22 de fevereiro de 2012

Milagres

J: Mas, você disse o tempo todo que a vida não tem sentido. Então como...
Dr. M: Eu mudei de ideia.
J: Mas... Por quê?
Dr. M: Milagres termodinâmicos... Eventos tão improváveis que são impossíveis na prática, como oxigênio virar ouro espontaneamente. Eu quero muito observar algo assim. No entanto, em cada par humano, milhões de espermatozóides avançam rumo a um só óvulo. Multiplique as possibilidades por incontáveis gerações. Juntem à chance de seus ancestrais estarem vivos; de se encontrarem; de conceberem esse preciso filho; essa exata filha. Até mesmo sua mãe amar um homem que tinha todas as razões para odiar e dessa união, das milhões de crianças competindo pela fertilização, foi você, apenas você, que emergiu... Extraindo uma forma específica desse caos de improbabilidades, como o ar se transformando em ouro. Isso é o pináculo do improvável. O milagre termodinâmico.
J: Mas... Eu, se meu nascimento, se isso for um milagre termodinâmico... Pode-se dizer o mesmo de qualquer pessoa no mundo?
Dr. M: Sim. Qualquer pessoa no mundo. Mas o mundo é tão cheio de pessoas, tão repleto desses milagres que eles se tornam lugar comum e nós esquecemos. Eu esqueci. Nós contemplamos continuamente o mundo e ele se torna opaco às nossas percepções. No entanto, encarado de um novo ponto de vista, ainda pode nos tirar o fôlego. Vamos, enxugue as lágrimas... Porque você é vida, mais rara que um quark e mais imprevisível do que qualquer sonho de Heisenberg; a argila na qual as forças que moldam a existência deixam as impressões mais visíveis. Enxugue as lágrimas... E vamos para casa.

Um comentário:

  1. Nossa, realmente é incrível como esquecemos o quanto somos especiais... De onde é esse diálogo?

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