15 de agosto de 2015

Coisa de olho



Era alucinado por ancas magras, pontudas, esqueléticas.
Aquilo não era tara. Aquilo não era coisa de carne, era coisa de olho – admirar, desejar beijar, abraçar, acariciar, sentir, se fundir.
Amava ancas magras, estruturas longas e finas, glândulas mamárias pequenas e bem formadas, por vezes pontudas, por vezes discretas, por vezes abomináveis (já que mesmo as coisas feias possuem em si uma beleza latente, como um Yin e Yang da estética. Admirava também aquele corpo em pé, despretensioso, os cabelos lisos, meio cacheados, meio ondulados, um pouco abaixo dos ombros magros com os óculos-de-gente-boboca. Era alucinado por essas coisas que as mães não alucinavam e os machos no cio não se excitavam. Era alucinado por bundas pequenas e discretas, alucinado por existências aparentemente frágeis, quebráveis a um toque. Era alucinado por passos delicados, idealizados, calçados ou descalços, deformados pelo ballet ou deformados nos calcanhares, com unhas bem cuidadas ou unhas descuidadas, com o esmalte descascando ou simplesmente sem esmaltes. Era alucinado por coxinhas miúdas. Era alucinado por dedos longos e magricelos, era alucinado por ossos aparecendo ou simplesmente por ancas esqueléticas, protuberantes, singelas e desconcertadas que se julgam tão indignas de admiração e beleza. Era alucinado por essas coisas que todos julgavam sem graça, porque não era coisa de tara ou carne, era coisa de olho.
Era admirar, desejar beijar e abraçar, acariciar, sentir, se fundir.



2 comentários: