No fim do dia, eu não sou um escritor.
E nem quero ser. E nem mereço ser. Escritores
são mais que eu, mesmo aqueles mais urbanos, sujos e viscerais, mesmo aqueles
mais alcoólatras e que vivem vivendo.
Estes são mais do que eu em qualquer coisa que eu me empenhe. No fundo, nunca
aceitei essa ideia, porque ela é boa demais para mim, é grande demais, é
indigna demais. Não. Eu não sou nada. Sou um nada satisfeito com alguns elogios
aqui e ali, mas não me julguem por escritor. Não canonizando o título, já que
qualquer pessoa pode segurar um lápis ou digitar diante de um teclado e
arquitetar e construir obras magníficas - qualquer
um -, mas seria prepotência minha estufar o peito para fazê-lo, até porque
se eu tiver de me intitular de algo, então será por “fraude”. Fraude tá mais para o certo. Uma boa fraude
fazendo coisas vez ou outra legais, memoráveis entre alguns pequenos círculos e
dignas de esquecimento ao fim do dia – sempre
ao fim do dia. É o que faço, afinal: uma coisa boa e maneira, que irá
surpreendê-lo por alguns segundos e depois nada. Ou por um dia. Ou por uma
semana. Quiçá por um mês. Pronto. Escritores estão além disso, escritores são
verdadeiros, vivem o que escrevem e escrevem o que vivem. Eu sou fraude, a
fraude que mesmo contando uma inteira verdade, será taxado por mentiroso e
sonhador – no sentido mais pejorativo. Escritores são mais, muito mais, por
isso o eventual incômodo em ser chamado assim. Eu não tenho talento, eu não
tenho compromisso, eu não tenho responsabilidades, eu não tenho maturidade. As
pessoas continuam rindo de mim, não importa quantos anos passem, não importa
quantas verdades eu viva ou omita com
a boca. Ao fim do dia, eu só quero deitar e esquecer de lembrar que amanhã virá
mais um dia, e que eu continuarei a ser uma fraude e uma piada ambulante.
No fim do dia, eu não sou um
escritor. Não me chamem disso.
Por favor, não tirem meu sono.
Bom descanso, Santiago.
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