13 de novembro de 2022

3º Turno: culpa, muita culpa


 

 

 

I'll never be your beast of burden

So let's go home and draw the curtains

Music on the radio

Come on, baby, make sweet love to me

 

(Beast of burden – The Rolling Stones)

 

 

 

 

Antigos amores são encontrados nas esquinas. Em dias chuvosos. No frio do inverno amazônico. Atravessei a rua. Inspecionei o céu com desconfiança. As nuvens estavam escuras e o ar gelado. Passei por um bar onde uma pequena e jovem multidão bebia e acendia cigarros, todos aqueles que a Dra. Patrícia – Heil – Stockler tanto tinha certeza de que eu fumava.

Celina acenou de longe, chamando meu nome. Diferente de como fiz com a enfermeira quase um mês atrás, acatei o chamado, surpreso em encontrá-la. Ela me sorriu com bochechas fartas e rosto arredondado de uma típica paraense, cabelo amarrado, pele alva de uma palidez congênita e insipidez atraente. Não precisou dizer muito. Nem bastou que anunciasse. Eu a abracei com calorosa felicitação.

Feliz aniversário, eu disse.

Tu ainda lembras?

Eu sempre lembro. 

Celina me convidou para sentar. Me apresentou a amiga de trabalho, rosa. Não havia muitas rosas por aí com menos de quarenta e cinco anos. Esta estava ainda nos trinte e dois. A mais jovem delas em um jardim cheio de rosalías e robertas, rúbias, ravenas e rosanas. rosa me apertou a mão com sorriso caloroso. Me ofereceram um copo de cerveja. Confraternizei com as duas.

Antigos afetos como Celina sorriem de forma muito genuína. Uma felicidade que dá gosto de ver. Nem parecia que ela sabia que eu sabia tudo o que detestava saber a seu respeito. A felicidade é momentânea, reside nas brechas da vida. Aquele era um momento. Ela celebrou com muitos copos de cerveja como alguém que comemora em dia calorento, apesar da primeira semana de novembro já começar chuvosa.

Estranho, né? Chovendo tão cedo. Era pra começar só no finalzinho de dezembro, lá por janeiro, rosa comentou.

Estranho mesmo, disse Celina, mas eu gosto assim, do friozinho. Tu gostas também, né? Ela me perguntou.

Gosto sim, eu respondi.

Antigos romances também não esquecem das coisas. Ou eu estava delirando ou ela fez sugestiva menção à época em que tudo deu certo antes de tudo dar errado. Aninhados no meio do carnaval, aproveitando a viagem dos pais, enchendo os estômagos sadios com pizza e coca-cola e coxinha e comida processada. Fez tanto frio naquele ano quanto agora, com a exceção de que naquela época os dias de novembro costumavam ser ainda ensolarados, abafados, não chuvosos como agora.

Tá tudo uma bagunça, eu disse, mas é isso aí, é o aquecimento global. 

Menino, e não é?! rosa exclamou.

Mas Celina não. Celina ficou calada.

Bebemos e observamos o clima. O chuvisco se transformou em chuva e de repente a chuva se avolumou, forte e barulhenta, aproximou-se de nossas canelas sem que o toldo nos protegesse. Levantamos as pernas. Não arredamos pé. O frio estava sugestivamente incômodo, então Celina resolveu que queria esquentar as veias. Misturou o álcool da cerveja com o álcool da cachaça e nem rosa nem eu negamos o convite. A bebida aqueceu nossos peitos e trouxe-nos um rubor às têmporas. Foi bom transpirar no frio glacial belenense. 

