16 de fevereiro de 2012

Lampejo



A luz do dia invadiu o quarto num tom suave e refrescante. Através das imensas janelas de vidro que eram dispostas no lado oeste do quarto, a luminosidade refletia consigo um novo vigor para aquela manhã de primavera. A luz aquecia, também, o rosto do homem com calmaria, mas aquilo não foi o que o despertou. Ele já estava acordado há algum tempo.
Seus olhos esverdeados fitavam o teto claro enquanto os pensamentos vagavam longe. Um breve sorriso fora estampado em seu rosto. Aquilo era o mais puro e inocente sinal de felicidade. Ali, compenetrado e distante, o homem não ansiava por fama e fortuna. Não se imaginava vagando pelos oceanos através de um atlântico ou viajando através da costa com seu pequeno veleiro. Carros de luxo, tampouco. Não cobiçava mansões, prestígio ou contas bancárias fartas. Ele sabia do que precisava para ser feliz – porque era exatamente tudo e o pouco que tinha. A riqueza de um homem se dá não por suas posses, mas pela grandeza e satisfação de sua alma. Ele tinha aquilo que precisava e isso bastaria até o fim de seus dias.
Um breve movimento fez-se ao seu lado. Ele foi arrancado dos devaneios e alargou o sorriso. Os dentes claros cintilaram ainda mais, expressando o tamanho de sua alegria. Moveu-se de lado na cama e apoiou o corpo com o cotovelo. E então, com seus profundos e esbeltos olhos verdes, ele fitou o alvo de sua felicidade: a mulher acabara de acordar – não da forma tranqüila como ele fizera, mas daquele jeito rabugento e preguiçoso que se dissiparia pouco a pouco. Ele amava aquilo.
Ela tinha cabelos curtos e negros que deslizavam até os ombros e repicavam nas pontas. A franja lateral delineava-se em harmonia com o formato do rosto. Os olhos escuros eram de uma profundidade espantosa, a ponto de tragá-lo numa paixão feroz e arrebatadora a cada instante que ele os fitava. O nariz arrebitado a proporcionava certo tom de deboche e ironia. Já os lábios retratavam com clareza o doce e agradável delineamento das ondas de um mar amável e azul. Talvez ela não fosse o modelo de pessoa perfeita para o mundo, mas era a mulher perfeita para ele. Isso basta.
- Bom dia, meu amor. – Ele sussurrou.
Como era de praxe, ela não respondeu. Apenas sorriu e afagou-lhe o rosto. Levava tempo até aquela mulher acordar e sintonizar-se com o mundo real. Era como se ainda estivesse presa ao mundo dos sonhos mesmo depois de acordada. Ela não falava, não conversava ou dava bom dia – não por falta de educação. Ela apenas sorria. Era aquele sinal que ele precisava para levar seu dia de bom grado e voltar para cama à noite com disposição. Era tudo o que necessitava para ser feliz.
Ele fechou os olhos e sentiu a ponta dos dedos dela, delicados como veludo. Então voltou a fitá-la e aproximou o rosto para empregá-la um beijo na boca. O toque foi breve, rápido e sutil, mas refletia todo o afeto que ele sentia pela mulher. Após o beijo, ela pareceu escapar um nível dos sonhos em direção à realidade. O sorriso que todos os dias de manhã o saudava com entusiasmo, agora se alegrara um pouco mais. Ela pensou em retribuir, mas conteve-se ao perceber que ele faria outra coisa. A mulher, mais desperta, observou-o deslizar abaixo pela cama em direção à sua barriga. Ela sabia o que ele faria, por isso fitou-o com extremo carinho.
O homem parou na posição que desejava e sorriu consigo mesmo. Naquele lugar, naquele dia e ao lado daquela mulher, ele sabia qual o verdadeiro significado de paz, fidelidade e alegria. Então deslizou ambas as mãos sobre o volume arredondado e elevado da barriga dela. Recostou o rosto lateralmente, pousando o ouvido para escutar os sons que sua filha produzia. Ele sorriu novamente e quase pensou em chorar, tamanha era sua felicidade.
Mas não o fez. Apenas ficou pelo resto da manhã naquela posição, ao lado das duas mulheres que mais amava na vida.

2 comentários:

  1. T. T que lindo! Miaah, quase choro aqui, muito bem Santiago, continua escrevendo... *o* by. Luana. M P.S:. Sua saude anda bem?

    ResponderExcluir
  2. Chora não, chorar é triste rs. E obrigado, enquanto eu tiver vida ou dedos, continuo escrevendo.
    Minha saude anda um trapo, mas isso nunca foi novidade, haha.

    ResponderExcluir