Eu sou leviano, meu coração é fraco,
mole e vagabundo, tão frágil quanto um acúmulo de areia brevemente condensado.
Metáforas à parte, essa é a verdade, um mal que me compele há tempos, do qual
não consigo manter as rédeas e, lógico, merecedor de toda minha carga dramática
para a composição destas palavras. Vocês
também são assim? Há quem confunda minha brincadeira sobre “estar
apaixonado” com o ato sólido e direto de se apaixonar, assim como – as mesmas
pessoas – confundem com suas puras ignorâncias o meu ato de “admirar” com uma
“corrida ao banheiro”. Queria eu que todos parassem, por um segundo, de julgar
minha fútil e desprezível pessoa e entendessem a visão poética que me acomete.
Certa vez, escrevi aqui sobre as costas de uma garota, falei sobre acariciá-la,
nua, na cama, beijá-la e dedicá-la todo o carinho mais simplório e babaca de um
homem e, adivinhem só? Fui taxado
como tarado por deturpar leviana e frequentemente uma simples costa, imaginar
feitos sexuais brutos e, como sempre, “horas
e horas no banheiro”. Não sei se é sobre a visão poética ou sobre ter um
coração leviano; não sei se é sobre ser um tarado à solta que olha algumas
mulheres de maneira diferente (o que automaticamente já me torna leviano, no
sentido sexual e psicótico da coisa); não sei se é sobre o desconhecimento que
alguns sempre terão sobre enxergar o mundo com olhos distintos; no fundo, também
não sei se é sobre escritores ou metidos
a escritores sempre serem mal compreendidos, mal interpretados por suas
linhas retas e sinuosas que os mal avisados insistem em trilhar erroneamente;
escritores – ou metidos a escritores –
têm disso, certo? Suas entrelinhas, suas
metáforas, suas analogias cíclicas e substituições de termos serão lidas com
análises ferrenhas e maldosas, por receptores que enxergam borboletas no lugar
de mariposas ou vermelho no lugar do carmesim – porque saiba você ou não, há sim uma distinção, e na poesia, friso,
pequenas distinções podem significar imensos abismos separados por léguas de
distância. E talvez tudo isso me torne leviano: interpretações erradas,
julgamentos inapropriados sob ordens religiosas que insistem em dizer “não
julgarás”. E talvez – esta é a parte boa
– só por isso eu continue a escrever textos ambíguos e significados triplos,
com a singela intenção de soar verídico em minhas levianas paixões e com a
ácida intenção de jogar uma faísca na cobertura que cobre o espetáculo de suas
mentes - o que me torna leviano, no fim, é
adorar ver o circo de todos vocês pegar fogo.
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