Descobri Lullaby, do Low, não muito
tempo talvez após Jordana ir embora. Descobri, como muito bem talvez já
soubesse, que nada, absolutamente tão pouco, sabia a respeito de música – e continuo
não sabendo. Do que sei, entretanto, e do pouco que absurdamente tenho alguma
certeza, é que o que sei resume-se
não à música ou ao caráter técnico e artístico dela, mas o que essa harmonia
(no sentido mais metafórico da palavra) causa em mim – é disso o que sei e é
sobre isso o que entendo: o que os aspectos anteriormente citados, todos,
bailando juntos e entrelaçando-se helicoidal e figurativamente, causam em mim.
Foi nessa época que descobri Lullaby,
do Low. Foi na época logo após Jordana partir, Jordana, a mesma Jordana que
ensinou-me sobre as estrelas, sobre cada astro e sobre cada ângulo astronômico,
sobre filósofas russas e pensadoras escandinavas, sobre libertadoras do pensamento
hermético do leste europeu na época em que judeus morriam ou em que bombas
nucleares eram tão euforicamente prometidas para explodirem.
Foi na época em que meus cafés da manhã
resumiam-se a café preto requentado e ovos fritos (os últimos dois na porta da geladeira).
Foi na época dos tantos cigarros, deitado no sofá e como descobri o quanto a
nicotina faz mal à minha doença-crônica-autoimune-diagnosticada-na-infância.
Foi na época do declínio que
aprendi
sobre a sensação que Lullaby, do Low,
causa aqui pelo meu meio, no centro secreto, quando coloco duas abas do Youtube
para tocar – porém com um segredo, com um truque transcendental que é o trunfo
e que me traz aqui, neste texto: duas abas abertas, porém com um intervalo de
dois ou três segundos entre si. A canção, de harmonia tão lenta e mágica, causa
uma espiral empírica fantástica, com ecos que acalentavam-me a alma e
entorpeciam-me os olhos. E por isso tão ativamente espalho o truque, o tão
sagrado segredo desta música, para o mundo:
Quero que sintam a estranha e
espiritual sensação; quero que sintam a música. E quero, acima de tudo, que
sintam os truques necessários para se saber viver ou, pelo menos, saber-se tentar sobreviver com a ausência de
Jordana, logo após ela falar sobre amor e fazê-lo compreender que nem tudo que
ama ou que é amado necessariamente pousa em você para ficar. Nem todas as
coisas que nascem para te amar ou que nascem para serem amadas por você (por um
breve momento, apenas), permanecerão ao seu lado.
Algumas coisas permanecem por um
minuto apenas.
Algumas coisas fixam-se por um
significado apenas.
E nunca mais vão embora.
Jordana foi uma delas, e graças a ela,
aprendi sobre Lullaby, do Low – e como duas abas abertas, com intervalo de dois
ou três segundos entre si, causam a sonolenta sensação de paz e ao mesmo tempo sonolenta sensação de ausência, de não-significado e de solidão.
A sensação do desamparo de saber que
ela está lá fora.
E eu estou aqui: nas noites, insone,
tentando, em vão, adormecer.
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