10 de setembro de 2017

CÉU DE JULHO




Eu quero ser este céu tão belo, despido de
tempestade e de chuva, despido de
ventania passageira, de ventania intensa
a perturbar noite faceira.


Eu quero ser calmaria de foto em mês de
Julho, na praia doce a espreitar
pensamento sorrateiro que não ousa,
sereno e conciliador, afastar.


Diante destes versos descobertos
eu quero ter recompensa um dia
sabendo que sentir e escrever
trouxe paz e harmonia.


Eu não mais quero para as coisas belas
somente olhar com decepção e amargor
se o escrever e o sentir não trazem recompensa,
não trazem refúgio para a dor.


Não a dor do amor finado, alado,
que em espaçadas estações vem e morre,
abandona e deixa, tão passageiro, tão violento,
fugindo sem explicações, estúpido e massacrado.


Não a dor dos nocivos neurotransmissores
que em meu cérebro criam demônios,
fantasmas noturnos a assombrar e reflexos
de minh'alma, gradativos, a matar.


Não a dor das trocas onde, mendigo, encolhido,
precisa em cíclica constância aceitar
e sabendo que vagabundo a chorar


pelas letras e pelos versos é murmúrio passado,
tema maldito e obsoleto que revira os olhos terceiros
por repetitivo terror já visto, em suma calcificado.


Não a dor de ser vergonha de Março,
Não a dor de querer ser foto de Julho,
Não a dor de sonhar paz de Novembro.


Não a dor das causas de sempre,
não a dor do alarido,
mas saber que leitor caga e despreza tecelagem,
saber que leitor caga e despreza dor de não ser lido.



(Felipe Santiago)



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