Desculpem-me, irmãs, mas depois dela,
eu não fui mais o mesmo. Ainda bem que não, e infelizmente não, também. Eu emporcalhei, sinto informar,
tornei-me o mesmo objeto que tanto tempo passei observando, criticando e repudiando.
Por isso minha teoria estava certa: todo homem é um bom homem, até levar o
primeiro soco no estômago. Alguns ainda são bons homens porque nunca levaram
este soco até hoje – e que malditos sortudos eles são. Não que um soco não seja
necessário, não que eu esteja negando por meio de ridicularizações aquele que
foi me dado, muito pelo contrário, agradeço muito por ele e pela dor que quase
me fez borrar as calças, mas aí é que entra o lado ruim da história toda:
emporcalhei. Depois dela não fui mais o mesmo, meus agradecimentos e xingamentos, e, claro, meus pêsames a todo
mundo que veio após o adeus dela, porque os escrúpulos morreram, as piadinhas
eclodiram, os preconceitos, os elogios com os olhos e o estalar de lábios
sussurrando “Deus seja louvado, hein, neném?”.
É a consumação básica e cíclica de um menino bondoso para o moleque vadio,
ou de um homem gentil para o canalha supremo, é assim que acontece, por mais
que vez ou outra eu queira voltar, sinta o saudosismo da época em que eu era
inteiramente dela, quando meus olhos não concediam a qualquer outra um momento
de distração. Bobo, infantil, besta,
burro, porém fiel. É o que acontece, irmãs. Com ela o negócio era
diferente, as cartas eram outras e o meu eu
também o era. Havia honra em tudo aquilo, havia sinceridade no sentimento,
havia fidelidade na causa e no objetivo. Depois delas, para qualquer homem,
nada jamais será o mesmo, são mudanças montadas sobre destruições passadas,
alicerces sobre tombamentos insanos, a eterna metáfora para a explicação de uma
ocasião simples e qualquer. O mesmo de
sempre, a mesma história se repetindo, de novo e de novo. Por isso,
desculpem-me irmãs, mas de mim (não que isso seja uma honraria), vocês nada terão
que a ela um dia foi oferecido, porque, sinto informar, vocês não são ela, nem agora, nem depois, nem nunca.
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