19 de dezembro de 2013

Leviano



Eu sou leviano, meu coração é fraco, mole e vagabundo, tão frágil quanto um acúmulo de areia brevemente condensado. Metáforas à parte, essa é a verdade, um mal que me compele há tempos, do qual não consigo manter as rédeas e, lógico, merecedor de toda minha carga dramática para a composição destas palavras. Vocês também são assim? Há quem confunda minha brincadeira sobre “estar apaixonado” com o ato sólido e direto de se apaixonar, assim como – as mesmas pessoas – confundem com suas puras ignorâncias o meu ato de “admirar” com uma “corrida ao banheiro”. Queria eu que todos parassem, por um segundo, de julgar minha fútil e desprezível pessoa e entendessem a visão poética que me acomete. Certa vez, escrevi aqui sobre as costas de uma garota, falei sobre acariciá-la, nua, na cama, beijá-la e dedicá-la todo o carinho mais simplório e babaca de um homem e, adivinhem só? Fui taxado como tarado por deturpar leviana e frequentemente uma simples costa, imaginar feitos sexuais brutos e, como sempre, “horas e horas no banheiro”. Não sei se é sobre a visão poética ou sobre ter um coração leviano; não sei se é sobre ser um tarado à solta que olha algumas mulheres de maneira diferente (o que automaticamente já me torna leviano, no sentido sexual e psicótico da coisa); não sei se é sobre o desconhecimento que alguns sempre terão sobre enxergar o mundo com olhos distintos; no fundo, também não sei se é sobre escritores ou metidos a escritores sempre serem mal compreendidos, mal interpretados por suas linhas retas e sinuosas que os mal avisados insistem em trilhar erroneamente; escritores – ou metidos a escritores – têm disso, certo?  Suas entrelinhas, suas metáforas, suas analogias cíclicas e substituições de termos serão lidas com análises ferrenhas e maldosas, por receptores que enxergam borboletas no lugar de mariposas ou vermelho no lugar do carmesim – porque saiba você ou não, há sim uma distinção, e na poesia, friso, pequenas distinções podem significar imensos abismos separados por léguas de distância. E talvez tudo isso me torne leviano: interpretações erradas, julgamentos inapropriados sob ordens religiosas que insistem em dizer “não julgarás”. E talvez – esta é a parte boa – só por isso eu continue a escrever textos ambíguos e significados triplos, com a singela intenção de soar verídico em minhas levianas paixões e com a ácida intenção de jogar uma faísca na cobertura que cobre o espetáculo de suas mentes - o que me torna leviano, no fim, é adorar ver o circo de todos vocês pegar fogo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário