21 de março de 2011

Amável solidão



Observando o significado mais profundo da palavra, muitos concordarão que solidão não é estar sozinho em um quarto escuro. Solidão, como já é um clichê explicar, é aquele momento que todos sorriem, te abraçam e vibram notória alegria, mas você não está compartilhando do mesmo sentimento. Solidão é sentir a dor te acolher em situações impróprias e inesperadas, quando imagens invejáveis te fazem pensar “eu nunca vou passar por isso, nem ser feliz desse jeito”. Solidão é ouvir da boca de familiares o quão desprezível você é, enquanto esfregam em seu rosto sua juventude fracassada. Os colegas caçoarão da sua agonia, farão piadas e brincadeirinhas, sorrirão pelas costas e julgarão outras coisas. Talvez até te ofereçam ajuda, mas, cá entre nós, eles o fazem por fazer, já que lá no fundo estarão rindo e pensando “coitadinho, deixe ele acreditar que é capaz”.
Solidão também é se sentir inútil aos pés de uma pessoa, e inferior aos pés da outra. Não ter uma habilidade notável; não ser aclamado por muitos e não ter a devida devoção daquela pessoa que você sempre desejou. Solidão é sentir dor, uma dor profunda e massacrante, e já não ter com quem desabafar. Você ainda terá amigos, amigos fiéis e que estarão dispostos a te levantar. Mas, novamente, você já não pode desabafar com eles, porque alguns não entenderão a real situação e sequer te ajudarão direito; outros sofrerão com suas mágoas, já que dariam qualquer coisa para te fazer feliz, mas você não pode retribuir o sentimento com as mesmas proporções.
Solidão dói, e te faz desistir de uma porção de coisas, como metas, propósitos, rotina, e até mesmo os sonhos. Você não terá nada em que se apoiar, estará à beira de um colapso nervoso, tão estressado como uma bomba prestes a explodir, mas fingindo estar bem. Porque você vai sorrir para todos e enganá-los quanto aos seus sentimentos, voltará para sua casa, dirá “até logo” aos amigos e, na calada da noite, quando a solidão concreta e abstrata formarem uma única sensação, você apenas se encolherá na cama e afogará o rosto no travesseiro. A máscara vai cair neste momento, no entanto, cairá apenas para você você mesmo. Porque ninguém estará vendo, ninguém vai estar lá para te acolher, não haverá ninguem apto para tal façanha.
Você cairá no sonho. Será acordado pelo ritmo da vida e sequer terá a vontade de pôr os pés no chão. Vai sentir que algo morreu – temporariamente ou não – dentro de você mesmo, e então vai seguir em frente pela mais pura obrigação. Vai sorrir na cara das pessoas fingindo alegria, enganará os próprios amigos, vai ouvir as palavras massacrantes da família e identificar o peso que sentem por você ser um grande, maldito, e doentio estorvo. Aguentará as piadinhas dos colegas, e presenciará imagens pela rua que você deseja fazer parte de sua vida, mas que nunca farão.
Isto, ah, isto sim é solidão. Ou pelo menos, o meu tipo de solidão.

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