Antigos amores ficam calorosos quando tomados pelo álcool ou quando sobriamente ficam desinibidos de todas as convenções sociais e cismas históricos que os impedem de se aproximar, de dizer olá, de confessar eu ainda sinto saudades. Celina se aconchegou comigo. Não protestei, porque eu não quis, porque o álcool também me amolecia e porque, ao invés de ponderar velhas armadilhas e hábitos cíclicos, até antes daquela tarde meus únicos problemas eram tomar água frequentemente e ingerir fibras no café, no almoço e no jantar. Meu intestino funcionava sem lavagens nem angústias. O país enfrentava só nos últimos dias uma onda de civilidade estranha, coisa que não víamos há mais de cinco anos. Os investimentos estrangeiros aumentavam, a moeda sofria notória valorização, assassinos cristãos não aguentavam o fardo e enfartavam e representantes ainda não empossados viajavam ao Egito para debaterem promessas sobre o clima mundial, para que as chuvas de novembro viessem só no fim de dezembro, lá pra janeiro, e que o calor amazônico não nos surrasse o couro como o vinha fazendo na última década. Apesar de vias paradas, de livros atrasados e da necessidade urgente de intervenção psiquiátrica em pequenas multidões de gados pingados (uma arruaça até comum e condizente com a ambientação social dos últimos anos, quase imperceptível, apenas ruidosa e hilária), o país encarava certo ar de civilização política avançada, onde homens agiam como homens, mulheres agiam como mulheres e equinos relinchavam em seus devidos currais, choramingando seus futuros abates. 

Sem avisos, Celina me beijou o canto da boca. De imediato, respondi ao beijo como uma criança empolgada.

Por que a gente não faz isso mais vezes? Ela perguntou.

Antes que eu respondesse, rosa levantou o copo, brindou ao nosso beijo e entornou a bebida:

Eita, que eu vou sobrar aqui. Volto depois, deu as costas e entrou no bar.

Por quê? Por que a gente não faz isso mais vezes? Ela repetiu a pergunta. 

A vida, eu acho. Não sei.

É isso não. Tu somes.

Eu tô sempre por aí, Celina.

Tá nada.

Suspirei devagar. Era como pisar em ovos. Um planejamento milimétrico, um discurso sempre ponderado, pensado, pausado acima de tudo para que as palavras certas fossem ditas e torrentes espontâneas evitadas (de ambos os lados).

Tamo quase bêbados. Deve ser isso, eu disse.

E daí?

É quando tu lembras que eu existo.

Isso é um absurdo, ralhou ela. Tu pensas em mim todos os dias?

Não.

Viu? Eu também não. Só quando te vejo ou quando escuto a teu respeito. Aí não consigo evitar. A bebida só facilita.

É, é verdade. Eu também fico assim.

Viu?

Então. Eu não sumo. Eu tô sempre por aí. É que a gente não se esbarra muito. Só isso.

Acho que é.

Desculpa, não queria começar uma DR, eu disse.

Ela fungou o nariz em protesto, alcoolizada demais para remoer as pequenas coisas que justificavam as grandes distâncias.

Eu vou te desculpar porque hoje é um bom dia. Olha a chuva. Olha tu aqui. Nem tava nos planos, só apareceu. Até parece o destino, ela então tornou a me beijar. 

O rosto arredondado de Celina cabia entre minhas duas mãos. Não era a primeira vez que fazíamos aquilo – encontros esporádicos, promessas antigas e retornos certeiros. No próximo dia, na semana seguinte ou nos meses vindouros, a vida geralmente cobraria o preço cotidiano. Sabedores disso e desprezando a isso, ignorávamos. A vida era uma grande tábua de madeira carcomida pelas décadas. Os lábios de Celina, alcoolizados ou não, eram a grande brecha. Momentâneos.

Feliz aniversário, eu disse novamente.

Ela agradeceu com um sorriso trôpego. 

Essa última semana foi um Inferno, sabia? Tudo deu errado no trabalho, pergunta pra rosinha. Três clientes pularam fora do barco e melaram os contratos do resto do ano. Agora a gente tem que aguentar burocracia e corte de gastos. Todo aquele blablablá burocrático, sabe? Não bastasse isso, ainda vivemos nessa loucura de país.

Há muitos anos, na verdade, complementei.

Há muitos anos nada. A gente tava indo bem, agora vai ser foda. Acho até que esses clientes que pularam fora desistiram do contrato por conta do que tá rolando no cenário político. Um Inferno, essa volta do Comunismo.

