Renasço hoje nesta vida talvez por
vergonha, talvez por medo, talvez pela não saudade da época em que estivemos separadas.
Eu sinto sua falta, sim, porém me assusta a possibilidade de perdê-la
novamente, como foi naquelas obscuras semanas em que vaguei por aqui sozinha,
sabendo que você abraçava o mundo com uma superação espantosa. É por isso que
renasço aqui, pelo medo ou covardia do que estas palavras te causariam, pelo
medo ou pela covardia de que sei que voltaria a me detestar – meu ofício,
minhas provisões para essa vida tão cruel e massacrante. Renasço hoje nesta
nova pele porque, mesmo tendo-a perto, ainda sinto medo pelas coisas que você
me fez passar e por cada uma das outras tantas coisas que ainda me aterrorizam
em você. Tenho medo também pela pessoa que diz ser hoje, pela mudança que disse
que também está empenhada em cumprir, quando na verdade eu vejo em cada uma de
nossas pequenas e minúsculas brigas o quanto você não mudou, o quanto você
ainda está aí, toda cheia por suas infundadas razões, pela sua superioridade e
seu alto poder de oratória, que sempre me vence e esmaga na minha tão boba e
patética forma de argumentação. Você é mais forte que eu até quando não tem a
razão, você é tão mais forte que eu que ainda assim consegue me vencer, fazer
com que eu pareça a errada e consegue magnificamente me passar a responsabilidade
por cada uma das minhas atitudes passadas ou presentes. Você ainda ignora o que
fez, você ainda consegue dar razão para suas podridões, mesmo quando tudo o que
eu tento fazer é buscar a iluminação correta com a confissão sincera dos meus
pecados – que juro saber que não foram poucos e que juro saber que nem todos
foram meus.
Você ainda me assusta com sua loucura
esmagadora e capacidade nata de possuir a razão sobre tudo, Amélia. E o que me
mais me consome, mesmo nos tempos de paz, é que eu sei o quanto isso um dia
terminará novamente em sangue e guerra, exatamente como naquele mês de Abril,
exatamente como um dia no futuro. É por isso que renasço aqui hoje, longe dos
olhos do mundo, longe dos olhos conhecidos, porque quero gritar os meus
assombros e os meus amores.
Quero gritar estas palavras
impronunciáveis.
C. Tavares,
20 de Junho de 2015
20 de Junho de 2015
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