mim.
Haverá sempre outra, querida. Mas isso é um outro texto, uma outra crônica para
outra hora – breve, tão breve, ou simplesmente nunca.
Vai saber. Eu não sou uma fábrica de
escrever, lembra?
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