24 de julho de 2014

Vem que eu te mostro o caminho



Não é necessariamente sobre ela, mas o que me disse naquela tarde de sol poente. Nada de romantizar e poetizar aqui, era só um dia normal, uma tarde juntos na praia com o dia dando lugar ao crepúsculo. Sem metáforas lindas, nada de encher linguiça pra cativar e soar bonitinho. Só um dia comum, uma tarde terminando e as palavras que ela disse: “vem que eu te mostro o caminho”, e me puxou pelo braço, me levou um pouco mais para o fundo e onde seus pés conseguiam pisar. Eu sorri e a abracei – um sorriso normal, um abraço normal, nada de metáforas, nada de encher linguiça. Um sorriso e um abraço comuns. Acho que aquela frase surgiu de alguma brincadeirinha entre nós dois que pipocara no momento anterior, vinda de uma frase oportunista, bonitinha e intencionalmente forçada. Eu jamais iria lembrar o início das conversas e o rumo que elas tomavam, somente os detalhes  e momentos mais bobos, desses que cravam na sua memória sem motivo aparente. É assim que as coisas acontecem: você nunca lembra de tirar foto num surto de extrema alegria, porque está ocupado demais vivendo aquilo para lembrar da porra de qualquer celular, máquina fotográfica ou curtidas em redes sociais. E sobre a alegria, acho que é por isso que lembro da frase “vem que eu te mostro o caminho” e o modo como em seguida ela se encaixou no meu corpo naquele abraço para aplacar o frio da água e da praia. Nós dois, com corpos tão pequenos, magros, frágeis e infantis. Juntos. Numa frase perdida e sem muito sentido em meio a uma brincadeira, um papo furado qualquer sem, necessariamente, promessas de um futuro bom e promissor.
Tudo termina em merda. É a mais pura perspectiva da vida se você quiser assumir o inefável realismo dela. Olhe onde estamos agora, olhe tudo o que nos tornamos e as barreiras que hoje existem. Mas valeu a pena, se eu recordar aqueles três pequenos e infinitos segundos em que a voz dela pronunciou o que na minha memória ficou cravado, posso dizer que valeu a pena. É assim que a vida segue: destrutiva e trágica, porém com belos e momentâneos traços de paz e felicidade.
Vem que eu te mostro o caminho.
Eu devia ter ficado naquela praia.


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