29 de abril de 2011

Idiot Adventures - A SAGA

Agradeço ao meu DOOCE pela imagem <3
Então fizeram a pergunta: porque você ainda está aqui depois de tanto tempo? E tomado por uma enorme surpresa, o garoto mais uma vez não soube responder àquela pergunta que ele também tanto se fazia. Não obter resposta para a pergunta talvez deixara de incomodá-lo por certo momento, mas, questionado por aquela pessoa, ele pôde perceber que o fato de não dispor de uma conclusão era mais grave do que ele imaginara. Ele havia ignorado a verdadeira essência da pergunta por tanto tempo que ela se tornou mais do que habitual e corriqueira, tornou-se desprezível.
Este foi seu erro, o grande e fatídico erro que o garoto cometeu.
Era preciso alguém iluminar seus olhos e seu caminho, mostrá-lo que aquela questão ainda permanecia viva. Era tudo o que o garoto precisava: uma luz, e um aconselhamento que o trouxesse de volta à dolorosa realidade. Tudo o que ele procurara em todos aqueles anos, todas as idealizações e conceitos boba e ingenuamente concebidos por sua imaginação leviana e afável. Desde o momento em que ele percebera sua real função naquele jogo chamado “vida”,  passou a criar um mundo de sonhos em que um dia tudo se realizaria, as histórias ganhariam vida e a importância que ele sempre almejou enfim seria alcançada. A companhia de um alguém idealizado ao seu lado, o lugar tranquilo e a cadeira diante do mundo das palavras, esses eram seus sonhos, essa era a ingênua e boba construção de vida.
E no entanto, o filme se mostrou amargurável e massacrante diante de sua existência: ele provou da mais pura e primitva solidão. Afundou-se num mundo de mágoas e desistência, e tudo, tudo o que lhe segurava ali, vivo e respirando, para seguir em frente, eram suas vãs filosofias. Seus inocentes e bondosos sonhos. O garoto passou a se sustentar somente disso, e envolto num mundo sombrio de amarguras e decadências, ele ainda mantinha a esperança dentro de si como uma leve faísca no fim de um abismo: ela ainda brilhava, ainda o aquecia e o afagava com braços calorosos e um aperto materno. “Você vai ficar bem, tudo vai se resolver, tudo - exatamente tudo -, vai se resolver. Eu garanto”, era o que ele imaginava ouvir dentro de sua cabeça, consolando o coração.
Tal como uma mesa frágil sustentada pelas pernas vacilantes, o garoto permaneceu agarrado nas esperanças e nos sonhos. Por tanto tempo, após eternidades – era assim que ele julgava – de dores e sofrimentos, ele permaneceu vivo. E então, o inesperado aconteceu: uma pequena parte daquilo que ele tanto almejava, aos poucos ocorreu, ele acabara sendo arrebatado por outra existência equivalente e perfeitamente encaixável.
O dia chegou. O garoto sorriu.
Mas não por tanto tempo.
Ele ainda era levado pela amargura, embora não enxergasse o quanto era feliz, e o quanto tinha entre as mãos a alegre escolha de enfim se tornar tudo aquilo que um dia tanto imaginara. Por tão pouco tempo, sua vida tomou rumos oscilantes – não por conta do acaso ou do destino, mas pelas escolhas erradas e da não valorização de tudo o que ele recebera -, vagando pelo céu da verdadeira alegria, e caindo pelo inferno da grande depressão e tristeza.
Por decisões erradas, e através de um tratamento doloroso e – até hoje, visto assim por ele – massacrante, impiedoso e desnecessário, o garoto caiu novamente, abandonado por toda a real felicidade que lhe acometera a vida e lhe prometeria prazos prolongados de paz e calmaria. O garoto, agora abandonado e destruído, mergulhou num mar ainda mais escuro e pronfundo, envolto por sombras e loucuras. Ele se culpava, e, pior que isso, ele chorava todas as noites ao lembrar dela. Dias, semanas, meses, anos, ou talvez uma vida inteira de lágrimas. Era isso o que ele sentia como promessa iminente para sua existência. As lágrimas caiam, e caiam, continuavam no mesmo fluxo todas as noites, todas as madrugadas, graças à lembrança vívida daquela distante felicidade que outrora o acolhera, e graças, principalmente, a todo o tratamento impiedoso e palavras dolorosas que ela proferira. A dor, era o seu único modo de viver.