Como assim?

É. O Comunismo.

Beijei-a, bem de leve, a testa. Aí me recompus, permitindo que o sangue fluísse sem confusões pela cabeça e pelos ouvidos. Olhei em volta. A chuva havia passado e só uma garoa quase inexistente pairava no céu. Do outro lado, a praça, para onde estreitei os olhos à procura de algo. Depois continuei buscando embaixo do toldo, entre os beberrões que nos acompanhavam, em seguida pelo interior do bar, no balcão, escondido atrás da coluna espelhada, dentro das geladeiras ou saindo do banheiro.

Cadê ele, Celina?

Ele quem?

O Comunismo. Tô procurando.

Ela torceu os lábios.

Quer saber? Essa culpa eu não carrego.

Que culpa, Celina?

De colocar esse homem de volta no poder. Um absurdo. Um absurdo.

Foda, né?

É. Foda. 

Cheirei o topo de sua cabeça. Afaguei o nariz entre os cabelos castanhos. Inferno. Como podia? Belas cascas armazenarem tamanho fedor.

Eu sei que tu apóias esse Molusco. Esse teu silêncio é chato, sabia? Não vais dizer nada? Ela perguntou.

Não. Fiz uma promessa.

Que promessa?

Que ficaria calado.

Pra quem?

Pra Nazinha.

Ela gargalhou, incrédula. E continuou:

Me admiro é de ti, sabe? Depois de todo esse tempo e depois de tudo o que ele fez.

Ah, é?

É!

O que ele fez?

Ela se afastou, proferiu um xingamento entredentes tão silencioso e desconexo que não entendi ou nem quis.

Essa loucura política tá destruindo tudo, sabe? Eu nem falo essas coisas mais perto da rosinha. A gente fez um trato: não falamos disso e preservamos a amizade. Tem dado certo. Meu pai, por exemplo? Ficou louco, louco! Fanático. Não fala mais com o resto da família de tanto defender esse homem. Não escuta mais a gente, fala que tudo o que a gente diz é mentira, que a gente tá inventando ou acreditando em histeria, em fake news. Não é fake, é só a verdade, mas vocês não gostam de ouvir. Ficam acreditando em cada notícia que sai nessa mídia esquerdista. Eu me admiro é de ti, sabe? Tu és tão inteligente, eu sei disso. Tens que saber que eles nos controlam. Sempre, sempre, sempre controlaram. Só porque um veículo de notícias é grande, não significa que esteja dizendo a verdade. Pelo contrário, são mal-intencionados. Não vê como eles perseguem o presidente? Em três anos e meio não deixaram ele governar e agora tão aí, comemorando a vitória do Molusco. Todo esse tempo comemorando a derrota, torcendo pra que tudo desse errado. Era contra o progresso do nosso país que torciam contra, meu Deus do céu! Daqui pra frente é ruína. Ruína. Não sei nem se vou poder continuar dizendo isso em voz alta sem que venham atrás de mim.

Tu tá falando sério, Celina?

Claro, disse ela, categórica. 

E olha, eu sei que tu vens com essa história de defender o Molusco. Mas tens que parar, tens que sair dessa bolha e olhar o outro lado da história.

O outro lado, é?

É. Eu te vi nas redes sociais nesses quatro anos. Posso fazer uma confissão? Ela balançou as mãos e molhou o lábio com a cachaça, a fim de dar mais desenvoltura à língua e à vontade de falar.

Sorri de leve e assenti, apertando-lhe a bochecha com esvaído carinho.

Eu tive que te silenciar no Face, no Insta e até no Whatsapp. Me desculpa, de verdade. Nem era por ti, era mais pelo assunto, por todo mundo brigando e deixando de viver porque um político ou outro fez uma besteirinha. Todos eles fazem isso, são políticos. Nenhum é inteiramente honesto. São todos iguais. Só que isso virou uma guerra desnecessária. Tu não paravas de falar, de postar, de criticar... Isso me cansou, sabe?

Sei.

Por isso te digo que deverias sair dessa bolha. Prestar atenção no outro lado.

