16 de janeiro de 2011

Enquanto você estiver em mim...



­ ­ Há um momento em que seus olhos tentam enxergar aquela antiga imagem que um dia se mostrou brilhante, e então, tudo o que eles conseguem ver é um espelho embaçado e escurecido. A pessoa que está diante desse espelho deveria notar o quanto a dor da diferença lhe acomete, mas, para seu próprio espanto, a indiferença não é algo que existe por conveniência, e sim por que apenas é tudo o que resta.
­ ­ Não há arrependimento, e as últimas lágrimas que deveriam lhe encher os olhos, não passam de um último suspiro do desejo de algo que ainda era humano dentro do peito. A pessoa se dá conta de que tudo, exatamente tudo o que ainda havia de bom ali dentro, não respira mais – ou, pelo menos, não da mesma forma sincera e natural de antes. Mas isso é algo tão obscuro e vergonhoso, que ninguém mais percebe tal estado de puras sombras. As pessoas que o cercam não se dão conta do quão falso você é, já que todas as suas preocupações para com elas, nada mais são do que um fingimento egoísta e dissimulado, capaz de mentir e fingir cuidado na intenção de não se sentir sozinho. Os problemas alheios não lhe importam, você pragueja toda aquela reclamação e deseja que apenas te ouçam e te entendam; tudo o que mais quer é que aquelas pessoas estejam ao seu lado somente na função de te ouvir e entender, porque é isso o que você mais quer: falar de si mesmo e de seus problemas. Você, você e você. São poucas as coisas que ainda lhe interessam em relação a terceiros, embora elas ainda existam. E é nessa característica que algo dentro de suas forças o faz ter esperanças: você ainda se preocupa, talvez ainda tenha humanidade consigo.
­ ­ ­ E no final, você consegue suspirar e sentir uma brecha luminosa entre todas aquelas sombras: há um alguém para qual você vive e dedica seus últimos vestígios de bondade, essa pessoa lhe agarra os braços e, aos poucos, lhe retira das sombras e lhe trás de volta à luz. É para ela que você dedica tudo o que tem, é capaz – mesmo não sendo uma atitude honrosa - de esquecer tudo o mais; amigos, família e as próprias necessidades. Você parece voltar ao estado inicial. Não está realmente se importando com o mundo a sua volta, tampouco com as outras pessoas que te amam e te amparam. Faz coisas que jamais sonharia em ter feito, e ao invés de sentir extrema vergonha e implorar perdão, você realmente não se importa. É puro egoísmo. É pura monstruosidade. No entanto, se aquela pessoa - que o aquece fazendo brilhar a luz bondosa que antes existia - permanecer ali, talvez ainda haja esperança. Você ainda a ama, ela é a última faísca reluzente de humanidade que restou desse monstro. Um monstro que aos poucos morre, ou, no mínimo, um monstro que aos poucos reaprende a ser humano. A pessoa te faz sentir de novo, te trás de volta a bondade e a delicade. Te ensina o que é, mais uma vez, o amor  

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