E como não bastasse, do céu ao inferno, numa única noite, depois de tanto tempo, seus olhos reviveram e tomaram outro rumo. Por razões desconhecidas, o garoto sentiu que algo ali dentro estava vivo novamente, reacendendo, aquecendo e respirando. Numa única noite, ele ficou abalado e confuso. Diferente de antes, quando tudo ocorrera aos poucos, dessa vez ele era atingindo por algo indescritivelmente mais forte, indescritivelmente mais vívido. O garoto, a partir daí, mergulhou sem hesitações e medos, arriscando toda a sua vida, apostando todas as suas fichas. Naquele jogo perigoso, ele sabia, corria o sério risco de ver certas existências escaparem por seus dedos, corria o sério risco de aquecer uma parte de seu coração, e abandonar uma outra. Amor e amizade. Amor ou amizade? 
Fez sua escolha. Idiota. E ainda hoje, apesar de todos os acontecimentos que o trazem até aqui, escrevendo este texto, ele tem certeza: infelizmente, não se arrepende da escolha que fez. Embora se sinta desprezível e sem saídas, embora hoje perceba que perdeu muita coisa e agora está sem um propósito para seguir, o garoto ainda tem a total convicção que a maldita e fatídica escolha que fez, mesmo concedendo-lhe o grande troféu de moribundo e ignorante, o tornou – através dessa aprente ilusão – o homem mais feliz que um dia foi, e que jamais sonharia em ter sido.
Porque ele viveu, e entregou tudo de si. Talvez tenha cometido alguns erros, já que todo ser humano é suscetível a essa condição. Mas ele tentou corrigi-los, compensou com toda a forma de amor que um louco compensaria. Ignorou a própria vida, desprezou os amigos, jogou tudo de lado e apenas entregou tudo o que tinha, mesmo não sendo tudo o que um homem poderia oferecer, foi “apenas” tudo o que aquele homem poderia oferecer. E no final, talvez sendo acreditado, ou talvez não, o fim chegou de novo.
O garoto, mais uma vez, sorri irônico e deseja se afogar naquele mesmo mar de tristeza e pena. Mas, agora é tarde demais para tal atitude. Ele percebeu que cresceu, e está suficientemente grande para notar o quanto a vida segue, e o quanto o tempo não espera. Não há mais infantilidade o suficiente para assumir, novamente, o mesmo estágio decrépto de autopiedade e depressão. Ele cresceu, ficou mais forte e ao mesmo tempo, ainda mais fraco. Ela o ensinou isso. Ela o ensinou a viver. Ela o construiu como um homem mais sonhador e ingênuo, como uma garoto forte e seguro. Ela o trouxe de volta à vida, e o empurrou de volta ao abismo. Ela foi tudo e mais um pouco, a memória mais forte e quente que pôde existir no coração dele.
Ela o mostrou o amor. Ela o mostrou a destruição.
O garoto hoje vive, ainda respira e ainda caminha por aí. Mas, apenas caminha. Ele sabe o quanto tempo não pode perder para a tristeza e a solidão, continuará caminhando apenas por pura obrigação, pelo menos por ora. Apenas enquanto durar sua vontade de não sentir, apenas enquanto lutar contra a dor e o sofrimento, se deixando levar pela força e pelo combate à desistência. Contra a desistência da vida, pois aquela desistência que no momento habita nele é voltada às pessoas, e aos amores.
Aquele pobre e infeliz garoto, que um dia sentiu – e realmente aproveitou - a ilusão da felicidade extrema, hoje, não desistiu de viver, mas apenas desistiu de amar.

Um comentário:

  1. Amei a DOOOCE imagem, ela realmente é incrível *---* e o texto "Idiot Adventures - A SAGA" é praticamente sem comentários, uma coisa que já conta a vida de alguém*
    Beijos e abraços,
    Amanda F.

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