15 de janeiro de 2011

Before Fall

­ ­ Eram os últimos raios de verão, e eu os sentia como se aquela fosse a minha última despedida de uma estação do ano. Talvez até fosse. Os raios tocavam-me a pele ressecada do rosto e aqueciam meus lábios rachados como se eu a estivesse beijando novamente. Mas, eu sabia que não passava de mais uma daquelas sensações de saudade que me esmagavam o peito há dias, ela não estava ao meu lado e jamais viria a estar, e isso me assombrava. Num instante eu me via feliz e completo, no outro, não enxergava mais o que havia ao meu redor e me dava conta do quanto ela passara a ser o meu mundo. Sem ela eu nada era. Sem ela, eu voltava a ser o que sempre fui. Eu estava perdido e desolado, apaixonado eternamente por um alguém que jamais voltaria a ver. Os olhos de tentação, os lábios de ternura e o corpo de fogo, o toque que não mais me levaria ao delírio e a voz que não mais abalaria meu âmago.
­ ­ Perdido e sem caminho, ali eu estava. Senti o vento quente – talvez o último que eu viesse a sentir na vida que aos poucos se esgotava, chegando ao gran finale – o estoque de cafeína já não mais satisfazia as necessidades do meu corpo, como se mesmo aquele vento fraco e acolhedor de verão pudesse me arrastar com ele, já que meu estado físico era mais que deplorável.   Olhar minha própria imagem no espelho seria um susto, eu sentiria pena e ódio. Ela, que um dia foi minha vida, agora estava...
­ ­ Olhei em volta. Eu estava sozinho naquele lugar. Fitei o local onde seu nome fora moldado, sua foto mais bela ali estava para lembrar aos homens que só houvera um único anjo a passear pela Terra. O anjo que um dia me afagou com seus lábios de ternura. Uma lágrima escapou-me os olhos, suspirei fundo e mordi o canto da boca.
­ ­ Ela ainda permanecia perfeitamente linda sob aquela lápide.
­ ­ E, mesmo morta, qualquer um se daria conta que era a minha morte interior a mais lamentável e dolorosa. Viver sem ela não fazia sentido. Logo, logo, eu daria um jeito nisso.

(Felipe Santiago)

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