Tá bom.

Outra coisa: eu adorava os teus textos. Por que não voltas a escrever que nem antes?

Tu achas?

Acho. Desde que essa loucura começou, paraste de escrever aquelas coisas tão lindas. Eu amava. Agora é tudo contra o presidente: só falas do presidente, contra o presidente. Vocês não deixam ele governar. Vocês falam tanto de saúde mental, de cuidar dos outros, de ter empatia. O Jumentinho foi até esfaqueado, pelo amor de Deus! Foi perseguido durante anos, não podia nem se dar ao luxo de ficar nervoso, de se estressar. Agora perdeu as eleições e tá visivelmente abatido, ninguém lembra que ele também é um ser humano. Coitado.

Tu votaste nele?

Óbvio que não!

Mas...

Olha, nem vem! Eu não sou nem um nem outro nessa guerra maluca. Só não gosto de ver as pessoas fanatizadas. O país tá quebrado no meio. As pessoas estão brigando, se matando por política! Que absurdo.

É, que absurdo.

Agora que acabou e que vocês elegeram esse Molusco, espero que terminem e parem com essa guerra. Vocês conseguiram, finalmente. Não podem dar um tempo?

Tentei virar mais um shot de cachaça, mas já havia terminado. Recorri à cerveja. Molhei a garganta. Amaciei o cérebro. Aí perguntei:

Queres que eu volte a escrever como antes?

Sim. Por que não voltas? Sabe, eu gostava tanto, ela finalmente se apoiou nos meus ombros, a expressão menos carrancuda. Eu não sou burra a ponto de dizer que arte e política não se misturam, mas quando uma fica maior que a outra, aí é chato. Perde a graça.

Entendi.

Eu te leio na internet, tenho todos os teus livros. Nunca parei de te ler nesses quase 20 anos.

Obrigado.

Mas desde que tu começaste a misturar política e arte, vem ficando chato.

É?

É. Sinto que teus personagens estão ficando... sabe... caricatos.

Sério?

Sério.

Muito caricatos?

Bastante. Ninguém é daquele jeito na vida real.

Não?

Não, ela bebeu o resto da cachaça. Ninguém diz todas aquelas coisas tão caricatas. A vida real não é assim.

Ah, não?

Não.

Acho que tu tens razão, eu disse. Como pode, né? Tamanha caricatura.

Exatamente! Ela sorriu, alegre e contente por proferir e me fazer enxergar tantas verdades.

Tá bom, envolvi-a pela cintura e depositei um beijo mais breve que o normal. Eu vou voltar a escrever como antes.

Ai, que bom! Ela buscou minha boca para mais um beijo estalado, mas levantei o dedo indicador e disse:

Lembrei! Lembrei de uma coisa. 

O quê?

Tenho que mijar. Já volto, anunciei com um sorriso.

Deixei Celina para trás e me embrenhei entre a pequena multidão que abarrotava o interior do bar. Aguardei na fila por tempo demais. Deixei que dois sujeitos atrás de mim passassem na frente.

Depois um terceiro

e depois um quarto.

Fui interrompido pela voz de rosa:

O que tu estás fazendo?

Vou no banheiro.

Então por que não entras?

Eu vou entrar.

Ué? Ela riu, confusa.

Que foi?

Tu já deixaste um monte passar na tua frente.

Deixei, foi?

Foi.

Ah.

Ficamos em silêncio. rosa tinha uma simpatia irrevogável, mesmo quando aplacada pela dúvida ou pelo incômodo. Os longos cabelos crespos e propositalmente embaraçados emolduravam o rosto confiável. Além de lindo, era um rosto agradável de se olhar, de se estar. Cartola havia cantado algo sobre rubros, rostos e rosas, não tinha?

Posso te perguntar uma coisa, rosa?

Pode.

Tu votaste em quem?

No Molusco, respondeu ela com latente obviedade.

Essa culpa eu não carrego, respondi.

Ela revirou os olhos e, de imediato, retrucou:

Não acredito, eu esperava mais de ti.

