11 de setembro de 2018

Jaula





Nossos corpos são jaulas
Condenados às anomalias do século
Fadados à corda
Aos anseios
Às bolhas sem ar
Ao silêncio do grito
Às patologias do sangue
Aos olhos sombrios
Às retinas inflamadas
Aos amores inflados
Secretos,
Cuspidos,
Inchados
De vazios não sanados.

Nossos corpos são jaulas
De nossa liberdade lendária
Das falsetas dos sonhos
Dos pais partidos
Das mães devotas
Dos boatos perdidos
Sobre terras distantes
Sobre a paz errante
Sobre curas vindouras
Carregadas com a promessa
De salvadores alados
Da lábia divina
Da antiga mentira
De retornos desonrados.

Nossos corpos são jaulas
De pulmões presos
De sangues impuros
Da mácula
Dos filhos malditos
Da cegueira
Dos pés inchados
Doloridos
Cansados
Que já não podem fugir
Que já não podem correr
Que já não podem voar
Que já não podem pisar
Nas Terras d’outro corpo.

Nossos corpos são jaulas
São celas seladas
São correntes atadas
Em nossos pulsos marcados
Por nosso passado cortado
Com pálpebras que nunca teremos
Dos heróis que nunca seremos.

Nossos corpos são jaulas
Espaço cercado
Claustrofobia profana
Em espaço cerrado
Do qual
Livres
Jamais escaparemos.


(Felipe Santiago)

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