10 de setembro de 2017

MARIANAS




Retorno ao fundo
quando o todo
foi todo
fluido em promessas
todo tão
tolo.


Toca-se o
o eco
que ecoa
e ecoa
que ecoa
e ecoa
na vastidão salgada,
sórdida,
salobre
e silenciosa
dos meus abismos
oceânicos
mais profundos.


M a r i a n a s.


Marianas são distantes,
rasas
largas
profundas,
dizem os cientistas
e os homens conhecedores
de oceanos
de rochas
e de abismos:
- Marianas têm 11 mil e 34 metros,
Marianas têm 11 quilômetros.


Marianas são distantes:
quietas,
silenciosas
e
sombrias.


Estes versos não
trazem
tristeza,
trazem
derradeiros desígnios,
nus,
despidos
como Tristão rijo
maciço, suado,
silencioso,
sobre a ternura
carnal de Isolda.


Marianas não dão
a mim
tormentos
nem mesmo
lamentos.


Eu vejo cabelos
longínquos e reles
lampejos
imensidão oceânica
caindo sobre mim
e
a escuridão
calma
crescente
do célere
afogar.


Certo dia, pedem-me para
fechar os olhos.
- Defina uma palavra.
Dão-me "escuridão"
respondo, de imediato, "paz".
Acho que brotou então
em mim
finalmente
do oceano a
fiel
e fatídica
compreensão


pois em noites
claras
calmas
de clima ameno
janela aberta
e peito sereno,
é escuridão que vejo,
é paz que sinto
sem o teor mórbido-profano
sem a maestria
do clássico
engano.


Marianas ecoam
paz e silêncio:
escuridão não é angústia,
às vezes é solitude,
às vezes, alento.


Em Marianas lá no fundo
há uma fossa
de 11
mil e 34 metros,
11 quilômetros
onde é o oceano
habitat mais
nômade de um homem,
violência mais pacífica
da minha solidão
e rebento germinante
do meu questionar.


Marianas, aonde irei?
Talvez
para longe de tudo?
Talvez
para perto do mundo?


Salto na fossa porque
é dela
meu abismal ruído:
Por que eu?
Por que não eu?
Por que não
eu?
Por
que
não
eu
?


E me respondo,
enquanto afundo,
que para pleno
aprendizado
mais valem
alguns segundos
do que para as
chamas
alguns anos
tortuosos,
eternos,
desgraçados.


Marianas me clareiam:
Algumas felicidades são
suspiros
e alguns cárceres,
veneno.


A solidão me afoga,
pela primeira vez ela
não é fria
carrega apenas a
resignação
da verdade velada
da vítrea veia
vazada
e afundo na fossa.
Há paz agora como em
noites suadas
de vidas outrora.


Marianas são, entoam os
Geólogos,
o lugar mais
profundo da
Terra.


Na fossa titânica,
subducção abissal,
faz no escuro
silêncio,
Faz silêncio no
escuro.
Silêncio
[. . .]
Total
[  .
   .
   .  ]


Marianas assistem,
quando visitantes
ousam adentrar sua fossa,
o suave cantar
em testemunho.


Na quebra
um eco se faz,
o eco do início,
ecoando
ecoando
que ecoa
e ecoa
que ecoa
e ecoa
fagulha
sonora no
precipício:


Marianas relatam
que foram as baleias
com seu canto a dragar
e não as sereias
homens ao mar.


Eu posso escutá-lo
há uma baleia
aqui
e
agora
a ecoar
finalmente,
a baleia,
no escuro
da fossa
deixado por
Marianas.


Sumo
[enfim]
desapareço


No canto
Na fossa
No abismo
No mar


Eu não
estarei
sozinho.


(Felipe Santiago)




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