Era
alucinado por ancas magras, pontudas, esqueléticas.
Aquilo não
era tara. Aquilo não era coisa de carne, era coisa de olho –
admirar, desejar beijar, abraçar, acariciar, sentir, se fundir.
Amava ancas
magras, estruturas longas e finas, glândulas mamárias pequenas e bem formadas,
por vezes pontudas, por vezes discretas, por vezes abomináveis (já que mesmo as
coisas feias possuem em si uma beleza latente, como um Yin e Yang da estética.
Admirava também aquele corpo em pé, despretensioso, os cabelos lisos, meio cacheados, meio ondulados, um pouco abaixo dos ombros magros com os
óculos-de-gente-boboca. Era alucinado por essas coisas que as mães não
alucinavam e os machos no cio não se excitavam. Era alucinado por bundas
pequenas e discretas, alucinado por existências aparentemente frágeis,
quebráveis a um toque. Era alucinado por passos delicados, idealizados,
calçados ou descalços, deformados pelo ballet ou deformados nos calcanhares,
com unhas bem cuidadas ou unhas descuidadas, com o esmalte descascando ou
simplesmente sem esmaltes. Era alucinado por coxinhas miúdas. Era alucinado por
dedos longos e magricelos, era alucinado por ossos aparecendo ou simplesmente
por ancas esqueléticas, protuberantes, singelas e desconcertadas que se julgam
tão indignas de admiração e beleza. Era alucinado por essas coisas que todos
julgavam sem graça, porque não era coisa de tara ou carne, era coisa
de olho.
Era admirar, desejar beijar e abraçar, acariciar,
sentir, se fundir.
Ótimo texto, parabéns. Inspirador.
ResponderExcluirhttps://pontonoconto.wordpress.com/
Muito obrigado, Ana Maria! :)
Excluir