21 de fevereiro de 2011

A Floresta




­ ­ ­ Jenny olhou em volta, não conseguia distinguir o local da da floresta em que estava. Talvez alguns metros da estrada, talvez quilomêtros ou anos-luz. Por essa razão o pavor escorria-lhe a espinha feito sangue numa lâmina assassina; ele abrangia muito mais que pernas trêmulas, respiração ofegante ou olhos vidrados. O pavor desfiava o controle da garota com mãos de ferro afiadas, comendo-lhe a alma com a fúria de um predador. Sem chances de serenidade. Sem saída.
­ ­ ­ A garota resolveu correr impulsionada pelo desejo de fuga, embora no fundo soubesse que sequer tinha conhecimento de qual rumo tomar ou destino seguir. Jenny correu o mais rápido que suas pernas longas e esbeltas conseguiam. Os gravetos a arranhavam, cortando a pele como navalhas gélidas. Sutis filetes de sangue já desciam-lhe pernas àbaixo. Ela chorava, a respiração a denunciava.
­ ­ ­ O Predador a ouvia.
­ ­ ­ Jenny corria, e corria. Não tinha ideia para aonde, apenas correndo. Tampouco sabia quem ou o quê estava brincando de caça com ela. Tudo o que sabia - e era o suficiente para apavorar a ponto de encobrir qualquer vontade de descoberta - era que, o que quer que fosse aquilo, era a mesma coisa que há minutos sugara - literalmente - seu namorado, Johnny, da margem da estrada para a escuridão da floresta, ouvindo seus gritos e depois nada mais que o silêncio mortal.
­ ­ ­ E­­la tentava fugir daquilo - era sua total prioridade -, sem a mínima fagulha de esperança dentro de si. Tentava por puro instinto. Puro.
­ ­ ­ Correu por mais um tempo sem ao ao menos encontrar um foco de luz ou salvação naquele lugar. Jenny sentia-se perdida.
­ ­ ­ Ela mal sabia que já estava há muito tempo. A partir do momento em que pisou naquela floresta.
­ ­ ­ A garota parou de correr. Sentiu algo atrás de si, uma presença gelada que petrificou-lhe a alma já em frangalhos.Jenny virou de costas subitamente. Julgou que alguém ou algo a espreitava, mas nada havia ali. Nada. A presença havia desaparecido, mas ainda assim estava espreitando - sem que Jenny soubesse. Observando. Esperando.
­ ­ ­ Jenny não conseguiu se mover em seguida. Não porque não queria, ou porque o corpo amedrontado a impedia, bloqueando todos os movimentos num acesso de medo. Não. A garota não se movia pelo simples fato de algo aprisioná-la ao chão, segurando seus pés com um aperto tão forte que seria capaz de esmargar-lhe os ossos. Jenny olhou para baixo, na direção dos próprios pés.
­ ­ ­ Silêncio. Alguns longos e intermináveis segundos de silêncio.
­ ­ ­ Seus olhos foram tomados de horror, a boca se abriu ameçando um grito.
­ ­ ­ As raízes das árvores em volta enrolavam suas pernas, numa pressão que já lhe estourava as veias. Aos poucos, aquelas coisas chegavam de todas as direções. Vivas. Deslizando pelo solo como serpentes famintas. Mas não eram serpentes.
­ ­ ­ Eram as árvores, eram suas raízes.
­ ­ ­ Só então Jenny percebeu que não estava sozinha, já que s floresta parecia ganhar vida ao seu redor, como se estivesse falando, olhando, agindo, armando. Se mexendo.
­ ­ ­ A garota novamente tentou - em vão - se livrar, soltar-se de todo aquele pesadelo, mas não podia. Era impossível. As raízes envolviam seu corpo por completo, ja enrolando-lhe os quadris, esmagando-lhes os ossos.
­ ­ ­ A boca abriu-se ainda mais, tentou gritar. Não houve tempo.
­ ­ ­ O chão se expandiu num enorme buraco negro, desprovido de qualquer iluminação ou vida. ­ ­ ­ Escuro. Dilacerante. Gélido. Mortal.
­ ­ ­ Jenny foi puxada para o buraco, arrastada por todas as raízes envoltas por seu - fraco e quebrado - corpo. Sugada por ele feito uma desprezível existência, a garota tentou gritar, mas o grito não saiu, foi totalmente calado pela escuridão daquele tão recente abismo. Totalmente engolida.
­ ­ ­ O buraco se fechou. A floresta viva pareceu vibrar pela vitória.
­ ­ ­ E então se calou.


(Felipe Santiago)

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