Não
passa de quinta à tarde
em
nossa quente cidade
ela diz
que sou como as paredes de meu quarto
não aquelas
que portam os quadros
do velho
Robert “bardo” Zimmerman,
mas aquelas
que lajotam nossas costas no banheiro.
A cidade
quente esquenta tudo:
Tubulações,
canos, bafos
e também
a água que sai
quente
do chuveiro
parece
a água quente que sai
de
ti e encharca-me úteros.
A
cidade quente esquenta tudo:
porcos
santos e tesoureiros-pregadores
e
também a água que sai
quente
do chuveiro
parece
a água quente que sai
de
mim e encharca-te duros dedos, lívida língua e férvida face.
Ela
diz na quinta à tarde que a cidade é quente como
nossos
preguentos corpos no meio das três
de sol
ou de sereno.
Nossos
corpos são
como
a cidade
no trânsito
da tarde
de vendedores
entre carros
no calor da animosidade
vendendo
água mineral e refrigerante
batendo
nas laterais dos transportes públicos
queimando
no calor da cidade para repor o vazio
dos pratos
e das crianças.
Nossos
corpos são como a cidade
Quente
Em seus
fluidos em suas misturas em seus
Gritos
em suas fúrias.
Ela diz
em uma quinta à tarde,
nua
como a sacra vela episcopal
no
fundo do santuário de Fátima,
que
nossos corpos são
tão suados e quentes
quentes
como a cidade.
(Felipe Santiago)
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