27 de março de 2011

Um segundo



­ ­ ­ ­ ­ Um segundo para sentar, cruzar os braços e refletir. Um segundo para me afogar na tristeza, no abismo colossal da solidão. Voltar ao que um dia eu fui antes, voltar àquilo que um dia eu sempre fui. Retomar as mesmas opiniões, o mesmo olhar severo e crítico, o olhar de alguém sem temor. A única diferença, agora, é que dessa vez não existe sonhos nem metas, idealizações ou planos, é tudo vazio, porque tudo o que havia de bom se foi. Se perdeu. Desgastou. Aquele eu de antes, ainda mantinha algo brilhante e um tanto inocente, havia a esperança de encontrar algo que o fizesse ter um propósito digno de felicidade. Ele sonhava, e sorria com a ideia de que esse dia qualquer hora viria bater à sua porta, dizendo “olá, enfim eu cheguei”. Sonhava, e realizou. Alguém realmente lhe bateu a porta, esse alguém realmente lhe trouxe a felicidade e propósitos bondosos e dignos. Trouxe por um tempo, permaneceu construindo aquelas idealizações e planejamentos. Mas, o tempo acarretou consigo uma dúvida cada vez mais palpável: você mostrou o outro lado da sua face, mesmo com intenções? Houve o contemtamento e a audácia de revelar todas as verdadeiras facetas que ali havia? Eis aqui o ponto que não pode ser inteiramente revelado. Eis aqui a dúvida. Verdade, ou mentira? Neste um segundo, tudo o que preciso é de uma boa dose de reflexão, dor e angústia. São elas quem me trarão a razão que há muito havia me abandonado por deliberada consciência. A tristeza, sim, ela proporcionará um momento de pensamentos certos e diretos, me puxarão consigo ao estado da verdade, da análise... Da fuga da dúvida. No entanto, no segundo seguinte, a tristeza dará impulso ao peito, que vai bater forte e implorar por uma segunda chance. Vai aí, estar falando – novamente – as emoções que me cegaram os olhos e me trouxeram até este estado atual de melancolia, confusões e mágoas. E, no segundo seguinte, tentarei me afogar um pouco mais nessa fossa emocional, neste momento, estarei ignorando os sentimentos e até mesmo a razão. Porque, nessa hora, vou estar vazio e sem vida, sem motivações, planejamentos, sonhos ou esperanças – tiraram isso de mim. Esse tempo, ah sim, esse tempo vai ser somente meu. É aí que vou sentar, e mergulhar nas mágoas, olhar para o nada e imaginar outro nada. Um segundo para vegetar, me emancipar dos sentimentos. Um segundo para criar linhas desconexas, palavras sem sentido e parágrafos levianos. Um segundo para sentar na cozinha, tomar uma xícara de café e ser um zumbi ambulante.
­ ­ ­ ­ ­ Sem coração, sem desejos. Sem nada.

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