Por que ele ria tanto? Simples: a
vida era uma eterna piada, muitas vezes com um sádico humor negro, tingindo vez
ou outra de vermelho escarlate, mas ainda assim uma piada. E por isso ele ria,
por isso ele fazia piadinhas em momentos tensos, onde as pessoas insistiam em
parecer sérias. Era o seu modo de sobreviver, afinal de contas, embora ninguém
entendesse, embora todos julgassem por imaturidade. Imaturo? Não. Não, vos afirmo
que não. Ele sabia observar, ele sabia o podre de cada um, ele sabia quando
falavam mal, quando soavam verdadeiros, quando mentiam e quando se valiam de
falsidades. E aí ele brincava, brincava porque julgava-se superior aos outros,
pelos menos nesse sentido. As piadas o faziam de bobo, e o maior prazer era
esse: vejam-me como um bobo, interpretem-me
como um bobo, tratem-me como um bobo, porque bobos não são levados a sério,
bobos são imunes, bobos são eternos observadores, catalogando relações humanas,
guerras e intrigas, bobos estão à parte, à margem do fogo cruzado, rindo e
lamentando a hipocrisia humana. Era tão simples. Para ele, não importava
ser taxado de criança, não importava que os outros o olhassem com olhos de
desprezo – aliás, era isso o que o mundo sempre fazia, e depois de muito sofrer
por isso, ele aprendeu a usar ao seu bel prazer, aprendeu a usar a seu favor. E
aí continuou com as brincadeirinhas, as piadinhas, enquanto pessoas próximas a
ele se matavam em fofoquinhas, em intrigas e estúpidas justificadas pelas
variações de hormônio. E que a ele fossem atribuídas culpas por coisas que não
fez, que a ele fossem atribuídos atos maximizados em função de situações que,
no fundo, em nada tiveram caráter maldoso ou intencional. Que o mundo atribuísse
a ele interpretações errôneas, ele não ligava mais; que o julgasse inocente
demais, que o julgasse imaturo demais, que o julgasse sonso demais. Ele não
ligava, sinceramente, era sempre engraçado. Talvez fosse o estado da pseudo
ataraxia que pensava possuir ou talvez fosse o costume com tanta merda cagada
por tantos ânus puritanos e castos. “Puritanos
e castos”, hm, melhor dizendo. O eterno Morionem,
dando voltas e voltas na fútil seriedade que o mundo tentava empregar em
coisas irônicas e engraçadas.
Por isso ele ria tanto. Por isso ele
não parava de rir.
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