Não diga o nome dela – não profane
este leito. Não abra o lixo ao qual você chama de boca para falar dela, de seus
cabelos ou sua pele alva. Não toque nela nem com dedos, nem com palavras, nem
com pensamentos sujos – não há dignidade em terceiros para tal, não há direito,
não há o porquê. Não suje aqueles olhos castanhos com mentiras e suposições,
não suje aquelas atitudes por falsas ou adúlteras; não julgue aqueles olhos
castanhos por brincalhões. Não diga o nome dela se em sua boca não tocou ou em
seu peito não repousou por uma tarde inteira de fugas e esconderijos. Não
balbucie aqueles pequenos lábios nem agrida aqueles longos dedos. Não finja
entender aquela calmaria da alma e o turbilhão do veneno que as estrelas a
concederam no ato de nascer. Não queira compreender o amor pelos inocentes, a
intensa busca pela paz e o intenso pavor da guerra, das palavras ruins e dos
distúrbios existenciais. Não diga o nome dela se não a conhecer em cada detalhe
– a extensão das costas, os braços longos ou as poucas porém estratégicas
pintas pelo corpo; a textura da pele e a voz mansa, por vezes chapada e
infantil, por vezes madura, firme e enigmática demais; os livros estranhos que
mantém na estante; as músicas desconhecidas que escuta; os problemas com a
materna mulher que a deu a luz, a desprendida presença do pai; o aroma dos
cabelos, o aroma do hálito, até mesmo o aroma entre as pernas quando bem
empolgada. Não diga o nome dela se tão pouco conhecê-la como eu tão relativamente
a conheço. Não diga o nome dela, tampouco diga que não a amei. Não diga
besteiras insanas sobre realidades desconhecidas, não diga mentiras, nem
suposições de minhas refrações ambíguas e silenciosas. Sobre ela, não pronuncie
uma palavra sequer; sobre mim, cuspa todas. Somente não diga o nome dela, pois
ninguém possui esse direito – nem mesmo eu.
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