Essa frase não é minha. Ando escutando com frequência. Tá atravessada no meu intestino? Sabe? Igual merda acumulada, desabafei, cabisbaixo.

Ela concluiu a tudo com uma risada trágica. Disse por fim:

Ahhh, é. É. É. Pois é. Eu sinto muito.

É, eu também.

Um rapaz se aproximou e ficou parado atrás de mim, dei lugar a ele e indiquei que passasse. O silêncio entre nós repousou como uma pedra, mas não uma do tipo incômoda. Em parte, era a atitude dela, agradável e confiante, que servia como um aríete para o muro das amofinações. Em outra, porque era fácil conversar com rosa. Sem ovos a pisar, sem discursos para medir, sem palavras a calcular.

Ela cortou o silêncio:

Posso te perguntar uma coisa?

Claro.

Vocês dois se conhecem há muito tempo?

Desde a infância, quase.

Sempre foram amigos?

Sempre-um-pouco-mais-que-isso, na verdade.

Vocês parecem bem juntos. Por que não deram certo antes?

Porque éramos jovens demais e gente jovem demais faz merda demais, eu acho.

Se estranharam feio?

Pior que não. Foi sempre tudo muito pacífico, sem brigas.

Legal. E por que não ficam juntos agora?

Nós estávamos juntos até pouquíssimos minutos atrás, só que uma caganeira aconteceu.

Ela riu.

Não esse tipo de juntos, ela explicou.

Dei de ombros, igualmente confuso. Continuei:

Tu passas a vida inteira com alguém perto de ti e achas que conheces aquela pessoa. Aí, do nada, as coisas ficam claras. Ou talvez já estivessem. Era só tu que estavas... sabe... cego demais pra ver. Acho que alguns de nós envelheceram mal. Acabei de perceber isso.

Entendi.

Pois é.

Trágico, né? rosa ergueu as sobrancelhas e naquela brecha de momento não identifiquei se o gesto foi um escárnio bondoso ou um pesar iminente. Ela entornou a latinha de cerveja que tinha na mão, incomparavelmente mais sóbria que Celina e eu juntos e tão afável quanto no início da bebedeira.

É, nem tanto, respondi com estranho ar de alívio. Nem tanto.

Mais um rapaz chegou. Resolvi sair da fila. Minha bexiga era boa. Aguentava muita bebedeira. Eu só não queria era mijar mesmo.

Quer saber, rosa? Eu já tô indo.

Sério? Já?

Já.

Não vais nem se despedir?

Eu tô me despedindo agora, dei nela um abraço apertado. Foi um prazer te conhecer. E fiquei feliz pra cacete em saber que tu és tão responsável por carregar essa culpa quanto eu.

Ela riu e fez o M do Molusco com a mão.

Respondi com o mesmo gesto. 

A gente se vê por aí, ela disse.

A gente se vê por aí, eu respondi. 

Saí pela lateral do bar, atravessei duas ruas para não passar perto de onde Celina estava. A chuva e os chuviscos haviam cessado, porém o céu da tarde continuava escuro. Em casa, repus a quantidade de água para compensar o álcool e amolecer a merda no intestino. Sentei no vaso. Finalmente mijei. E também caguei, uma boa e progressiva merda que saiu como um trenzinho, deslizando sem dificuldade pelos trilhos que me eram as pregas recuperadas, apitando antes e depois de mergulhar na água. A Dra. Chucrute ficaria orgulhosa. Dei a descarga. 

Limpei minha bunda e tomei banho. A água gelada me escorreu pelo corpo. Lavou-me a alma e livrou-me de antigos apegos, todos mal envelhecidos e fedendo muito mal. Como podia? O corpo humano armazenar tanta merda. 

De repente, o celular tocou. Ignorei a pequena e muito contida torrente de mensagens que me questionavam onde fui parar e que aquele tipo de coisa não se fazia com alguém. Visualizei. Ignorei. Excluí.

Pouco tempo depois, o celular tocou de novo.

Uma solicitação de amizade surgiu na tela.

Era Rosa.          

 

 

 

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